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Fama de racista, liderado por ucraniano: a história do time amado por Putin

Putin chuta bola antes de partida de futebol em Moscou, no ano de 2018 - Yuri Kadobnov/AFP
Putin chuta bola antes de partida de futebol em Moscou, no ano de 2018 Imagem: Yuri Kadobnov/AFP

Alexandre Santos

Colaboração para o UOL

27/04/2022 04h00

Fã de artes marciais e faixa preta de judô, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, também é um torcedor fanático do Zenit. Ao contrário de Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, que nunca revelou seu time do coração, o russo faz questão de demonstrar publicamente a paixão pelo FC Zenit São Petersburgo, fundado há 96 anos, em sua cidade natal.

O time é comandado pelo técnico Sergey Semak, um ex-jogador ucraniano que se naturalizou russo, e tem como arquirrival o Spartak, de Moscou. No uniforme, carrega as cores azul e branco.

Desde 2008, quando foi campeão da Supercopa Europeia e da Copa da Uefa, segundo campeonato mais importante da Europa, o Zenit viu sua torcida crescer e se transformar na maior do país.

Com a fama, vieram mais jogadores de peso, como o brasileiro Claudinho, recém-chegado ao Zenit depois de ser artilheiro do Brasileirão 2020. Ele foi contratado por 15 milhões de euros (cerca de R$ 92 milhões) para jogar ao lado dos compatriotas Malcom e Yuri Alberto.

Mal chegou e já foi eleito o melhor jogador do Campeonato Russo. Além de balançar as redes sete vezes na liga, o meia-atacante de 25 anos foi premiado pelo gol mais bonito.

Claudinho carrega cão antes de partida do Zenit - Divulgação/Zenit - Divulgação/Zenit
Claudinho carrega cão antes de partida do Zenit
Imagem: Divulgação/Zenit

Clube poderoso

O time ostenta 18 títulos nacionais, conquistados após a dissolução da URSS (União Soviética), mas seu poder vem do dinheiro injetado por uma das maiores estatais da Rússia. A Gazprom, maior exportadora de gás do planeta, adquiriu o controle do clube no fim de 2005 por R$ 112 milhões.

Em 2007, meses antes da vitoriosa campanha rumo ao título da Copa da Uefa, a gigante russa investiu quase R$ 160 milhões em contratações de reforço e destinou mais de R$ 400 milhões para construir o novo estádio do clube.

O Gazprom Arena ou Estádio de São Petersburgo foi inaugurado em 2017. Não fossem as sanções impostas ao governo russo em retaliação à invasão à Ucrânia, o local sediaria a final da Champions League, em 28 de maio. Em fevereiro, a Uefa e a Fifa comunicaram que todos os times russos ficariam impedidos de participar de suas competições.

Enquanto o calendário esportivo ucraniano está suspenso em meio à ofensiva do exército de Putin, o Zenit vem atuando normalmente no Campeonato Russo e é favorito no campeonato europeu.

Fama de racista

O Zenit também é conhecido por manter um lema racista: "Não há preto nas cores do Zenit".

As falas preconceituosas também vieram da boca do torcedor mais famoso. Putin criticou a contratação de estrangeiros, dizendo: "Olhando nossos times, fica difícil falar se são realmente nossos ou se são africanos".

Veladamente, os dirigentes já admitiram evitar contratação de jogadores negros para não terem problemas com a torcida.

Em maio de 2008, torcedores do Zenit imitaram macacos e atiraram bananas no zagueiro negro Zubar durante partida contra o Olympique, pela Copa da Uefa, em São Petersburgo. O clube foi multado em 36.880 euros, mas não expulso da competição.

Em março de 2011, o brasileiro Roberto Carlos, então capitão do Anzhi, viu um torcedor mostrar-lhe uma banana na partida contra o Zenit durante o Campeonato Russo. A multa desta vez foi de cerca de US$ 10.600. Mesmo com a punição, a lateral voltou a ser alvo de insultos em uma segunda ocasião.

O atacante Hulk, estrela do Zenit de 2012 e 2016, já relatou que foi vítima de racismo quase que diariamente quando jogava pelo clube.

26.08.2014 - Hulk conduz a bola na vitória do Zenit contra o Standard Liege - OLGA MALTSEVA / AFP - OLGA MALTSEVA / AFP
O brasileiro Hulk, de azul, defendeu o Zenit entre 2012 e 2016
Imagem: OLGA MALTSEVA / AFP

Putin e as polêmicas do time

O presidente russo também deu seus palpites quando o meia Igor Denisov abriu uma crise interna ao reclamar do salário anual do Hulk no Zenit. Os 6,5 milhões de euros (R$ 17 milhões) que o brasileiro recebia eram quase o dobro dos rendimentos de Denisov.

Na época, Putin defendeu o supersalário.

"Os torcedores querem ver estrelas mundiais, não as que estão em declínio, mas aquelas que estão no auge ou em plena ascensão. Isso tem certas vantagens, estamos falando de algo que toca milhões de pessoas", declarou, em entrevista à televisão russa.

Mais recentemente, o Zenit demitiu o zagueiro ucraniano Yaroslav Rakitskiy, 32, por condenar a guerra iniciada pelo presidente russo. O atleta estava na equipe desde 2019 e publicou uma foto da bandeira da Ucrânia nas redes sociais, pedindo paz e o fim da invasão.

Ucraniano Yaroslav Rakitskiy rescinde contrato com o Zenit - Marco Alpozzi/LaPresse/DiaEsportivo/Folhapress - Marco Alpozzi/LaPresse/DiaEsportivo/Folhapress
Ucraniano Yaroslav Rakitskiy rescindiu o contrato com o Zenit
Imagem: Marco Alpozzi/LaPresse/DiaEsportivo/Folhapress