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Galhardo revela que não quis mais jogar após morte da avó: "Situação bem intensa"

Artilheiro da atual edição do Brasileirão diz que dedica todos os gols à avó Ottilia, que morreu no ano passado - Pedro H. Tesch/AGIF
Artilheiro da atual edição do Brasileirão diz que dedica todos os gols à avó Ottilia, que morreu no ano passado Imagem: Pedro H. Tesch/AGIF

10/11/2020 09h00

De gol em gol, Thiago Galhardo, aos 31 anos, transformou 2020 no melhor ano da carreira. Não há qualquer exagero na afirmação. Para além dos números - é o principal artilheiro do país e do Brasileirão - o atleta vive uma metamorfose no Beira Rio: mudança de posição e ida às redes com frequência.

Em entrevista ao LANCE!, Galhardo afirma que sonha em ser convocado à seleção brasileira e comenta suas expectativas para a reta final da temporada no Internacional.

Antes de vestir as cores do Colorado, Thiago Galhardo rodou vários clubes no futebol brasileiro e teve bons momentos no Vasco e Ceará. Mas foi no Sul onde o meia-atacante atingiu um outro patamar e assumiu papel de protagonismo. Até o momento, foram 21 gols e nove assistências em 39 jogos pelo clube gaúcho. Perguntado sobre a razão desse "casamento perfeito", Galhardo creditou a maturidade e o forte elenco da equipe.

"Acho que a maturidade é um ponto muito positivo a se contar, a questão dos meus filhos e a mudança de pensamentos e atitudes. E jogar em um nível alto como no Inter, que tem excelentes jogadores e de seleção, facilita o entendimento. Quando você tem vários jogadores que têm o mesmo pensamento que você, isso facilita que o seu jogo sobressaia e apareça."

Outra mudança do "Galhardo versão 2020" em relação aos anos anteriores é a presença frequente na área, mais como um atacante do que um meia. Sobre essa mudança de posicionamento, o atleta explicou que a adaptação foi mais fácil graças aos companheiros de equipe e ao ex-técnico Eduardo Coudet.

"Eu já tinha feito jogos pelo Vasco e pelo Ceará de falso 9 e fui me adaptando. Também tive a maturidade de tentar aprender com Guerrero e D'Alessandro, que são jogadores com o pensamento diferente e multicampeões. No Inter, jogamos com dois na frente lado a lado, e o Chacho (Coudet) dava muita liberdade de um entrar e o outro sair. Quando o treinador define que você é o 9 e tem que ficar, aí sim poderia ser mais difícil, porque não é minha característica ficar de costas e segurar a bola."

A relação com a família é outro assunto que mexe bastante com Thiago Galhardo. Principalmente quando se trata da falecida avó Ottilia, que morreu em novembro de 2019. Além de usar a camisa 17 em alusão à data do falecimento, o jogador homenageia a avó em todos os gols e se emociona ao lembrar da época em que queria ficar perto dela, mas não pôde devido aos compromissos com o Ceará.

"A perda da minha avó foi uma coisa bem complicada, pelo momento que eu passava e a preocupação que eu tinha com minha mãe, porque não sabia se ela iria suportar. Foi uma situação bem intensa. Confesso que naquela época, eu não queria mais jogar, eu queria terminar o ano com minha avó e minha mãe. Já tinha visto que ela estava se despedindo de nós e eu queria estar próximo disso, mas, infelizmente, não consegui. Eu dedico todos os gols pra minha avó e agradeço a Deus, e tem dado certo."

Confira outros tópicos da entrevista de Thiago Galhardo ao L!:

IMPORTÂNCIA DE TER SEQUÊNCIA

Todo jogador, pra saber se vai render ou não, ele precisa ter uma sequência. Eu sempre reclamei disso e sempre que tive sequência, consegui ter um bom retorno, visto no Ceará e agora no Inter. E a sequência não é só o cara entrar de titular. Ele pode jogar 30 minutos, mas em todos os jogos, que vai conseguir ganhar uma cancha e entender com o time o modelo de jogo. Quando ele joga um jogo, o outro não, joga mais 20 minutos e fica dois fora, assim é um pouco mais complicado e aconteceu comigo no Vasco, com alguns treinadores.

COUDET NO DIA A DIA

Fora do trabalho, o Chacho é um cara totalmente extrovertido, brincalhão, aceitava brincadeira e zoava a gente. Mas, quando entra para o trabalho, ele nos cobrava exatamente como na beira do campo. E a diferença que eu vejo é a questão da intensidade, nos treinamentos e nos jogos. Ele sempre deixou bem claro que todos jogadores são importantes e que ia cobrar todos da mesma forma, porque ele dá o treino para todos iguais.

TABU DO INTER DE 41 ANOS SEM BRASILEIRÃO

Um time da grandeza do Inter quer ganhar todos os campeonatos. Teoricamente, todo mundo quer a Libertadores e o Mundial, mas se for ver pelo clube, pelo tempo que o Inter não conquista o Brasileiro, acho que iria ficar marcado. A gente vive uma regularidade muito grande dentro da competição e no ano inteiro. No mata-mata, você não pode errar, mas nos pontos corridos, você consegue ter um erro ou outro e se recuperar.

PRINCIPAIS RIVAIS NO BRASILEIRO

Atlético-MG, São Paulo, Flamengo, Palmeiras, e ainda colocaria o Santos e o Fluminense. Odair vem fazendo um grande trabalho e tem jogadores lá que cheiram a título, como o Nenê e o Fred. Então a gente não pode destacar. Tem o Santos também que vem fazendo bons campeonatos, tem o Marinho em boa fase e o Cuca, que é um grande treinador. Acho que daqui a cinco ou seis rodadas vão definir os quatro que vão brigar até final.

SELEÇÃO BRASILEIRA

Eu sou muito realista. Hoje eu sou o artilheiro do país, artilheiro do Brasileiro, maior assistente, jogador com mais participações diretas em gol. São números que te deixam e te fazem sonhar. Acho que tenho demonstrado ter capacidade de estar lá, de ter uma oportunidade. Se for, de fato, os melhores do momento, acho que tenho sim a chance de poder estar lá. Vivi essa expectativa (na última convocação), estava voando, mas isso não me deixa triste ou magoado. Pelo contrário, vou continuar trabalhando e fazendo gols para que possa surgir uma dúvida na cabeça do Tite.

BOCA JUNIORS PELA FRENTE

É difícil falar agora, porque não sabemos como vamos estar até lá. Espero que não percamos ninguém por lesão, mas todo time que pensa em ser campeão quer grandes confrontos. Eu confesso que sempre quero jogar esses grandes jogos, um River no Monumental, o Boca na La Bombonera. Mesmo que seja sem torcida, por conta da pandemia, é um sonho de criança poder estar ali. Óbvio que a gente projeta passar, sabemos que é um duelo muito difícil, mas imagino que iremos fazer o que fazemos em todos os jogos, que é jogar igualmente, seja em casa ou fora.

SECA DE GOLS NA LIBERTA

Eu sou bem tranquilo em relação a isso, eu quero vencer. Troco os meus gols por qualquer título, não tenho essa vaidade individual. Óbvio que por ter marcado em todas as competições até agora, penso em fazer gol na Libertadores, até porque nunca fiz. Mas nada que me incomode, se acontecer, vai sair com naturalidade. Quem sabe, Deus guardou um momento especial para eu ajudar o Inter nessa fase. Mas o importante é que o grupo vença, independente de quem fizer o gol.

CALENDÁRIO CHEIO E BAIXAS NO ELENCO

O elenco do Inter é curto, o Chacho falava muito isso, ainda mais com as graves lesões que tivemos. Foram três titulares que vinham jogando e jogadores de seleção (Guerreiro, Saravia, Boschilia). Creio que sempre vai ter uma baixa ou outra, uma lesão muscular, um cansaço, uma fadiga. É normal, é natural. A sequência de jogos é muito pesada e ninguém quer ser poupado. Mas eu tenho certeza que teremos um time forte em campo nas decisões e nas competições que forem necessárias.

FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Por ser EAD (ensino a distância), eu não tenho tanto problema. Eu salvo a aula e vou assistindo nas concentrações e viagens. As notas são boas. Acho que o modo EAD é mais fácil, não te exige tanto. Ainda não comecei as aulas práticas e ainda estou meio tenso com isso, porque vai ser tudo muito novo. Mas por enquanto, está sendo muito tranquilo.

PLANOS PARA O FUTURO

A faculdade é simplesmente para ser exemplo para meus filhos. Eu comecei a faculdade para cobrar eles e mostrar que o pai deles é um ex-concursado da Petrobrás, que conseguiu ser jogador de futebol, tem ensino médio completo, tem uma pós-graduação. Junto a isso, quero tirar a carteirinha da CBF de treinador. Tenho alguns planos de carreira, faço aulas de inglês, de espanhol, de libras. Hoje eu vivo totalmente para o futebol para dar as melhores coisas para minha família, e quando me aposentar, vou viver para minha família e desfrutar de tudo que o futebol me deu.

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