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Meu objetivo é chegar na Olimpíada e pegar três finais, diz Flávia Saraiva

Flávia Saraiva foi bronze na final de individual geral do Pan de Lima, em 2019 - Luis ROBAYO / AFP
Flávia Saraiva foi bronze na final de individual geral do Pan de Lima, em 2019 Imagem: Luis ROBAYO / AFP

Demétrio Vecchioli

Do UOL, em São Paulo

10/06/2021 04h00

Flávia Saraiva mudou. Para ficar focada na preparação olímpica e protegida do coronavírus, a ginasta trocou o apartamento em que mora sozinha na Barra da Tijuca por um hotel contratado pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB), no mesmo quarteirão. A ideia era ficar dentro de uma "bolha" e minimizar o risco de contaminação.

Mas essa não foi a única mudança pela qual passou a caçula da delegação brasileira na Rio-16. Hoje, aos 21 anos, Flavinha continua com o sorriso aberto a cada resposta, como se tivesse sido treinada para ser miss, mas já não é mais a pré-adolescente que despontou na Olimpíada da Juventude de 2014 e nem a adolescente que cativou a torcida do país dois anos depois em sua cidade natal.

A pequena notável da ginástica artística brasileira agora é uma mulher. "É curioso, porque eu me vejo como uma menina, mas eu já tenho 21 anos, sou uma mulher. Gosto de ser carinhosa, de sorrir, de ser brincalhona. Vou ser assim para sempre. Mas me vejo mais madura em questão de concentração, foco, e por ter competido mais vezes. Hoje eu consigo focar mais nos meus objetivos", diz.

Flávia assumiu um papel de maior liderança da equipe no ciclo olímpico de Tóquio, se aproximando muito de Jade Barbosa, oito anos mais velha, de quem se tornou melhor amiga. "A gente fica juntas o tempo todo, sai de fim de semana. A gente é muito próxima, tem uma conexão muito grande. Eu nunca tive uma pessoa que me deu tantos conselhos que me ajudaram tanto. Ela é essa pessoa que está sempre do meu lado", diz.

Flavinha - Marcelo Machado de Melo/Estadão Conteúdo - Marcelo Machado de Melo/Estadão Conteúdo
Flávia Saraiva foi a caçula da delegação brasileira nos Jogos do Rio em 2016
Imagem: Marcelo Machado de Melo/Estadão Conteúdo

Em 2019, enquanto ainda moravam juntas, Flavinha e Jade voltaram do Mundial de Stuttgart (Alemanha) com sentimentos opostos. A mais velha torceu o tornozelo na apresentação de salto, seu primeiro exercício na rotação brasileira, e perdeu o restante da apresentação. Sem ela, o Brasil não somou pontos suficientes para conseguir a vaga olímpica por equipes, que parecia barbada. Cotado a pódio olímpico, o Brasil nem vai a Tóquio como time.

Pra piorar, Jade torceu o tornozelo durante o Pan no Rio e deu adeus ao sonho de ir ao Japão.

Mas Flavinha, individualmente, fez um bom Mundial. Ficou em sétimo no individual geral, sexto na trave e em quarto no solo. A esperada primeira medalha em Mundiais não veio, mas a brasileira se garantiu em Tóquio, onde vai brigar por repetir as três finais.

"Meu objetivo principal hoje é chegar nas Olimpíadas. Só vou acreditar quando eu estiver lá dentro competindo. Depois, pegar três finais. E quando você está na final você vai em busca do seu melhor resultado. Estamos indo para competição mais importante de nossas vidas", afirma.

Biles não é imbatível, diz brasileira

Em Tóquio, todo o protagonismo estará com Simone Biles, norte-americana que ganhou quatro medalhas de ouro no Rio e vai tentar no mínimo repetir a dose em Tóquio. Na Olimpíada de cinco anos atrás, Biles só não ganhou todas as provas porque, na trave, cometeu um deslize. Flavinha foi a última a se apresentar naquela final, mas não conseguiu uma nota melhor que a americana, que ficou com o bronze. A brasileira acabou em quinto.

Desde então, muita coisa pode ter mudado, mas não a superioridade de Biles. Mais do que rival, Flavia Saraiva é fã da americana, que recentemente se tornou a primeira mulher a acertar um Yurchenko com duplo mortal carpado no salto.

"Isso é incrível para a ginástica. Sou muito fã. Ela é muito corajosa, ela tem uma força e um talento incríveis. Tudo que ela tem possibilidade ela tem que fazer, mostrar para o mundo. Ela fez duplo mortal carpado e poucos meninos conseguem fazer. Isso é um empoderamento muito grande. Por mais que a gente compita entre si a gente torce por todas as atletas", diz Flavinha.

A brasileira nem cogita tentar o duplo mortal, diz que não tem capacidade para isso, mas não vê Biles como imbatível. É que Flavinha diz pensar a competição não como um evento de ginasta contra ginasta, mas de cada uma contra seus próprios limites.

"Eu nunca vou para ganhar de alguém. A gente vai para ganhar da gente mesmo, para fazer o nosso melhor. Eu nunca vou pensando que tenho que ganhar dessa menina ou daquela. Eu tenho que fazer minha competição. Não tenho que ligar para a competição das pessoas."