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Brasileirão - 2022

Por que Edina demorou a apitar na Série A 2022? Seneme nega discriminação

A árbitra Edina Alves Batista durante partida entre Botafogo e Atletico-GO, pelo Brasileirão - Thiago Ribeiro/AGIF
A árbitra Edina Alves Batista durante partida entre Botafogo e Atletico-GO, pelo Brasileirão Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

Do UOL, no Rio de Janeiro

26/08/2022 04h00

Três das quatro partidas para as quais Edina Alves Batista foi escalada em agosto são da Série A. Mas isso não tem sido a regra ao longo da temporada. A principal árbitra brasileira, de 42 anos, demorou 21 rodadas até atuar na elite em 2022. O jogo mais recente na primeira divisão foi Avaí x Internacional — no qual ela expulsou o técnico Mano Menezes por xingar o quarto árbitro.

Questionado pelo UOL Esporte, Wilson Seneme, chefe dos árbitros brasileiros, descartou a hipótese de machismo ou um tratamento diferenciado pelo fato de se tratar de uma mulher. "Isso não cabe", disse.

Na explicação, Seneme aproveitou para se remeter ao período no qual foi presidente da comissão de arbitragem da Conmebol: "Não é demais lembrar que a Edina foi a primeira mulher a apitar um jogo de Libertadores. E quem escalou ela fui eu. É importante lembrar isso, para quem quer levar as coisas para o outro lado. Se eu estivesse lá na Conmebol, ela estaria sendo escalada na Libertadores, assim como estamos escalando ela no Brasileiro".

O presidente da comissão de arbitragem ainda disse que não faz discriminação de gênero e orientação sexual, citando o fato de ter permitido a entrevista do árbitro mineiro Igor Benevenuto à Globo, na qual ele revelou ser homossexual. Por procedimento, árbitros em atividade só dão entrevistas com autorização da comissão: "Acabei de dizer que um homem gay pode assumir que ele é gay. Eu autorizei isso".

Por onde Edina andou

Mas o que aconteceu com Edina, então? Nas competições nacionais de 2021, Edina apitou seis jogos da Série B e sete da Série A, além de um Corinthians x Palmeiras do Brasileirão Feminino. Em 2022, ela já atuou em seis da Série B, três da Série A e um do Brasileirão Feminino.

A comissão de arbitragem pontuou algumas questões. A começar por um período no Programa de Assistência ao Desempenho da Arbitragem (Pada). Seneme não gosta de usar o termo "geladeira" para definir o afastamento dos árbitros por algum erro mais grave cometido.

Logo no primeiro jogo dela na Série B (Grêmio x Chapecoense pela segunda rodada, em 15 de abril), houve um erro que gerou a ida para o Pada. Edina deixou de marcar um pênalti para o Grêmio, equívoco admitido pela ouvidoria da arbitragem da CBF. O jogo terminou 1 a 0 para a Chape.

Wilson Seneme, presidente da comissão de arbitragem da CBF - Igor Siqueira/UOL - Igor Siqueira/UOL
Wilson Seneme, presidente da comissão de arbitragem da CBF
Imagem: Igor Siqueira/UOL

"Teve um jogo que ela não foi bem. E aí ela foi para o Pada, fez o processo todo lá e retornou, como qualquer árbitro", disse Seneme.

O período longe das escalas foi de 15 de abril a 6 de maio. Esse hiato foi menor, por exemplo, do que o tempo que outro árbitro Fifa, Savio Pereira Sampaio, levou se "recuperando" após errar no Internacional x Botafogo da Série A, em 19 de junho. Ele só voltou à escala em 20 de julho. Em seguida, engatou seis jogos na Série B. A volta de Savio à Série A aconteceu dois meses após o erro original: Athletico x América-MG, domingo passado (21 de agosto).

Outro árbitro Fifa que ficou pouco mais de um mês fora da escala foi Luiz Flávio de Oliveira. Punido pela atuação no Flamengo x Athletico pela Copa do Brasil, em 27 de julho, ele voltará a atuar hoje (26), no duelo Brusque x Londrina pela Série B e ainda não tem previsão de retorno à Série A.

Para Edina, o espaço entre o erro que a levou ao Pada e o primeiro jogo na elite em 2022 foi de quatro meses. Ela fez mais cinco jogos na Série B antes do agosto com três partidas na Série A. Mas há nuances nesse intervalo.

"Todos os árbitros quando voltam do Pada voltam na Série B. Passo a passo para voltar ao Série A. Edina voltou na Série B, fez jogos bons e aí veio a Copa América Feminina", pontuou Seneme.

Compromissos no exterior

A competição sul-americana feminina foi um dos dois compromissos internacionais que Edina teve desde o início do Brasileirão 2022. O outro foi o torneio de Toulon, na França, que reuniu seleções masculinas de base. A presença lá fora é importante porque ela está no processo de preparação para a Copa do Mundo Feminina, em 2023.

A Copa América preencheu o mês de julho de Edina. Ela apitou três jogos. A final não foi possível porque o Brasil estava lá e foi campeão. Toulon ocorreu na primeira quinzena de junho. Nesse, sim, Edina apitou a decisão: França x Venezuela. Entre Toulon e a Copa América, Edina fez três jogos na Série B.

"Edina fez uma boa Copa América. Ao retornar, teve a oportunidade na Série A. Vem fazendo bons jogos e vai se mantendo pela qualidade de árbitra que ela tem", completou o presidente da comissão de arbitragem.

Edina Alves Batista recebe de Wilson Seneme o escudo da Fifa de 2022 - Thais Magalhães/CBF - Thais Magalhães/CBF
Edina Alves Batista recebe de Wilson Seneme o escudo da Fifa de 2022
Imagem: Thais Magalhães/CBF

"Não vai ser sempre Série A"

Seneme explicou que recorreu a um rodízio menor de árbitros nas primeiras rodadas do Brasileirão, sob a justificativa de que fora contratado dias antes o início da competição. No returno, a proposta é ampliar o número de árbitros escalados.

Ao mesmo tempo, a comissão de arbitragem tem dado rodagem a alguns árbitros Fifa nas divisões intermediárias. Como são 10 os árbitros centrais homens no quadro internacional, nem todos têm espaço na elite com tanta frequência — até porque é preciso dar oportunidade a quem é da categoria Master e aos promissores, como Ramon Abatti Abel. Mas por que Edina não fez parte da escala da Série A antes de agosto?

"Na verdade, Edina teria voltado antes [à Série A]. A questão é que ela foi convocada para a Copa América. Quando ela retornou, teve jogo e está tendo sequência. Não vai ser sempre Série A. Assim como o Anderson Daronco e Raphael Claus não apitam só Série A. Esse rodízio é favorável para que os árbitros não se desgastem também", alegou Seneme.

Entre os árbitros Fifa, Rodolpho Toski Marques, por exemplo, levou 12 rodadas até ser escalado para jogo da Série A neste ano. Atualmente, o período dele fora das escalas da elite começou a partir de 2 de julho (está perto de completar dois meses). Toski rodou pela Série C. Hoje (26), ele apita Cruzeiro x Náutico pela Série B e amanhã (27) será VAR no jogo Pouso Alegre x Asa, pela Série D.

"A comissão de arbitragem é uma comissão de treinadores. Às vezes o jogador joga e às vezes não joga", compara Seneme.

Amanhã (27), Edina volta a campo apitando CRB x Criciúma. Será o sétimo jogo dela na Série B este ano.

Árbitros Fifa na Série B em 2022 até agora

Wilton Pereira Sampaio - 2 jogos
Raphael Claus - 2 jogos
Anderson Daronco - 4 jogos
Bruno Arleu - 4 jogos
Braulio da Silva Machado - 6 jogos
Flavio Rodrigues - 6 jogos
Edina Alves Batista - 6 jogos
Luiz Flavio de Oliveira - 7 jogos
Savio Pereira Samapio - 8 jogos
Wagner Magalhães - 9 jogos
Rodolpho Toski - 10 jogos