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Um ano de observação e conselho de filho: como Tite 'descobriu' Raphinha

Raphinha tenta jogada pela seleção brasileira em amistoso contra a Coreia do Sul: ele atuou 79 minutos ontem (2) - Lucas Figueiredo/CBF
Raphinha tenta jogada pela seleção brasileira em amistoso contra a Coreia do Sul: ele atuou 79 minutos ontem (2) Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

03/06/2022 04h00

Classificação e Jogos

Um mal-entendido entre os comentaristas esportivos Pedrinho e Mauro Cezar Pereira agitou as redes sociais ontem (2) de manhã. Durante a transmissão de Coreia do Sul 1 x 5 Brasil no SporTV, o ex-jogador elogiou a comissão técnica da seleção brasileira pelo modo como o atacante Raphinha foi observado e passou a ser convocado por Tite. O jornalista reagiu à declaração no Twitter dizendo que isso não merecia elogios, porque ele já estava em destaque na elite da Inglaterra quando vestiu a Amarelinha.

Entre provocações e justificativas por parte dos comentaristas, uma dúvida brotou: afinal, quando e de que maneira a seleção brasileira colocou os olhos no atacante do Leeds United, que hoje é titular?

Na Coreia do Sul, Raphinha fez apenas o oitavo jogo pela seleção, sexto como titular. Depois de sair do banco nas duas primeiras partidas da primeira convocação, o atacante de 25 anos se firmou como titular diante de uma concorrência pesada, de nomes como Vini Jr, Gabriel Jesus, Antony, Rodrygo e Gabriel Martinelli. Ele tem três gols (Uruguai, duas vezes, e Paraguai) e dois passes para gol (Venezuela, duas vezes), além de dribles e boas atuações.

Mas antes que essa trajetória avassaladora tivesse início houve um período de observação e avaliação de quase um ano. Segundo apurou o UOL Esporte, o nome de Raphinha foi apresentado a Tite por Matheus Bachi, seu filho e auxiliar. A primeira recomendação de que valia a pena observar o jogador que até então o treinador não conhecia rolou na época em que ele estava no Rennes, da França. Pouco antes da venda de R$ 120 milhões para o Leeds.

Tite inclusive revelou recentemente numa entrevista ao jornal britânico "The Times" que até 2020 Raphinha era praticamente desconhecido para ele.

Raphinha - David Klein/Reuters - David Klein/Reuters
Raphinha atravessou o campo de joelhos após permanência do Leeds na Premier League nesta temporada
Imagem: David Klein/Reuters

A indicação de Matheus acendeu uma luz e mobilizou o restante da comissão técnica a municiar o treinador com informações. O auxiliar César Sampaio, por exemplo, também era entusiasta da convocação de Raphinha e foi atrás de um histórico comportamental do jogador em sua passagem pelas categorias de base do Avaí. Segundo Tite diz nos bastidores, esse foi o "primeiro bunker".

Durante o processo, Raphinha se firmou rapidamente no Leeds sob o comando do técnico argentino Marcelo Bielsa e entrou de vez no radar de jogadores analisados pelo departamento de análise de desempenho da seleção. Os números eram bons e aí Tite entrou em ação. O treinador fez contatos diretos tanto com Bielsa, quanto com o volante Fernandinho, então no Manchester City, que não vai para a seleção desde 2019. A ideia era ouvir impressões locais e próximas sobre o potencial de Raphinha para servir à seleção.

Tudo isso durou praticamente um ano. Onze meses, segundo as contas de Tite. Mesmo sem o clamor popular que envolve outros nomes, Raphinha foi convocado pela primeira vez para jogos das Eliminatórias em setembro de 2021. Substituiu Éverton Cebolinha, antigo xodó da equipe.

Raphinha - Chung Sung-Jun/Getty Images - Chung Sung-Jun/Getty Images
Lucas Paquetá, Neymar e Raphinha dançam em comemoração de gol da seleção brasileira contra a Coreia do Sul
Imagem: Chung Sung-Jun/Getty Images

O problema é que naquela oportunidade os clubes da Inglaterra impediram a viagem dos brasileiros convocados por causa da pandemia, aí Raphinha precisou ser cortado. A estreia ficou para outubro, quando seus 51 minutos em campo diante da Venezuela mudaram a história do jogo e provaram que a paciência tinha dado resultado.

Desde então, Raphinha só não jogou contra Chile e Bolívia em março porque testou positivo para covid-19. Titular contra a Coreia do Sul, ele está à disposição de Tite para o jogo desta segunda-feira (6), às 7h20 (de Brasília), contra o Japão. Uma história para além dos mal-entendidos.