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Olhar Olímpico

Brasil não acompanha aumento de participação de mulheres nas Olimpíadas

Martine Grael e Kahena Kunze foram campeãs olímpicas da vela na Rio-2016 - REUTERS/Benoit Tessier
Martine Grael e Kahena Kunze foram campeãs olímpicas da vela na Rio-2016 Imagem: REUTERS/Benoit Tessier

14/07/2021 06h36

O Brasil não está acompanhando o processo mundial de aumento na proporção de atletas mulheres nos Jogos Olímpicos e, no caminho contrário, já tem um índice pior do que a média mundial. A delegação de 301 brasileiros que vai participar de Tóquio-2021 tem 46,5% de mulheres, pior número para uma edição fora de casa desde Sydney-2000.

A Olimpíada do Rio tem o pior índice do século, 45,8%, mas, na ocasião, a delegação foi moldada principalmente por convites dados ao Brasil como país-sede e, aí, pesou, por exemplo, o fato de haver convite para o hóquei masculino, não para o feminino.

A diminuição na proporção de mulheres no Time Brasil vem na contramão do aumento proporcionado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) e pelas federações internacionais no número de vagas em competições femininas. Modalidades que nem sequer tinham eventos para mulheres, como o boxe, tiveram de criá-las e, com o tempo, equiparar os números de provas e credenciais aos dos homens. Além disso, foram criadas provas mistas em esportes como atletismo e triatlo.

De Atenas-2004 para cá, o número de mulheres nos Jogos aumentou 44%, passando de 4,3 mil para cerca de 6,2 mil em Tóquio. Mas o número de brasileiras ficou longe de seguir essa evolução mundial. Eram 122 mulheres em Atenas e serão 140 agora. Aumento de apenas 14%. Na comparação com Pequim-2008, são agora oferecidas 1,6 mil novas vagas para mulheres, mas o Brasil classificou apenas 18 delas a mais.

Na comparação com o resto do mundo, o Brasil ficou para trás. Até Atlanta-1996, a proporção de mulheres no time brasileiro era menor do que na média mundial. Isso se inverteu em Sydney, quando o Brasil passou à vanguarda. Naquele ano, por exemplo, as mulheres eram 45,9% da delegação do Brasil e 38,2% da Olimpíada como um todo. No Rio, essa conta se inverteu por pouco (45,2% a 44,1%, mas havia a desculpa dos convites que o Brasil não podia escolher). Agora, a Olimpíada tem cerca 49% de mulheres e, o Brasil, só 46,5%.

Quando se observa apenas as modalidades individuais, o problema é ainda mais gritante. No atletismo, por exemplo, o Brasil classificou 21 homens e 21 mulheres para Pequim, em 2008. Enquanto houve evolução no masculino, chegando a 33 vagas agora para Tóquio, no feminino o número caiu para 20. Na natação, só três mulheres se classificaram para provas individuais. Em Pequim, foram oito.

Na ginástica artística, outra modalidade que é considerada um dos principais atrativos das Olimpíadas, o Brasil tinha equipe feminina em Pequim e só um ginasta homem. Agora é o contrário: enquanto o time masculino evoluiu a ponto de se classificar pela primeira vez, no feminino o país só conseguiu duas vagas individuais. No hipismo, modalidade mista, o Brasil convocou oito homens e duas mulheres em 2008. Agora, só homens: nove (incluindo dois reservas).

O Comitê Olímpico do Brasil afirma que tem investido no aumento da participação feminina em todas as frentes de atuação, estimulando a presença de mulheres como gestoras, treinadoras, profissionais multidisciplinares. Há pouco menos de um mês, a entidade criou a Coordenadoria de Esportes Femininos, liderada pela velejadora e medalhista olímpica Isabel Swan.