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Brasil saiu das cordas e entrou nas Olimpíadas, diz Bruninho após sufoco

Jogadores do Brasil celebram ponto contra a Argentina, no vôlei masculino nos Jogos Olímpicos de Tóquio - Julio Cesar Guimarães / COB
Jogadores do Brasil celebram ponto contra a Argentina, no vôlei masculino nos Jogos Olímpicos de Tóquio Imagem: Julio Cesar Guimarães / COB

Ana Flávia Oliveira e Demétrio Vecchioli

Do UOL, em São Paulo e em Tóquio

26/07/2021 15h42

Após o duríssimo jogo contra a Argentina, nesta segunda-feira (26), o levantador Bruninho disse que a partida pegada e difícil foi boa para colocar a seleção masculina de vôlei nas Olimpíadas. O Brasil começou perdendo por 2 a 0, mas conseguiu a virada, terminando o jogo em 3 a 2, com um tie-break muito disputado.

"Chegar no campeonato, né? Chegamos. Precisava de estar nas cordas, acho que podemos usar assim. Acho que hoje foi assim. Não dá para tirar o mérito da Argentina. Os caras estavam entregando a vida deles, impressionante a intensidade. Talvez a nossa intensidade podia ter sido maior", disse em entrevista ao UOL Esporte.

Bruninho, que foi substituído no terceiro set por Cachopa, admitiu que "se perdeu" diante da intensidade e volume de jogo dos argentinos. "Acho que dali, eu pelo menos, particularmente, me perdi um pouco no segundo set porque a gente não conseguia rodar todas as defesas, pelo volume de jogo que eles estavam, acabei escolhendo errado, tendo imprecisões, tive que sair, acho que faz parte".

A entrada de Fernando Cachopa no terceiro set ajudou o ataque brasileiro, com Leal, Lucarelli e Lucão, que não começaram jogando bem, mas brilharam ao lado de Wallace. A parcial terminou 25 a 16.

Do banco, Bruninho diz que fez um trabalho mental e conseguiu enxergar a partida de um outro ângulo. Ele voltou no quarto set, quando o Brasil perdia por 14 a 9. "Tem que sair, enxergar o jogo de fora, continuar mentalizando as coisas positivas que a gente tem que fazer. Foi isso, esperei. O Cachopa foi muito bem, mas naquele momento a gente precisava da inversão, o Alan entrou muito bem, e a gente acabou ficando. Então, é o trabalho que venho fazendo, particularmente, é uma coisa mental mesmo, um trabalho que o levantador precisa, mesmo quando não começa bem, ele precisa dar a volta por cima, mudar e acho, de certa maneira, a maturidade e a experiência me ajudam com isso."

Após a volta de Bruninho, o jogo encaixou e os brasileiros fecharam o quarto set em 25 a 21. "O importante é que mostrou mais uma vez o nosso diferencial, que é o time. Acho que todo mundo entrou em quadra hoje, todo mundo deu sua contribuição, todo mundo foi importante fora da quadra ou quando precisaram entrar. Nosso diferencial é esse. Sempre foi e é mais uma prova que deixa a gente confiante de que pode contar com todo mundo", analisou o levantador.

Leal brilhou no fim

Leal, do Brasil, em ataque contra a Argentina no duelo no vôlei masculino nos Jogos Olímpicos de Tóquio - Toru Hanai/Getty Images - Toru Hanai/Getty Images
Leal, do Brasil, em ataque contra a Argentina no duelo no vôlei masculino nos Jogos Olímpicos de Tóquio
Imagem: Toru Hanai/Getty Images

Bruno afirmou que as "imprecisões" que teve no início do jogo prejudicaram outra peça importante do time brasileiro, o ponteiro Leal, que também não começou bem, foi substituído por Douglas Souza e voltou decisivo no terceiro set.

"O Leal estava sofrendo com o meu set. Os caras estavam defendendo, estavam tocando. Quando ele volta no terceiro set, se torna aquele jogador decisivo, e a gente viu isso. No final do set, muitos desses bloqueios vão para cima dele, mas o importante é dar a bola no ponto dele, no ponto alto, que eu sei que ele vai estourar. Então você tem que entender o jogador no momento e como lidar, como gerenciar tudo isso ai".

"Ele é um homem de segurança. Você viu agora no final do tie-break. Eu sei que, muitas vezes, o bloqueio vai para cima dele, mas ele é um jogador que está acostumado com isso, que precisa receber bola. Os caras o marcaram bem, o Marcelo [técnico da Argentina] conhece bem ele, [os argentinos] o defenderam bem no início. Mas acho que ele também precisava entrar na Olimpíada, como quase todos. Eu também. Mas ele é muito importante neste esquema", avaliou o levantador em entrevista ao SporTV.

Leal não gostou muito de ser substituído, mas entendeu a decisão do treinador. "[A vitória] representa muito para mim. Fiquei 'puto' no principio porque não havia motivo de sair fora, mas foi decisão do nosso treinador. Acho que tem que respeitar isso. Fiquei um momento um pouco livre do jogo, mas senti que podia voltar. Acho que na última fase, no terceiro set joguei muito bem, tomei responsabilidade do time. Esse é o jeito que eu jogo, tenho que me soltar, ainda estou um pouco preso, mas aos poucos, estou chegando, estou chegando. Essa vitória para a seleção foi muito boa. Deu para ver nosso time lutar ponto a ponto", avaliou o ponteiro ao UOL.

Renan Dal Zotto explicou a decisão e exaltou a força do grupo. "Quem está mal, sai e volta bem, como foi o caso do Leal e do Bruninho. Os dois voltaram muito bem, fizeram a diferença. É a força do grupo também, cada um deu a sua contribuição hoje. O Douglas entrou bem no lugar do Leal, mas eu não podia perder o Leal. No primeiro jogo, ele saiu por questões técnicas e hoje, em algum momento ele estava ainda e tal. O Douglas entrou bem, poderia ter mantido o Douglas, eu tenho 100% de confiança no Douglas, que ele pode entrar a qualquer momento. Mas o Leal eu não podia perder. Ele voltou e voltou muito bem", exaltou o treinador, em entrevista ao UOL Esporte.

O Brasil volta à quadra na quarta-feira (28) contra a Rússia, às 9h45 (horário de Brasília). Apesar de conhecer a força do time russo, de França e Estados Unidos, próximos adversários no Grupo B, Bruninho prefere exaltar as qualidades dos brasileiros. "A gente está pronto. O time russo vem jogando bem, é um time alto, forte no bloqueio, com jogadores fortes no ataque também. Depois [tem] Estados Unidos e França... Só pedreira. A gente não tem muito o que escolher. Nesse momento é pensar mais no nosso lado, entender que hoje é uma grande lição de grupo e principalmente energia. Quando a gente colocou a nossa intensidade, as coisas mudaram."

Isso não quer dizer que ele não sinta a pressão da torcida por trazer uma medalha para o Brasil.

"Não é fácil pelo que a gente vive de ser durante muitos anos sempre um dos favoritos. As pessoas esperam muito da gente. A gente tem até uma brincadeira, uma hashtag. A gente está saindo do Brasil, ninguém diz 'traz uma medalha', é 'traz de ouro, traz de ouro'. A gente vive com isso. Então muitas vezes a gente tem que saber lidar com essa coisa. É humano. A gente tem nossos momentos de insegurança, de dificuldade."