Jogadoras cogitam ir à Justiça por salários após WO; presidente se explica
Jogadoras do Real Ariquemes afirmaram ao UOL que cogitam entrar na Justiça caso o clube não pague os salários atrasados.
O que aconteceu
Duas jogadoras relataram atraso salarial de dois meses, referentes aos meses de abril e maio. O elenco estabeleceu o dia de ontem (12), data do jogo contra o Santos, pela 15ª e última rodada do Brasileirão feminino, como data-limite para pagamento, mas a diretoria não cumpriu com a exigência. Elas resolveram não entrar em campo, perdendo por WO.
As atletas enfatizaram que o grupo prosseguirá com as reivindicações se a situação não se resolver "amigavelmente". Elas preferiram não se identificar por medo de represálias.
A falta de pagamento se repete no time masculino. Um atleta do clube disse que sete jogadores e membros da comissão técnica foram mandados embora recentemente sem receber salários.
Um dos jogadores afirmou que o grupo também pretende fazer um protesto caso o atraso persista. "Vamos ver o que vai acontecer nos próximos dias", concluiu — o Real Ariquemes volta a campo amanhã (14) para enfrentar o União Rondonópolis, pela Série D.
Ele disparou que "não tem motivo para o pagamento estar atrasado" e que a situação financeira do clube também afeta o transporte para treinos. "Veio dinheiro da Copa do Brasil, da Copa Verde e da Série D. Não está tendo nem diesel para treinar, motorista não vem porque não está tendo pagamento", acusou.
O presidente do clube, José Francisco Pinheiro, assegurou ao UOL que quitará todas pendências e criticou a decisão do elenco feminino de perder por WO. O dirigente disse que a programação do Real Ariquemes é de pagar os salários atrasados até o final de junho.
O que as jogadoras disseram
Jogadora estuda entrar na Justiça: "Caso o clube não acerte as nossas pendências de salários, buscaremos os nossos direitos judicialmente".
Decisão individual: "Hoje, a nossa briga é para receber o que é nosso de direito. Caso isso não seja feito de uma maneira amigável, todas nós sabemos que podemos ir atrás dos nossos direitos judicialmente. Caso os pagamentos não aconteçam, acredito que cada atleta, individualmente, vai tomar sua decisão de procurar ter os valores recebidos mediante a Justiça ou não".
Promessa da diretoria: "O presidente começou a pagar um salário ontem, mas ele não concluiu para todas as meninas. Segundo ele, houve alguns problemas para conseguir depositar um salário para todas as atletas. A diretoria alega que os pagamentos serão feitos, mas a gente não recebeu um prazo".
Atmosfera do clube: "O clima fica um pouco tenso devido tanto ao protesto quanto a gente ter sido paciente".
Repercussão do protesto: "A gente sabe que, ao mesmo tempo que muitas pessoas vão nos acolher, outras também vão nos julgar. A partir do momento que tomamos a nossa decisão, soubemos que teríamos que ter a cabeça no lugar e que teriam os dois lados da moeda. Até o momento, as pessoas estão nos apoiando".
Presidente vê 'mancha na história'
O presidente do Real Ariquemes confirmou o atraso de dois meses de salário e criticou a decisão do elenco feminino de perder por WO. Ele disse que respeita o protesto, mas disparou que não entrar em campo é uma "falta de respeito" e que "mancha a história do futebol".
Após o WO, o time feminino foi ao gramado no Estádio Aluizio Ferreira, em Porto Velho (RO), vestindo preto, em protesto. As jogadoras também fizeram publicações conjuntas nas redes sociais reivindicando melhorias na gestão e cobrando mudanças para as próximas gerações.
O dirigente alegou que é o "primeiro ano de situação financeira complicada" e que contava com mais dinheiro para a temporada. Ele projetou que a equipe masculina conseguiria passar da 1ª fase da Copa do Brasil (foi eliminado pelo Criciúma), além de chegar na final do Campeonato Rondoniense (caiu na semi para o Ji-Paraná).
José Francisco também afirmou que investidores se afastaram pelos resultados ruins, "principalmente do feminino". O Real Ariquemes, tricampeão estadual, ficou na vice-lanterna do Brasileirão Feminino A1, enquanto o time masculino é o último do Grupo E da Série D.
O dirigente assegurou que cumprirá com as obrigações e que está em busca de parcerias para viabilizar o pagamento. Segundo ele, a folha salarial do Real Ariquemes é de cerca de R$ 190 mil por mês, com os dois elencos somados, e pretende quitar as pendências até o final do mês.
Sobre o WO, o presidente disse que a diretoria ainda está estudando o que pode fazer. "A assessoria jurídica ainda não emitiu parecer", completou.
O que o presidente do clube disse
Falta de respeito: "Na nossa visão, apesar de respeitar o protesto das meninas? Tudo bem querer erguer um cartaz, não vamos negar nem incriminar ninguém, mas não entrar no jogo é falta de respeito com torcedores, tanto do Real quanto do Santos".
Mancha na história: "É uma punição para o clube, história ruim no currículo delas. Tentei convencê-las, mas algumas cabeças não deram chance, manchando a história do futebol".
Atraso no pagamento: "Dois meses de atraso, tanto para o masculino como para o feminino. É a realidade dos clubes da região Norte, sem apoio financeiro de governo e de entidades. É minha sétima temporada à frente do Real Ariquemes, primeiro ano de situação financeiramente complicada. Programação de até ao final do mês pagar os dois salários atrasados, de abril e maio".
Tentativa de negociação: "Teve [conversa] até quando elas estavam no vestiário. Estava tentando convencer que quitaria um mês de salário".
Promessa e repasse da CBF: "Inclusive teve um repasse da CBF que entrou hoje, na hora do jogo. A CBF estava com um repasse atrasado, da cota da Série D do masculino. Tinha R$ 180 mil a receber, repasse foi de R$ 95 mil e pagaria um mês do salário delas. Mas estavam com proposta de não jogar, mesmo com a promessa de quitar um mês e fazer uma programação do 2º salário".
Situação no elenco masculino: "Tivemos uma conversa com o grupo do masculino, que entendeu a situação atual. Os que estão reclamando mais e cobrando a gente são os jogadores que dispensamos quando terminou o Estadual. Os demais estão tranquilos, buscando amenizar a situação."
Governo apoia jogadoras
O Ministério do Esporte manifestou em nota seu apoio e solidariedade ao elenco feminino do Real Ariquemes. O comunicado oficial destacou que o protesto das atletas "demonstra a força e a união em defender seus direitos trabalhistas e reforça a importância do respeito à dignidade humana e à profissão de atleta".
A pasta também tratou como "inadmissível" que atrasos salariais ainda ocorram no país. O texto completou que o episódio é um alerta para a "necessidade de investimentos e ações de promoção do esporte feminino no Brasil".