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'De boa', Tite adapta linguagem para se conectar mais aos jovens da seleção

Tite fala com os jogadores da seleção brasileira - Lucas Figueiredo/CBF
Tite fala com os jogadores da seleção brasileira Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Igor Siqueira

Do UOL, no Rio de Janeiro

03/06/2022 04h00

"Papo reto. Sim, eles podem jogar juntos".

A frase em uma entrevista coletiva dada em janeiro, sobre a presença de Neymar, Vini Jr e Paquetá como titulares na seleção, pode não parecer, mas foi de Tite. O técnico que se notabilizou por um discurso mais polido, para alguns até em tom professoral, tem tentado incorporar algumas expressões mais contemporâneas. O motivo? O crescimento da ala jovem na seleção neste ciclo de Copa do Mundo.

Dos 26 jogadores que estão com a delegação na data Fifa atual, 12 têm menos de 25 anos. E o protagonismo tem recaído sobre eles, como é o caso de Vini Jr, Paquetá, Raphinha, Richarlison e outros.

Tite nunca gostou de ser comparado a pastores, por exemplo. Prefere levar consigo a perspectiva de uma veia pedagógica adquirida no curso de Educação Física. Ele sabe que precisa se fazer entendido por esse público - até mesmo para quem é da geração Z e o assiste nas coletivas. A iniciativa partiu dele mesmo e não de um conselho da assessoria, por exemplo.

"Em tom de brincadeira, o Tite começou a utilizar essa linguagem. É algo diário. Nas reuniões, em momentos antes do treino, no vestiário. Ele ouve em algum programa ou os atletas falando e repete", contou ao UOL Cleber Xavier, auxiliar de Tite há 21 anos.

"Papo reto" é apenas uma das expressões. Em entrevista recente ao Fred, do canal Desimpedidos, por exemplo, recorreu a uma gíria muito usada pelo streamer Casimiro: "Isso me pega". Segundo Cleber, o técnico gosta do #sóquenão e solta uns "améns". A aplicação, às vezes, é com a desenvoltura de quem fez 61 anos no mês passado. Mas Tite vai arriscando.

"Eu falo de boa, sim", respondeu ele, durante uma entrevista à Jovem Pan, se tinha algum incômodo em abordar o assunto Raphael Veiga.

A fonte para pegar os termos do momento também é a convivência com os representantes mais jovens da própria comissão técnica: o filho Matheus Bachi, de 33 anos, e o analista de desempenho Thomaz Araújo, de 37.

O aspecto geracional, ao mesmo tempo, faz com que Matheus e Thomaz tenham mais trânsito e diálogo mais próximo a alguns novatos da seleção, como Raphinha. Tite contou, em entrevista recente ao The Times, da Inglaterra, que eles tiveram papel importante no diálogo com Vini Jr a respeito do papel na seleção e os pontos em que o jogador precisava evoluir no Real Madrid para se firmar ainda mais com a amarelinha. Cada membro da comissão, inclusive, tem um grupo específico de jogadores para acompanhar — isso acontece também pelas escalas de observação in loco.

A comunicação tem função não só na descrição de aspectos táticos, mas também na criação de um laço entre os membros da seleção. Mesmo entre os jovens, não há uma homogeneidade no comportamento dentro do grupo.

"Os jogadores mais antigos são mais soltos. Dos mais novos, Paquetá, Vini, Militão brincam mais. Outros que chegaram mais recentemente são mais quietinhos", ressalta Cleber.

A próxima oportunidade de colocar a garotada para jogar é segunda-feira, contra o Japão, às 7h20 (de Brasília). Tite ainda terá dois jogos em setembro antes de definir com quantos membros da geração Z irá à Copa do Mundo do Qatar. Isso é crucial para saber se deixará a seleção "de boa" e com o hexa.