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Filho vê volta do Corinthians à Arena após morte do pai na porta do estádio

Reginaldo Wingeter (à esq. e vestindo boné) e João Wingeter (centralizado e vestindo boné) a caminho da Neo Química Arena, horas antes do ocorrido - Arquivo Pessoal
Reginaldo Wingeter (à esq. e vestindo boné) e João Wingeter (centralizado e vestindo boné) a caminho da Neo Química Arena, horas antes do ocorrido Imagem: Arquivo Pessoal

Yago Rudá

Do UOL, em São Paulo

13/04/2022 04h00

Depois de quase três semanas, o Corinthians retorna hoje (13) à Neo Química Arena para enfrentar o Deportivo Cali, pela segunda rodada do Grupo E da Copa Libertadores. A partida será a primeira do Alvinegro em Itaquera que o torcedor Reginaldo Wingeter não poderá acompanhar ao lado de seus amigos e familiares. Na última vez em que o Timão entrou em campo em seus domínios, o torcedor deixou sua residência irradiante para prestigiar o clube do coração acompanhado do filho João Wingeter (25). A oito metros da catraca de entrada do estádio, sofreu um infarto fulminante e morreu aos 57 anos.

Em 24 de março, pai e filho decidiram torcer juntos para o Corinthians diante do Guarani, em partida válida pelas quartas de final do Paulistão. A família deixou a cidade de Jandira, na Grande São Paulo, com bastante tempo de antecedência e, pelos trilhos do trem e do metrô, atravessou a capital paulista para chegar ao bairro de Itaquera, no extremo leste da cidade.

Nas imediações do estádio, como é costume, pai e filho comeram um lanche de pernil e partiram para o Setor Leste da Neo Química Arena. Em uma das tendas instaladas no local para a entrega dos comprovantes de imunização contra a covid-19, Reginaldo começou a passar mal e precisou ser segurado pelo filho.

"Fomos subindo cantando, na expectativa para o jogo. Estava tudo normal. Quando chegamos na tenda onde você precisa dar o comprovante da vacinação da covid-19, meu pai caiu, começou a espumar e o olho dele virou. Comecei a gritar, a pedir socorro e não apareceu ninguém dos funcionários do estádio. Quem ajudou mesmo foi a própria torcida do Corinthians. Um torcedor era bombeiro e começou a fazer massagem cardíaca até chegar uma ambulância, que demorou muito", relembrou.

"Depois, um segurança do estádio ainda veio ver o que estava acontecendo e veio tirar satisfação comigo. Ninguém do Corinthians ajudou, não teve um médico, uma enfermeira, nada. Faltou preparo dos funcionários do estádio, que não deram a devida atenção, estavam tratando como se ele tivesse passado mal."

Faltavam cinco minutos para a bola rolar dentro de campo, mas o que aconteceu no gramado da Neo Química Arena e a consequente classificação corintiana à semifinal pouco importaram a João. Enquanto as equipes jogavam, o filho acompanhava seu pai dentro da ambulância rumo ao hospital mais próximo da região. Pouco depois de dar entrada no pronto-socorro, veio a notícia.

"Levaram meu pai para uma sala, não deixaram a gente ficar junto e depois a médica me chamou para dar a notícia de que ele tinha morrido. Foi muito triste eu estou arrepiado aqui te contando isso. No dia seguinte, a Gaviões postou uma foto do meu pai nas redes sociais e o Vampeta, que era um ídolo para o meu pai, também mandou mensagem. Chorei muito porque eu saí de casa para ver o Corinthians com meu pai e voltei sem ele", desabafou.

No caminho, churrasco para os seguranças

Corintianos desde o berço, pai e filho cultivavam o hábito de frequentar juntos os estádios da Grande São Paulo. No dia da morte de Reginaldo, o ingresso para o Setor Leste apenas foi garantido a poucas horas do início da partida. A situação ainda arranca risadas de João, que descreve seu pai como um sujeito de papo fácil e amigável com todos.

"Estávamos sem o ingresso para o jogo, mas um amigo meu conseguiu duas entradas para o Setor Leste da Neo Química Arena. Fui trabalhar de manhã e quando cheguei vi lá meu pai sentadinho com a roupa do Corinthians do lado e esperando uma resposta sobre o ingresso. Ficou super feliz quando disse que iríamos e foi todo animado", contou.

Saíram da estação de Jandira e fizeram uma parada na estação Antônio João, também na Linha-8 Diamante, para pegar os ingressos. O problema é que o contato de João demorou pelo menos 40 minutos para chegar ao encontro deles.

"Meu amigo estava demorando e meu pai começou a fazer amizade com os seguranças da estação, que também eram corintianos. A gente falando do jogo, da expectativa para a temporada e do nada meu pai sai para ir ao banheiro. Demorou um tempão, eu estava começando a ficar preocupado, e ele volta com oito espetinhos de churrasco e saiu distribuindo pro pessoal que estava trabalhando na estação". recordou.

A nova relação de João com o Corinthians

Pela primeira vez desde a morte do pai, o torcedor corintiano terá a oportunidade de acompanhar de longe o time do coração em Itaquera, mas o retorno ao estádio levará algum tempo — pelo menos até que parte da dor seja compreendida.

O fato é que, ao lado de sua, mãe Eliane Wingeter Silva (46), e da irmã, Vitória Wingeter Silva (20), João estará torcendo pelo Timão diante do Deportivo Cali no jogo desta noite.

O filho não terá o pai ao seu lado nas arquibancadas da Neo Química Arena, mas o amor pelo Corinthians e as lembranças ao lado de Reginaldo são mais fortes do que àquela noite trágica de 24 de março.

"Quando tudo isso aconteceu, pensei em nunca mais assistir um jogo do Corinthians. Eu estava muito triste, mas hoje tenho um sentimento de paz. Eu não tenho nem palavras para descrever o que o Corinthians significa na minha vida, ainda mais agora. É um amor muito grande, é o amor que meu pai me ensinou", desabafou.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi publicado, a Linha-8 Diamante é da ViaMobilidade, e não da CPTM. O erro foi corrigido.

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