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Grêmio: acordo para banir cântico racista da arquibancada falha após 2 anos

Clube fez mobilização interna em 2019 e quer retomar conversas com torcedores - Lucas Uebel/Grêmio FBPA
Clube fez mobilização interna em 2019 e quer retomar conversas com torcedores Imagem: Lucas Uebel/Grêmio FBPA

Jeremias Wernek

Do UOL, em Porto Alegre

11/03/2022 04h00

Em meados de 2019, o Grêmio iniciou a mais recente mobilização interna para banir o termo "macaco" de músicas entoadas por torcedores nos estádios. A iniciativa já tinha tido sementes lançadas cinco anos antes, logo após o 'caso Aranha', mas voltou ao dia a dia à época e rendeu acordo com líderes de torcidas organizadas, parte de um pacote de ações do clube contra o preconceito.

Naquele mesmo 2019, inclusive, houve aliança com a Defensoria Pública da União contra atos discriminatórios. Mas, dois anos e meio depois, a estrofe racista voltou às arquibancadas. O vídeo que mostra gremistas antes do Gre-Nal, no estádio Beira-Rio, cantando trouxe o tema à tona novamente.

As cenas foram gravadas antes do Gre-Nal 435, disputado na quarta-feira (9). Foi o primeiro registro de caso do gênero envolvendo torcedores do Grêmio nos últimos 30 meses.

O Grêmio materializou as iniciativas contra o racismo no final de 2019. Em evento na Arena do Grêmio, o clube assinou um Protocolo de Intenções com a Defensoria Pública da União, por meio do Grupo de Trabalho de Políticas Etnorraciais (GTPE-DPU), e enfatizou, em nota, que o documento previa "ações de enfrentamento ao racismo institucional e estrutural no âmbito do futebol".

O projeto chamado 'Clube de Todos' uniu setores do Grêmio em um grupo de trabalho para desenvolver medidas de combate à discriminação. A lista de ações inclui treinamento contínuo de colaboradores, palestras e, também, diálogo com organizadas.

"Houve uma série de ações por parte do Grêmio e dentre elas, havia acordo com as torcidas para que esses cânticos fossem banidos dos estádios e eles foram banidos. Mas os relatos são que eles voltaram agora, em 2022, nos estádios", relembra Marcelo Carvalho, diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, presente no evento realizado naquele dezembro de 2019.

Em julho daquele ano, o Grêmio já havia iniciado conversa com os torcedores. O gatilho da vez foi a denúncia de ofensas a Yony González, então jogador do Fluminense. O clube gaúcho acabou sendo absolvido no STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), mas viu a necessidade do tema ser abordado internamente.

"O clube já havia feito ações antes, mas em 2019 unimos forças. É um trabalho amplo e forte, mas exige iniciativas constantes", afirmou Alexandre Bugin, vice-presidente do Conselho Deliberativo do Grêmio e integrante do 'Clube de Todos'.

Em 2020, o Grêmio ajudou a identificar torcedor que fez gestos racistas. Neste ano, outro caso de um homem também contou com ajuda do clube para responsabilização. Agora, com o ressurgimento do cântico nos estádios, o Grêmio pretende reforçar às ideias em nova rodada de conversa com os torcedores.

"Já havia uma reunião no clube prevista para a próxima semana e nela vamos retomar os procedimentos, vamos trabalhar de maneira ainda mais intensa", apontou Bugin.

O encontro previsto é com o DTG (Departamento do Torcedor Gremista). Depois, haverá reunião com as torcidas organizadas.

O vídeo de quarta-feira

O caso está em análise pela Procuradoria do TJD-RS (Tribunal de Justiça Desportiva do Rio Grande do Sul). O Grêmio pode ser denunciado no artigo 243-G do CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva), que prevê punição com perda de pontos e multa.

Em nota nas redes sociais, a Geral do Grêmio afirma que ainda não estava no interior do estádio. Portanto, não foi responsável por entoar a música.

"A Geral do Grêmio repudia e é contra qualquer tipo de preconceito. Sobre ontem [quarta-feira, 9 de março], salientamos que a torcida ainda não estava dentro do estádio, nem a banda e os trapos, como é possível perceber nas imagens que circulam nas redes", disse a organizada em série de postagens — confira nota na íntegra no fim do texto.

O Grêmio, nos bastidores, diz ter a mesma informação. Que o cântico surgiu sem movimento de lideranças das organizadas. Ainda assim, há sentimento de frustração entre dirigentes envolvidos nas ações contra discriminação racial por novo episódio sobre o tema. Em nota, o clube repudiou as cenas.

"O Grêmio é um clube de todos, e temos muito orgulho disso. No nosso sangue e na nossa história estão as marcas dos povos do mundo todo. Manifestamos total repúdio a qualquer manifestação de cunho racista ou preconceituoso. Temos certeza de que a absoluta maioria da torcida gremista e dos cidadãos gaúchos também repudiam atos dessa natureza. A busca por combater ações discriminatórias é diária dentro do Grêmio, com uma série de ações práticas nesse sentido, e essa postura permanecerá para que episódios de preconceito de qualquer ordem não sejam mais vistos dentro de um estádio de futebol e na sociedade", disse o texto oficial gremista sobre o caso.

Confira nota completa da torcida Geral do Grêmio

A Geral do Grêmio repudia e é contra qualquer tipo de preconceito. Sobre ontem, salientamos que a torcida ainda não estava dentro do estádio, nem a banda e os trapos, como é possível perceber nas imagens que circulam nas redes.

Nos surpreende que a velocidade com a qual o TJD acusa o Grêmio e a sua torcida não é mesma para denunciar a tentativa de homicídio cometida por torcedores do coirmão. 312 horas após o ocorrido, nenhuma denúncia foi feita.

Em contrapartida, em menos de 24h, o Tribunal já se manifesta contra o Tricolor. Parabenizamos a cúpula do Grêmio por ser ágil na publicação do seu repúdio, mas nos surpreende a inércia da gestão em não combater o péssimo tratamento que o seu torcedor recebe na casa do rival.

Dos desrespeitos sofridos pelo torcedor COMUM, citamos os ônibus superlotados. Em contrapartida, os 45 privilegiados da Cúpula chegam no Cartolão aos camarotes, com charutos e whisky. Enquanto 2 mil sócios entram e saem por um portão de 2 metros sem dignidade. Jamais nos Matarão!

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