Choro, riso e fuga da mídia: como vítima recebeu sentença de Daniel Alves

Eram 10h05 no horário de Barcelona (6h05 no horário de Brasília) quando uma foto foi enviada do Tribunal Superior de Justiça de Barcelona para um escritório de advocacia no centro da cidade: era uma imagem da última página da sentença que condenou Daniel Alves a quatro anos e seis meses de prisão por estupro.

A foto foi enviada por David Saéz, procurador que representava a mulher que acusa Daniel Alves no tribunal, e recebida por Ester Garcia López, advogada da denunciante.

Ester abriu a foto e deu a notícia para sua cliente, que estava na mesma sala, a poucos metros de distância. As duas optaram por não ir ao tribunal ouvir a sentença pessoalmente. A primeira reação foi repetir por três vezes a mesma frase, de três palavras.

Acreditaram em mim, acreditaram em mim, acreditaram em mim.

A mesma mulher que repetia incansavelmente as frases acima chorava copiosamente nos braços de uma amiga na boate Sutton, em 30 de dezembro de 2022. Ela não queria contar à polícia que havia sido estuprada por um famoso jogador. Mal conseguia falar sobre o que tinha acontecido, só balbuciava a seguinte frase: "Não vão acreditar em mim".

O gerente da discoteca explicou a ela a importância de fazer a denúncia naquele momento, argumento endossado por agentes de polícia que chegaram ao local. Apavorada e com a certeza de que a denúncia lhe faria mais mal que bem, aceitou contar que, naquela noite, Daniel Alves a havia estuprado.

Na poltrona de madeira de uma das salas do grande escritório no centro de Barcelona, a mesma mulher desabou ao ouvir da boca de sua advogada a sentença de seu algoz. Se viu sentindo coisas divergentes ao mesmo tempo: chorou, sorriu, paralisou. E repetiu mais uma vez: "Acreditaram em mim".

Ao UOL, a advogada Ester Garcia López afirma que vai recorrer à sentença, por considerar a pena branda para a gravidade do crime. A Audiência de Barcelona considerou Daniel Alves culpado de uma agressão sexual, mas a pena aplicada — depois de considerado o atenuante de reparação de danos — ficou abaixo do mínimo estipulado pela lei.

"Que isso acabe já, que isso acabe já", disse a vítima, outrora denunciante, ao ouvir a palavra "recorrer". Advogada e cliente devem ter uma conversa nos próximos dias, com mais calma, para retomar o assunto.

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A estratégia de ficarem no escritório de Ester foi tomada em conjunto pela advogada e a cliente: a ideia era evitar que ela soubesse da sentença pelos meios de comunicação ou redes sociais.

A tática funcionou em partes. Tão logo a sentença foi ditada, repórteres e cinegrafistas de TVs foram para a porta do escritório da advogada. A vítima teve de esperar durante horas para deixar o local, e só conseguiu fazê-lo disfarçada e com ajuda de uma funcionária do escritório.

Era o fim de um dia que começou bem antes das 10h05 locais, com uma noite sem dormir e muita ansiedade. O fim de um caminho que começou no fim de 2022, quando a mulher então com 23 anos pensou que ninguém acreditaria nela.

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