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Vítor Pereira explica trocas em vitória do Corinthians e defende rodízio

Brunno Carvalho e Nathalia Costa

Do UOL, em São Paulo

01/05/2022 19h27

O primeiro tempo apresentado pelo Corinthians na Neo Química Arena deixou o torcedor com medo de uma derrota em casa para o Fortaleza. Acuado pela marcação adversária, a equipe de Vítor Pereira começou a reagir apenas no segundo tempo, quando o treinador tirou Renato Augusto, colocou Raul Gustavo e mudou o time para uma formação com três zagueiros.

Na entrevista coletiva depois da vitória por 1 a 0, o treinador explicou a necessidade das mudanças e disse que tinha o objetivo de "simplificar" a partida. "Não estávamos nos encontrando no jogo, eles estavam pressionando, nós estávamos sendo atraídos para a pressão. A sensação que eu tinha é que não estávamos com capacidade para pressionar, tínhamos dificuldades para controlar as laterais, permitimos muitos cruzamentos, muitas situações perigosas com chutes de fora da área", analisou.

O Corinthians abriu o placar logo aos 7 minutos do segundo tempo, quando Matheus Jussa fez contra. O placar poderia ter sido mais elástico, mas a cabeçada de Gil parou na ótima defesa de Max Walef. No fim do jogo, os donos da casa chegaram a ser pressionados pelo Fortaleza, mas conseguiram segurar o resultado.

"A troca foi no sentido de simplificar mais o nosso jogo, alargarmos mais e controlar mais o nosso adversário nas laterais, levar os três homens da frente para pressionarem mais alto os zagueiros deles. Sinceramente, foi um segundo tempo melhor, simples. Não foi um jogo brilhante, mas eu já vi que esse campeonato não é fácil, qualquer equipe pode criar muitos problemas. Essa equipe do Fortaleza é uma boa equipe", prosseguiu Pereira.

Para a partida de hoje, o treinador português manteve o rodízio de atletas e deixou jogadores como Fagner, Fabio Santos e Jô no banco de reservas. O último foi o único que entrou ao longo da partida.

Questionado sobre as trocas, Vítor Pereira disse que o apertado calendário brasileiro não permite que ele tenha apenas um time titular. Na próxima quarta-feira (4), o Corinthians volta a campo para enfrentar o Deportivo Cali, na Colômbia, pela Libertadores.

"Aqui no Brasil nem sequer temos tempo para ficarmos doentes. Acabei o jogo hoje, amanhã já vamos viajar. Isso é louco, é um calendário que não nos permite respirar um pouco. Antes da escalação desse jogo já tive que pensar no jogo do Cali. Hoje não consegui fazer a gestão que eu queria, porque no primeiro tempo tivemos muito mais dificuldades do que imaginei. Agora vamos ter que pensar no Cali, que vai ser um jogo muito duro, muito físico e vamos a partir de hoje começar a pensar nesse jogo", disse.

O treinador lamentou não ter conseguido ter dado mais tempo para Willian descansar e reclamou das faltas cometidas pelo Fortaleza. Uma delas fez com que Paulinho precisasse ser substituído ainda no primeiro tempo com uma lesão no joelho.

"Gostaria ter tido a oportunidade de poupar o Willian, o Maycon, mas não foi possível. O Paulinho sofreu uma lesão... não gosto de falar de arbitragem, mas claramente o que temos que defender é o futebol. (...) E defender o futebol é defender também entradas maldosas, entradas que passam o limite da violência. Se permite uma entrada, duas entradas, três, eles vão ganhando confiança e vão dando sempre pancadas até lesionar os jogadores. E é o que nos acontece. O Willian cansou de levar porrada, o Paulinho levou pancada, hoje está com uma lesão no ligamento. Se não defendermos o futebol, mais jogadores desse nível vão sofrer esse tipo de entrada. É motivo para refletir um pouco", criticou.

Confira outras declarações de Vítor Pereira depois da vitória do Corinthians:

Mudança foi uma leitura do jogo ou já vinha sendo treinada?

O que um treinador tem que fazer é a leitura do que está acontecendo. Nós estávamos com grandes dificuldades de controlar as laterais e eles variam com grande facilidade, porque é o sistema que estão acostumados a jogar. E nós estávamos com dificuldades em controlar o jogo. Estávamos trazendo o Willian muito para trás, o tirando de uma zona alta onde ele pode fazer a diferença e estava tentando necessidade de vir defender.

O que foi que pensamos: é melhor colocar o Willian mais à frente, os três homens da frente em condições de pressionar mais à frente, não desgastar tanto, não deixar que eles circulem, usem os corredores e variem, porque era o que estava acontecendo. Nós estávamos muito empurrados para trás, sem capacidade de pressão.

Foi a forma que entendemos que era a maneira de voltarmos a pressioná-los e foi o que aconteceu. Eu não lembro de ver o Fortaleza criando os problemas que criou no primeiro tempo. E nós tivemos algumas situações que poderíamos ter resolvido o jogo para nos dar um pouco mais de tranquilidade.

Desempenho irregular dos mais experientes

Essa é uma questão evidente e natural. Quando eu ouço falar em time titular, isso é completamente impossível. Como é possível eu definir um time titular, jogar um jogo e no seguinte repetir a mesma equipe? Completamente impossível. Não vamos conseguir jogar.

Nós assumimos que temos vários jogadores acima de 30 anos. Jogadores acima de 30 anos podem fazer um belíssimo jogo hoje, mas passar três dias... não há chance nenhuma. Se eles forem para um jogo três dias depois, não vão conseguir pressionar ninguém, a equipe não vai conseguir pressionar. Eu claramente tenho a necessidade de rodar o time, tentar fazer sempre um time que, de acordo com estudos e a projeção do próximo adversário, seja competitiva.

O Du e o Maycon hoje eram dois, mas pareciam três nesse segundo tempo. O raio de ação deles é um raio de ação grandes, porque são novos, estão naquela idade em que está entalada, são rotativos, são competitivos, aceleram, vão tentar roubar, mas têm capacidade de voltar.

Temos que mesclar isso com a qualidade de um Paulinho, de um Renato, de um Giuliano, que hoje não teve a oportunidade, mas tem qualidade. São muitos meias ofensivos. São todos meias que têm uma propensão ofensiva. Quando enfrentamos esse tipo de equipe, temos problemas.

Eu estou aqui para arranjar soluções e arranjar soluções não é fazer o time titular, porque o time titular provavelmente não é um time equilibrado. Se formos olhar para a qualidade técnica, provavelmente não é um time equilibrado. Nós temos que equilibrar o time, equilibrar a equipe, ela tem que estar equilibrada dentro de campo.

E o jogo de hoje é a prova disso. Fomos procurando equilibrar o jogo, as forças, e o certo é que o segundo tempo foi muito melhor do que a primeira.

Eu converso muito com o Renato. Falo que quem me dera ele estivesse sempre naquele nível, mas aí não estaria aqui, provavelmente ainda estaria jogando pela Europa, em uma liga diferente.

Essa gestão tem que ser criteriosa, com critério. Quando falam "vai enfrentar o Palmeiras e não leva o time titular?", mas que time titular? Quem é titular nessa equipe? Como é que temos que vencer o Palmeiras com o time titular e depois vencer o Boca Juniors em casa depois de três dias? Mas as pessoas não entendem isso. Ou não querem ver. Se não querem ver, eu como treinador tenho.

Derrota contra o Palmeiras

Dizem "ele não sabe o que é dérbi". Como não sabe o que é um dérbi? Vocês sabem quantos dérbis eu já joguei na minha vida? Eu já joguei dérbi atrás de dérbi em países em que eles matam, esfolam, nem nos deixam sair. Eu já saí de tanque de guerra de um estádio até o aeroporto. Na Turquia. Vem falar para mim que não sei o que é um dérbi? Não brinque comigo.

Pensando no dérbi contra o Palmeiras, o que fizemos? Vamos arriscar o jogo da Copa do Brasil e vamos deixá-los se recuperando para chegar nos jogos do Palmeiras e do Boca Juniors fortes. Sabem o que aconteceu? Por muito azar, nessa semana tivemos vários casos de gripe. Quando chegamos do jogo da taça, estavam vários jogadores doentes, com dores no corpo, febre, com dificuldades respiratórias.

A intenção era chegar contra o Palmeiras no máximo da nossa força e chegamos contra o Palmeiras com jogadores dizendo no dia que não podiam jogar. E depois me criticam. Criticam porque não sabem o que se passa. E como não têm informação... eu não vim aqui depois do jogo porque o clube determinou que não era para eu vir, senão eu teria vindo aqui explicar, porque gosto de dar a cara, eu dou a cara, assumo as responsabilidades. Agora, as pessoas têm que ter informação para falar.

Vim envergonhado porque uma equipe minha jogou daquele nível. Foi uma facada no peito. O que fizemos contra o Boca Juniors? Demos a resposta, porque se tivéssemos jogados contra o Palmeiras com a equipe que eles dizem que é a titular, chegaríamos mortos contra o Boca Juniors e não teríamos chance alguma.

Temos que ter um pouco de consciência. A única forma de manter o Corinthians competitivo nas diferentes competições, porque temos que manter o Corinthians vivo nas competições, é com rodízio. Se não houver rodízio... o jogador pode ter uma qualidade muito alta, mas se está morto, o que posso fazer?

Camisa 9 ainda é uma preocupação?

Estou tranquilo. Estou quase perdendo o segundo jantar - ainda não paguei o primeiro. O Jô está em forma e quando está em forma, não tem erro. O Junior teve o azar de estar muito tempo parado e agora está tentando se recuperar.

Temos dois jogadores com qualidade, temos o Giovane, que é um menino, com qualidade. Quando a equipe tem necessidade, tem que jogar o Róger Guedes para lá e ele tem que entender que a equipe vem primeiro do que ele próprio. Quando é preciso ir para o meio, tem que ser assim, porque a equipe precisa.

Contra-ataques

Quando chegamos, trazemos uma ideia de jogo. Como construímos nossa ideia de jogo. Eu gosto de ver como fui construindo ao longo da minha carreira a forma como gosto de ver a equipe jogar. Gosto de futebol de circulação, associativo, de posse, com transição ofensiva forte. O que marcou na minha vida para eu gostar desse tipo de futebol? Ver jogar o Barcelona do Cruyff, o Milan do Arrigo Sacchi, o São Paulo do Telê Santana... A minha personalidade tem tendência para gostar desse tipo de jogo. Há jogos que não perco tempo vendo e há jogos que assisto até o fim.

Quando venho ao Corinthians, coloco a equipe para jogar de uma forma. Mas o que a realidade nos joga na cara? Às vezes, minha equipe é essa de circulação e transição agressiva, mas outras vezes, porque não tem capacidade de três em três dias dar a resposta que eu quero, vamos ter que defender bem sem bola, ser perigosos no contra-ataque, estar em processo defensivo mais tempo do que eu gostaria. Essa é uma adaptação minha e da equipe a um campeonato que é assim. Amanhã já teremos que viajar e prontos para jogar uma partida de altíssima exigência. Com isso, deixa de ser uma equipe que eu gostaria, de circular, variar, com dinâmicas, para ser uma equipe que em determinados momentos acontece como foi contra o Boca, em que tivemos mais tempo no nosso processo defensivo, mas fomos consistentes, perigosos e assertivos na transição ofensiva. É uma adaptação. Quando cheguei, falei que gostaria de estar no campo do adversário, pressionar, mas com esse calendário é impossível.

Análise do trabalho

Eu quando aceitei vir para o Corinthians olhei para o calendário. Conversei um bocadinho com meu estafe, e somos treinadores de treino para preparar o jogo. Somos táticos e estratégicos, sabemos direcionar o treino e como promover determinado tipo de jogo. Acontece que, quando se olha para o calendário, joga-se hoje, já vamos viajar, não vamos treinar, nunca há uma sequência de treinos que nos permita tornar a equipe mais consistente nos comportamentos que pretendemos, como uma equipe agressiva na transição, que tenha a bola e circule-a com qualidade entrelinhas, que varie o corredor, tente combinações laterais, curtas. Esse é o tipo de jogo que gosto e que tenho certeza absoluta de promover no Corinthians.

Quando vim para cá, olhei para o calendário e vi que o tempo não joga a nosso favor. Primeiro porque não fizemos pré-temporada, não tivemos três ou quatro semanas para começar a trabalhar e começar a sistematizar nosso modelo de jogo. Depois são jogos atrás de jogos e que toda a gente pensa que temos que ganhar todos, isso é impossível. Não vamos jogar como o Palmeiras, que tem dois anos e meio de trabalho. Temos três meses de trabalho, que não é trabalho, é preparar para o próximo jogo. Tornar consistente o que pretendemos não é possível. Não podemos andar com comparações, temos que ir crescendo com os jogos e buscar maturidade tática. Não podemos pressionar todo o jogo, "ah, vamos pressionar e jogar melhor que eles, depois vamos ao outros", só se for um Dom Quixote, os Dom Quixotes desta vida é que pensam assim, eu sou um terra terra, sou do trabalho.

Sei que de vez em quando vou levar pancadas, estou preparado para críticas, como levei contra o Palmeiras. Mas o Palmeiras se preparou nos últimos dois anos e meio, do ponto de vista tático está muito mais consistente que nós. Com o tempo, vamos subir de patamar, não tenha dúvidas. O que temos que fazer? Nos manter vivo nas competições, para quando chegarem as decisões estarmos lá, competindo, mas não me peçam para ganhar todos os jogos. Vencer o Palmeiras por 3 a 0, depois ir para o Flamengo ganhar dois ou três. Somos o Corinthians, temos alma grande, mas não sejam Dom Quixotes, não pensam que é fazer assim (estalo) e somos melhores do que eles. A camisa tem história grande, um orgulho enorme, mas epa: vamos com os pés na terra e construir o futuro com paciência. Não é hoje estamos bem e amanhã nos matam, porque já está tudo mal. Sejam honestos intelectualmente, é isso que peço, honestidade intelectual. Estamos há mais de dois meses, mas sempre a jogar, é um processo que precisa de tempo, o tempo que eles já tiveram e nós não temos.

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