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Dono quer UFC à frente da NBA e relembra drama quando evento quase faliu

Jorge Corrêa

Do UOL, em São Paulo

13/11/2013 06h00

É difícil pensar no UFC sem lembrar da imagem do presidente Dana White à frente das entrevistas, fazendo anúncios e até falando alguns palavrões. Mas com apenas 9% da sociedade, não é ele quem assina o cheque. O dono do dinheiro são os irmãos Fertitta, que compraram o Ultimate à beira da falência em 2002 e deram seu total comando a White. Frank é mais discreto, mas Lorenzo é quem está sempre ao lado de Dana e tem uma relação mais próxima com os lutadores. Foi com ele que o UOL Esporte conversou sobre os 20 anos da franquia, completados na última terça-feira.

Lorenzo herdou o início de sua fortuna de seu pai, mas desde muito novo soube investir seu dinheiro, principalmente com entretenimento. Atualmente é dono de uma rede de hotéis-cassinos em Las Vegas e sempre apostou na promoção de eventos esportivos. Antes de comprar o UFC à beira da falência, já atuava no boxe e na Comissão Atlética do Estado de Nevada, sempre com esportes de combate. Mas ver um vale-tudo pela primeira vez mudou sua trajetória. Ele percebeu que aquilo era seu futuro.

Mesmo pouco afeito a longas entrevistas, Lorenzo falou com a reportagem por telefone por cerca de 30min, direto de seu escritório em Las Vegas no quartel-general do UFC e não refugou falar sobre nada. Relembrou o drama de quando, em 2004, o prejuízo com a franquia já somava US$ 40 milhões e ele esteve perto de vender a marca ou anunciar falência, quais são suas primeiras lembranças das artes marciais mistas, como é sua relação com Dana White e os lutadores e ainda revelou sua luta predileta.

Mas também conversamos sobre o futuro do Ultimate. Lorenzo projetou o UFC como a segunda maior liga de esporte profissional dos Estados Unidos em dois anos, deixando para trás o beisebol e o basquete. Confira abaixo a primeira parte da entrevista exclusiva.

UOL Esporte - Aqui no Brasil, o UFC tem pouca concorrência em relação a outros esportes, apenas futebol, mas nos EUA são muitas as ligas profissionais. Em que posição o UFC está entre NFL [futebol americano], NBA [basquete] e MLB [beisebol]?
Lorenzo Fertitta -
É exatamente isso. Temos uma enorme competitividade nos Estados Unidos e não é apenas com esporte profissional, o esporte universitário também faz muito sucesso por aqui. Fazemos pesquisas e estudos sérios, profundos e periódicos para saber nossa posição no mercado. Atualmente, somos o número 4. A NFL é uma gigante em primeiro lugar, depois vem a NBA e em seguida a MLB. Estamos em quarto, mas muito perto da MLB e da NBA. O beisebol, por exemplo, tem uma audiência muito envelhecida. Em pouco tempo, em no máximo dois anos, vamos ser os segundos e estamos trabalhando duro para isso.

Sabemos que você é muito próximo de Vitor Belfort. Você tem uma relação como essa com algum outro lutador? Como você ajuda o trabalho do Dana White e do Joe Silva [responsável por casar as lutas]?
Não é só do Vitor que sou próximo, me relaciono bem com muitos lutadores, principalmente brasileiros, como Lyoto Machida, Shogun, Minotauro. Eu fico mais na negociação de contratos, faço grandes reuniões. Muitas vezes Dana não tem tempo para isso e sempre ajudo. Já Joe é focado em montar os cards e achar boas revelações para nós. Mas para uma empresa grande como a nossa, é importante que cada um tenha foco em sua função e é assim que conseguimos chegar até aqui.

Qual é sua primeira memória do UFC? Quando foi a primeira vez que você assistiu a uma luta de vale-tudo?
A primeira vez que vi o UFC foi em 1994. Já era um grande fã de boxe e um amigo me trouxe uma fita VHS do UFC 2, porque sabia que eu gostava de lutas. Achei aquilo incrível, fiquei realmente impressionado com o que eu vi. Era tudo muito competitivo, a fórmula era ótima. Não tinha como dar errado. Fui criado em Las Vegas, então sempre tive uma educação de lutas, gostei na hora.

E qual foi sua impressão daquele vídeo?
Fiquei maravilhado com a maneira que Royce Gracie dominava seus adversários, muito maiores que ele, usando aquela arte marcial que eu não conhecia. Não sabia nada de jiu-jítsu e até comecei a praticar depois que vi tudo aquilo.

LUTA FAVORITA

  • Tirando Forrest Griffin contra Stephan Bonnar na final do TUF 1, qual é sua luta preferida na história do UFC? Qual é seu lutador favorito? Com certeza Shogun x Hendo. Foi uma luta incrível, com oportunidades dos dois lados, dois guerreiros que não desistiam por nada, sempre indo para frente. Foi uma verdadeira guerra. Acho que não posso falar que é meu lutador favorito [risos]. Mas gosto de lutadores que se entregam a luta inteira, não querem saber se podem ser nocauteados, como Chuck Liddell ou Shogun. O que eu e os fãs gostamos.

Quando e por que você decidiu comprar o UFC?
Eu trabalhava para a Comissão Atlética de Nevada, regulamentando lutas e eventos. Estava tentando regulamentar um novo esporte de combate que misturasse judô, taekwondo e boxe, algo que pudesse ser internacional e chegasse a uma Olimpíada. Então percebemos que o UFC já fazia isso e seria a melhor maneira de conseguirmos essa internacionalização. Eles já tinham começado esse trabalho para nós.

Por que você e seu irmão escolheram Dana White para dirigir o UFC? Quais são as qualidades dele como presidente?
Somos grandes amigos desde muito cedo, sempre confiei nele. Dana pode não ter uma educação formal em negócios, nunca fez MBA, não estudou em Harvard. No entanto, ele sempre teve muito tino para trabalhar com lutas e já era empresário de lutadores. Mais que isso, ele é um workaholic, sempre trabalhou muito, sempre foi muito dedicado. Ele encontrou uma maneira de conversar com os atletas, negociar com eles, saber o que eles queriam, para que pudessem dar sem melhor no octógono.

Qual é seu pior momento como dono do UFC? E o melhor?
Em tanto tempo, claro que tivemos muitos altos e baixos. Acho que o pior momento foi em 2004, quando o prejuízo era grande e tínhamos de decidir se venderíamos ou não a companhia. Ainda bem que decidimos ficar com ela. E até difícil falar o melhor momento, tivemos grandes momentos. Mas posso destacar dois. O primeiro é o UFC 100, quando todo mundo nos assistiu, o mundo inteiro, batemos recorde de PPV nos EUA, foi incrível. A luta do GSP contra o Jake Shields, no estádio em Toronto, também foi algo que não consigo esquecer. Aquela multidão de 55 mil pessoas, até hoje me lembro daquela imagem.