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Sousa deixa Flamengo sem receber apoio para missão de reformular elenco

Marcos Braz e Paulo Sousa conversam no Ninho do Urubu, centro de treinamento do Flamengo - Alexandre Vidal/Flamengo
Marcos Braz e Paulo Sousa conversam no Ninho do Urubu, centro de treinamento do Flamengo Imagem: Alexandre Vidal/Flamengo

Alexandre Araújo, Bruno Andrade e Letícia Marques

Do UOL, no Rio de Janeiro

10/06/2022 04h00

Anunciado como presente de Natal e apresentado em 10 de janeiro, Paulo Sousa chegou ao Flamengo sob a promessa de reformulação do elenco. O processo era visto como necessário pela diretoria, mas, para obter sucesso, o respaldo era imprescindível. Aos poucos, a história foi se desenhando para longe do objetivo e alguns episódios marcaram as rugas do diálogo.

A saída de Michael para o Al Hilal, da Arábia Saudita, pegou Paulo Sousa de surpresa. O treinador português, que não contava com a significativa baixa no ataque, ouviu da diretoria rubro-negra a promessa de que a peça de reposição seria Everton Cebolinha, então pouco aproveitado no Benfica, de Portugal.

As negociações com os portugueses não avançaram, visto que o Fla recuou na investida devido ao impasse com o Banco Central, que resultou na penhora de R$ 127 milhões — clube já resolveu o caso. Assim, a diretoria se voltou para o mercado nacional em busca de uma solução caseira mais aquedada ao orçamento da ocasião. A opção passou a ser Marinho, do Santos, que foi contratado por US$ 1,3 milhão (R$ 7 milhões, à época).

Devagar, a promessa de reformulação foi perdendo espaço, visto que um dos pilares do projeto eram as escolhas dos reforços. A contratação de Marinho não é o único exemplo. A chegada do goleiro Santos aconteceu na mesma linha. O jogador já estava apalavrado com o Flamengo antes mesmo do aval da comissão técnica.

Desta forma, o único reforço pedido e indicado pelo treinador foi o zagueiro Pablo. Fabrício Bruno e Ayrton Lucas receberam o 'ok' da comissão, mas, assim como o defensor, já estavam encaminhados.

O impasse na chegada de alguns reforços não foi o único obstáculo enfrentado por Sousa. Boa parte da crise nos bastidores surgiu com a falta de respaldo sentida no trato com a diretoria nas discussões com os jogadores mais experientes do grupo, entre eles o goleiro Diego Alves. Os atletas quase sempre eram "abraçados" e protegidos pelos dirigentes.

O conflito com Diego Alves tomou conta do noticiário, após entrevista coletiva do treinador detalhando a ausência do goleiro. A diretoria tentou contornar a situação nos bastidores com reunião entre o técnico, o jogador e os líderes do departamento de futebol. No entanto, a convite de Diego, outros atletas participaram da reunião, o que gerou desconforto com o português.

O assunto, inclusive, foi abordado em nova entrevista coletiva depois da vitória sobre o Goiás. No pronunciamento, o discurso alinhado entre Marcos Braz (vice-presidente de futebol), Paulo Sousa e Bruno Spindel (diretor executivo) reforçou que tudo não passou de desentendimento por conta de um desencontro de informação. Na mesma coletiva, os dirigentes deram respaldo ao treinador e aos seus processos.

No entanto, depois da polêmica com o goleiro, Sousa se sentiu cada vez menos respaldado internamente. A falta de sintonia entre o técnico e os dirigentes foi tomando conta dos dias no Ninho do Urubu. Internamente, entende-se que a ausência de química refletiu também nos resultados dentro de campo.

Outro ponto que atrapalhou bastante a relação de Paulo Sousa com a diretoria do Flamengo foi a forte influência de alguns empresários no dia a dia do time. O português sentiu diversas vezes que o planejamento da equipe passava por uma espécie de "crivo" de pessoas que não tinham qualquer ligação diária com o clube.

A saída

Os momentos conturbados nos bastidores e a falta de apoio foram minando o trabalho de Sousa. A permanência era vista quase como insustentável desde a derrota para o lanterna Fortaleza, no Maracanã. No entanto, ainda assim, o português foi mantido no cargo e viajou para enfrentar o Red Bull Bragantino.

O novo revés foi a gota d'água e o fim da linha para Paulo Sousa. Neste momento, a diretoria decidiu a demissão do treinador, no entanto, o manteve cumprindo o dia seguinte inteiro de trabalho - enquanto acertava a contratação do substituto.

Na manhã de ontem (9), a imprensa já noticiava o acordo entre Dorival Júnior e Flamengo, e Sousa estava em Atibaia (SP), seguindo o planejamento e, inclusive, comandou o treinamento na parte da tarde. O técnico só foi comunicado do desligamento por volta das 18h, após uma reunião com Braz e Spindel no hotel.

Retrospecto no cargo

Em pouco mais de cinco meses no comando, Sousa conquistou 66% de aproveitamento. O técnico disputou 32 jogos: 19 vitórias, sete empates e seis derrotas. Ao todo, 59 gols marcados e 29 sofridos.

O técnico deixa o time na 14º colocação no Campeonato Brasileiro, e classificado às oitavas da Copa do Brasil e da Libertadores.

Sonho antigo e promessa: Cebolinha no Fla?

Para a janela do meio do ano, o Flamengo volta a atenção para Everton Cebolinha. Sonho antigo e promessa para Sousa, o atacante do Benfica segue no radar do clube carioca, que já montou estratégia e aguarda aceno positivo para oficializar a investida.

Em contato com Giuliano Bertolucci, empresário do atleta, os dirigentes tratam com cautela a possível negociação, que depende exclusivamente dos planos de carreira do jogador. Cebolinha ainda não está decidido se quer retornar ao futebol brasileiro, onde foi revelado pelo Grêmio.