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Felipão, Mano e Dorival: veteranos freiam euforia por técnicos estrangeiros

Dorival Júnior, técnico do Flamengo, observa jogadores durante jogo contra o São Paulo - Sergio Moraes/Reuters
Dorival Júnior, técnico do Flamengo, observa jogadores durante jogo contra o São Paulo Imagem: Sergio Moraes/Reuters

Alexandre Araújo, Lohanna Lima e Marinho Saldanha

Do UOL no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre

15/10/2022 04h00

Virou costume no futebol brasileiro. A cada posto vago de treinador em grandes clubes, uma enxurrada de possibilidades de estrangeiros aparece. Mas três técnicos experientes quebraram essa rotina e mostraram que a euforia por gringos no reservado nem sempre dá certo. Luiz Felipe Scolari, Mano Menezes e Dorival Júnior estão provando que é possível fazer bons trabalhos falando português, sem nem mesmo o sotaque luso.

Felipão não foi contratado pelo Athletico-PR para ser treinador. O objetivo era ser diretor técnico. Mas a saída de Fábio Carille abriu espaço para que o pentacampeão mundial pela seleção brasileira assumisse e guiasse a equipe até a final da Copa Libertadores.

Dorival substituiu Paulo Sousa, contratado no embalo do sucesso de Jorge Jesus no Flamengo. Rapidamente superou desconfianças e levou o time às finais da Libertadores e da Copa do Brasil.

Já Mano interrompeu uma sequência de treinadores estrangeiros no Inter. Antes dele, quatro dos últimos cinco comandantes de campo eram de outras nacionalidades. Vice-líder do Brasileirão, ele estabilizou o ambiente no Sul, deu nova cara ao time e até já renovou contrato para 2023.

Felipão: trabalho de convencimento de Mattos e Petraglia

Felipão, técnico do Athletico, na partida contra o Corinthians, pelo Brasileirão - Ettore Chiereguini/AGIF - Ettore Chiereguini/AGIF
Imagem: Ettore Chiereguini/AGIF

Depois de insucessos no Cruzeiro e no Grêmio, Felipão decidiu aceitar a proposta do Athletico-PR em maio desde ano. O clube havia iniciado o ano com Alberto Valentim sob forte controvérsia da torcida, mesmo com a conquista do título da Copa Sul-Americana no ano anterior.

A goleada sofrida na final da Copa do Brasil para o Atlético-MG no primeiro jogo, por 4 a 1, pesou o clima para o treinador, que não conseguiu reverter no segundo jogo. O Athletico decidiu mantê-lo, mas a goleada para o São Paulo por 4 a 0, na estreia do Brasileirão, findou a passagem dele pelo Furacão. O substituto foi Fábio Carille, que ficou no cargo por apenas 21 dias.

Inicialmente, Felipão chegou ao clube para ser diretor técnico, mas logo entendeu que a missão do diretor de futebol Alexandre Mattos e do presidente Mário Celso Petraglia em busca de um comandante não caminhava bem.

Assim, uma semana após o anúncio, Scolari sinalizou que poderia acumular as duas funções após longas conversas com Mattos e Petraglia. No G6 do Campeonato Brasileiro e na final da Libertadores após 17 anos, Felipão retomou o protagonismo nacional após quatro anos, quando em 2018 foi campeão brasileiro pelo Palmeiras.

A tendência, no entanto, é que ele termine a temporada e se aposente dos gramados, desempenhando o cargo de dirigente combinado inicialmente com a cúpula do Furacão.

Dorival quebra aposta em gringo

Dorival Júnior comanda o Flamengo na primeira final da Copa do Brasil, contra o Corinthians - Marcello Zambrana/AGIF - Marcello Zambrana/AGIF
Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

A demissão de Paulo Sousa aconteceu em meio a uma pressão cada vez maior, tanto internamente quanto nas arquibancadas. Mesmo quando acontecia um resultado positivo, os protestos contra o treinador e membros da diretoria eram constantes a cada apito final.

A cúpula entendia que, neste contexto, a melhor saída seria um treinador que estivesse no futebol brasileiro, buscando também um tempo menor de adaptação — movimento parecido com o feito na saída de Domenec e contratação de Rogério Ceni.

À época, houve uma consulta por Cuca, que ainda estava no mercado, mas sem avanço. O Flamengo, então, passou a analisar profissionais que estivessem também empregados, e o nome de Dorival Júnior ganhou força.

O acerto não demorou a acontecer, e foi oficializado pouco após o anúncio da demissão de Paulo Sousa, outro ponto que se repetiu nesta movimentação. Abel Braga pediu demissão porque o Rubro-Negro já conversava com Jesus.

Mano interrompe sequência gringa no Inter

Mano Menezes sorri durante Flamengo x Inter, jogo do Campeonato Brasileiro - Thiago Ribeiro/AGIF - Thiago Ribeiro/AGIF
Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

O Internacional serve bem como exemplo de um time que afastou a preferência por estrangeiros a partir de um bom trabalho de um treinador experiente e brasileiro. Foi Mano Menezes o responsável por quebrar a sequência de gringos no comando.

Depois de Coudet, em 2020, Abel Braga foi quem levou o Inter ao vice-campeonato do Brasileirão — o mais perto de um título que o time chegou recentemente. Mas a atual direção já tinha acerto com Miguel Ángel Ramírez firmado antes mesmo de ser eleita, e na virada para a temporada 2021 anunciou o espanhol.

Ramírez não conseguiu atingir o nível esperado e também não teve tempo de implantar seu estilo. Com pouco mais de três meses de clube, acabou demitido. O sucessor também era de outro país, ainda que já tivesse trabalhado no próprio Inter. O uruguaio Diego Aguirre concluiu a temporada também sem conseguir o objetivo de colocar a equipe na Libertadores.

Para 2022 veio mais um uruguaio. Dessa vez foi Alexander 'Cacique' Medina, que chegou respaldado pelo bom trabalho feito no Talleres, da Argentina. Porém, a exemplo de seus antecessores, o desempenho foi tímido. Fora da Copa do Brasil e da final do Estadual, ele foi demitido em abril.

Mano Menezes surgiu como uma forma de dar estabilidade ao grupo. O fato de conhecer as peculiaridades do futebol brasileiro e dos jogadores pesou na escolha da direção gaúcha. Mano já tinha trabalhado no Inter e foi escolhido por ser um técnico que poderia sustentar um ambiente tenso na relação com a torcida e dar resultados imediatamente.

Vale lembrar ainda que Mano Menezes é o primeiro treinador a encerrar uma temporada e começar outra desde Odair Hellmann, outro brasileiro, em 2018/2019.