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Campeão do mundo, Scolari disse 'não' ao Barcelona após deixar a seleção

Luis Felipe Scolari, o Felipão, durante Athletico x Coritiba - Gabriel Machado/AGIF
Luis Felipe Scolari, o Felipão, durante Athletico x Coritiba Imagem: Gabriel Machado/AGIF

Colaboração para o UOL, em Barcelona

28/10/2022 04h00

A vasta biografia de Luiz Felipe Scolari terá mais um capítulo no sábado, com a final da Copa Libertadores. No comando do Athletico Paranaense, o técnico lutará para ser o primeiro a conquistar o torneio à frente de três clubes diferentes. Mas há uma passagem da carreira do gaúcho, de quase duas décadas atrás, que é pouco conhecida no Brasil.

No fim de 2003, Felipão recebeu uma sondagem do Barcelona e disse "não". O clube catalão vivia uma fase turbulenta após perder por 5 a 1 para o Málaga e ser derrotado por 2 a 1 pelo Real Madrid, no Camp Nou, com gols de Ronaldo e Roberto Carlos. O técnico Frank Rijkaard, contratado quatro meses antes, era questionado pela torcida, pela imprensa e por membros da diretoria.

Foi um desses dirigentes, o então vice-presidente Sandro Rosell, que teve a ideia. "Ele queria demitir o Rijkaard imediatamente após a derrota em Málaga, mas o presidente Joan Laporta era contra. Os dois entraram em conflito por isso", lembra o jornalista Ramon Besa, editor de esportes do El País, que na época acompanhava o dia-a-dia do clube.

O plano de Rosell estava traçado: demitir Rijkaard, colocar como interino o ex-zagueiro Pere Gratacós -então no Barça B- e seduzir Scolari para fechar com o clube em janeiro. Mesmo sem o consentimento de Laporta, ele conseguiu aliados para começar a colocar o plano em marcha, e entrou em contato com o Felipão. Os dois se conheciam bem: Rosell havia trabalhado na Nike e tinha trânsito livre na concentração e no vestiário da seleção brasileira durante a Copa de 2002.

Apesar da amizade, o "não" de Scolari foi imediato. Ele havia assumido a seleção de Portugal no início de 2003, com contrato até o fim da Eurocopa, em julho do ano seguinte. O brasileiro negou-se até mesmo a ouvir qual era a proposta financeira do Barcelona: agradeceu a Rosell pelo interesse, mas disse que não romperia o acordo com os portugueses.

Sem o Barcelona, a carreira de Scolari seguiu em Portugal. Com ele, a seleção chegou à final da Eurocopa de 2004, perdendo o título em casa para a Grécia. De contrato renovado por mais dois anos, ele ainda disputou a Copa do Mundo de 2006 e levou a equipe lusitana à fase semifinal. Após a eliminação nas quartas de final da Euro-2008, contra a Alemanha, Scolari finalmente foi treinar um clube europeu, o Chelsea.

Com o "não" do treinador brasileiro, o Barcelona manteve Rijkaard. O holandês seguiu no comando do time, os resultados começaram a aparecer -sobretudo fruto da adaptação de Ronaldinho e da chegada de Edgar Davids, que "arrumou" o meio-campo-, e o discurso de Rosell, que pedia uma mudança, foi enfraquecendo.

Com a benção de Laporta, Rijkaard ficou no comando do Barcelona até 2008, quando o clube decidiu substituí-lo pelo então inexperiente Pep Guardiola. O holandês encerrou a passagem pela Catalunha com dois títulos da Liga Espanha (2004/05 e 2005/06) e uma Champions League (2005/06).