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Doriva vê título da Sula como fundamental para Ceni repetir Telê e Muricy

Doriva comandou o São Paulo por apenas um mês, em 2015 - Miguel Schincariol/Estadão Conteúdo
Doriva comandou o São Paulo por apenas um mês, em 2015 Imagem: Miguel Schincariol/Estadão Conteúdo
Vanderlei Lima e Augusto Zaupa

Do UOL, em São Paulo

01/10/2022 04h00

Cria do São Paulo e comandado por dois técnicos icônicos do clube, Doriva está ansioso, assim como boa parte da torcida tricolor, para o duelo de hoje (1º), às 17h (de Brasília), diante do Independiente del Valle, em Córdoba (ARG). O ex-volante acredita que a conquista do título da Copa Sul-Americana dará a Rogério Ceni tempo e tranquilidade para recolocar o time do Morumbi no caminho das glórias, assim como fez Telê Santana e Muricy Ramalho.

"Estou na torcida pelo Rogério Ceni, é um grande cara, é um profissional obcecado pelo o que faz, apaixonado... Essas marcas tanto o Telê quanto o Muricy também tinham. Aqueles caras abraçavam o trabalho, trabalhavam dia e noite sem parar. Eles ficavam 24 horas pensando como melhorar a equipe e eu vejo que o Rogério tem feito um trabalho muito bom. Óbvio que os títulos vão trazer essa credibilidade e a gente espera que o São Paulo consiga esse troféu para que o Rogério ganhe tempo para desenvolver o trabalho e ter uma carreira longa no São Paulo", disse Doriva ao UOL Esporte.

"Ele precisa deste tempo para montar equipes ainda mais fortes do que essa que conseguiu. O Rogério conseguiu levar o time à final da Sul-Americana, mas a gente sabe que o São Paulo pode ter uma equipe ainda melhor com as peças que chegam da base. É o caso do [Rodrigo] Nestor. O São Paulo sempre teve na sua base forte. Outros jogadores também podem chegar para ajudar o São Paulo a ter uma equipe fortíssima para brigar por tudo, como já foi um dia. Estou na expectativa que o Rogério tenha essa sequência e consiga ficar alguns anos à frente do São Paulo", acrescentou.

Início do novo ciclo de glórias?

Atualmente com 50 anos, Doriva foi revelado pelo São Paulo no início da década de 1990. Depois que pendurou as chuteiras, iniciou a carreira como treinador e chegou a comandar o Tricolor em 2015 — ficou apenas sete jogos no cargo. O seu último trabalho foi como auxiliar de Sylvinho no Corinthians.

Doriva durante treino do São Paulo, no CT da Barra Funda, em 1993 - LULUDI/AE - LULUDI/AE
Doriva durante treino do São Paulo, no CT da Barra Funda, em 1993
Imagem: LULUDI/AE

O ex-volante conhece bem as pressões externas que os clubes sofrem por causa de jejuns de conquistas — o São Paulo não ganha um título internacional há dez anos - e não vê como obrigação ganhar a taça na Argentina, mesmo diante do Independiente del Valle, um adversário com pouca tradição no cenário sul-americano.

Time posado do São Paulo, campeão mundial em 1993. Da esquerda para a direita, de pé: Zetti; Dinho, Ronaldão, Cafu, Leonardo e Toninho Cerezo; agachados: Muller, Doriva, Válber, Palhinha e André Luiz - FÁBIO M. SALLES / AE - FÁBIO M. SALLES / AE
Time do São Paulo, campeão mundial em 1993. Da esquerda para a direita, de pé: Zetti; Dinho, Ronaldão, Cafu, Leonardo e Toninho Cerezo; agachados: Muller, Doriva, Válber, Palhinha e André Luiz
Imagem: FÁBIO M. SALLES / AE

"Não é obrigação, porque não chegou na final à toa. Então, tem qualidade do outro lado, tem que ser respeitado sempre e, com certeza, o Rogério sabe disso, os jogadores sabem disso. Eles vão lutar para conquistar porque todos nós sabemos que no futebol, principalmente se tratando de Brasil, só o campeão tem o valor. Já foi um grande feito chegar à final, mas para carimbar e para ter valor diante da crítica, digamos assim, só a vitória vai dar credibilidade para que o Rogério possa continuar desempenhando o trabalho, porque potencial ele tem. É um técnico que tem olho, enxerga jogadores e sabe aqueles que têm as características que o São Paulo gosta", analisou o ex-volante, que foi campeão brasileiro (1991), da Libertadores e mundial (ambos em 93) pelo Tricolor de Telê.

Ciente de que o título da Copa Sul-Americana não tem o mesmo peso que o da Libertadores, Doriva considera que a conquista neste sábado pode iniciar um novo ciclo de glórias no Morumbi e fazer frente com as atuais potências do futebol brasileiro.

"Acredito que traz muitos benefícios. Os títulos servem de parâmetro para o trabalho, para dar sequência. Acredito que pode dar início a um novo ciclo de vitórias. Vai precisar sempre se reforçar, vai precisar realmente montar uma equipe forte, porque a gente sabe que hoje no Brasil nós temos equipes fortíssimas, como Palmeiras, Flamengo, Atlético-MG e o próprio Corinthians. Tem também o Athletico-PR, que está na final da Libertadores. Enfim, para o São Paulo voltar para a prateleira de cima, vai ter que se reforçar. Um título, mesmo que não tenha o peso de uma Libertadores ou de um Campeonato Brasileiro, com certeza vai trazer essa confiança, vai trazer essa credibilidade. Esse título vai ser fundamental para o São Paulo começar um novo ciclo.

Outros trechos da entrevista com Doriva:

Revelado por Telê Santana

Técnico Telê Santana comemora título mundial do São Paulo em 1993 (25/07/2011) - Juca Varella/Folhapress - Juca Varella/Folhapress
Telê Santana comemora título mundial do São Paulo em 1993
Imagem: Juca Varella/Folhapress

"Foi espetacular [ter trabalhado com o ex-técnico]. Sou suspeito para falar do Telê porque foi um grande pai para mim dentro do futebol. Foi ele que me deu a oportunidade de jogar, de acertar e errar e ter uma sequência. Essa gratidão eu vou carregar comigo sempre, porque foi o início de tudo (...) Ele já tinha experiência e a gente era tudo garoto, com 20, 21, 22 anos, e ainda tínhamos muita coisa para aprender na vida. Então, o Telê direcionava, além de ser um treinador que te mostrava aquilo que você precisava melhorar no campo, ele te mostrava um cenário da vida também, que vai muito além do futebol. Isso foi importantíssimo e eu guardei assim no meu coração. Pratiquei isso durante a minha vida toda e deu muito certo. Tenho gratidão pelo privilégio de ter trabalhado com um treinador desse porte. Foi fantástico."

Destaques do atual meio-campo do São Paulo

"O Luan, que está lesionado, tem boas características de marcação, joga bem e sabe marcar. O Nestor já é um pouco mais refinado, é um canhoto que salta aos olhos pela qualidade. Ele é a grande pérola do São Paulo no momento."

Rápida passagem pelo comando do São Paulo

"Infelizmente, são as gestões no Brasil. Eu estava fazendo um trabalho muito bom na Ponte Preta, e o [então presidente Carlos Miguel] Aidar estava me monitorando desde a época do Vasco da Gama. Ele me convidou e lógico com a promessa de um trabalho longo. Fiz um contrato de dois anos com o São Paulo, mas na verdade eu quase nem trabalhei com o Aidar. Eu cheguei no clube e depois de dois dias houve aqueles problemas que fizeram ele sair da presidência [renunciou após denúncias de corrupção]. Infelizmente, entrou o [Carlos Augusto de Barros e Silva] Leco. Ele não tinha compromisso nenhum comigo, ficou evidente porque depois de um mês, sem motivo algum, ele me tirou. Mas não guardo mágoas. A gente sabe que existem essas gestões desastrosas. O São Paulo está no meu coração, independente disso, a torcida, o clube... A minha história está intacta."

Trabalho como auxiliar ao lado de Sylvinho

"Faço parte do projeto com o Sylvinho. Eu estou aguardando [ofertas de clubes]. Fazemos reuniões semanalmente, falando de futebol, estudando e esperando as situações acontecerem para a gente voltar a trabalhar. O Sylvinho, que é o treinador, é quem toma a decisão, mas eu estou pronto para acompanhá-lo. A gente sempre faz as reuniões e avalia cada situação que surge. Estamos esperando surgir algo que seja interessante, um projeto para que a gente possa colocar em prática, assim como a gente colocou no Corinthians, no ano passado. No meu modo de ver, tivemos um êxito grande."

Queda no Corinthians

Fernando Lázaro, Sylvinho e Doriva são os responsáveis pelo futebol do Corinthians  - Rodrigo Coca/ Ag. Corinthians  - Rodrigo Coca/ Ag. Corinthians
Fernando Lázaro, Sylvinho e Doriva durante treino do Corinthians, em 2021
Imagem: Rodrigo Coca/ Ag. Corinthians

"As expectativas mudaram no decorrer [da temporada]. A informação que saiu de dentro do Corinthians, ou da própria imprensa, não foi a informação correta. Quando nós chegamos tudo indicava que o Corinthians estava fadado a brigar pelo rebaixamento e fizemos, na verdade, dois campeonatos. Na primeira metade a gente fez com uma equipe de jovens, mesclando com a experiência, recuperamos alguns atletas que estavam desprestigiados no momento, como o Fábio Santos, o Gil e o próprio Cássio, que tem uma história incrível, mas naquele momento estava passando por um momento difícil. Com esses atletas, juntamente com os mais novos, fizeram um primeiro turno brilhante. Depois chegaram outros atletas: Renato, Giuliano, Paulinho, que não jogou naquele ano, e o próprio Willian. Esses jogadores chegaram e aí mudou totalmente a expectativa, que o Corinthians iria ganhar, mas sabemos que não se ganha assim, Conseguimos os nossos objetivos, levamos o Corinthians para a Libertadores, tiveram as ascensões de vários atletas novos, como Du Queiroz, João Vitor, GP... Na nossa avaliação, foi um trabalho muito bom que deu fruto, mas óbvio que não houve uma aceitação geral."

Dorival para vaga de Tite na seleção

"A minha preferência é um brasileiro, porque conhece totalmente a nossa cultura, um cara que conhece os atletas, que conhece muitas coisas do futebol brasileiro que, de repente, um estrangeiro não tem essa facilidade. Se for a escolha por um estrangeiro, no entanto, também pode ter êxito, assim como um brasileiro, porque ele vai estar lidando com os melhores atletas do mundo, porque eu acredito que os brasileiros são os melhores (...) O Dorival Jr está fazendo um trabalho muito bom, eu gosto como ele conduz o trabalho dele, a seriedade dele. Acredito que ele tem um perfil interessante para a seleção brasileira. Eu apostaria no Dorival, o meu xará de nome [Doriva se chama Dorival Guidoni Júnior]."

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