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Messi: escola dos filhos e até passeio com cachorro explicam baixa no PSG

Lionel Messi lamenta pênalti perdido em jogo entre PSG e Real Madrid na Liga dos Campeões da Europa - REUTERS/Gonzalo Fuentes
Lionel Messi lamenta pênalti perdido em jogo entre PSG e Real Madrid na Liga dos Campeões da Europa Imagem: REUTERS/Gonzalo Fuentes

Thiago Arantes

Colaboração para o UOL, em Barcelona

05/03/2022 04h00

Nos últimos anos, o mundo sorriu vendo Lionel Messi fazer coisas extraordinárias com uma bola nos pés: dribles incontáveis, mais de 700 gols, 37 títulos e sete Bolas de Ouro. Enquanto isso, o craque argentino sorria com uma rotina bem mais simples, que incluía jantar com a esposa Antonella Roccuzzo, cercar-se de alguns poucos amigos e familiares, levar e buscar os filhos na escola, passear com o cachorro.

Essas duas facetas de Messi conviviam em harmonia na Catalunha. O pacato habitante de Castelldefels era a base que sustentava o craque que brilhava no Camp Nou, na vizinha Barcelona. Nos últimos seis meses, em Paris, esse equilíbrio se rompeu.

Contratado pelo PSG em setembro passado, o rosarino despediu-se do Barcelona aos prantos. Messi chorava porque saía — sem querer — do clube em que construiu sua carreira. E também porque deixava para trás uma parte importante da vida fora de campo.

Messi com os filhos e o cachorro de estimação - Reprodução - Reprodução
Messi com os filhos e o cachorro de estimação
Imagem: Reprodução

Os dois primeiros meses na capital francesa foram os mais complicados. A direção do PSG reservou para Messi, Antonella e os três filhos a melhor suíte do Le Royal Monceau, um hotel de luxo a 500 metros do Arco do Triunfo. Sobravam regalias, faltava privacidade.

Avesso a aglomerações e holofotes, Messi estava no centro da cidade mais visitada do mundo, com dezenas de fãs e paparazzi olhando para a janela de seu quarto. Os filhos se queixavam da falta de espaço e do que fazer. O trajeto do hotel até a escola levava mais de uma hora, com um Messi impaciente no trânsito parisiense. A esposa analisava opções de casas, tentando — e não conseguindo — encontrar algo que lembrasse a habitação onde viviam nos tempos de Barcelona.

"Ele queria se matar", brincou o companheiro Angel Di María, em entrevista ao diário Olé. Um dos poucos amigos de Messi em Paris, o "Fideo" é um porto seguro para o camisa 10 da seleção argentina (e agora camisa 30 no PSG). Tanto que, depois de 60 dias sem uma casa para chamar de sua, Leo e sua família escolheram viver em Neuilly-Sur-Seine, perto do amigo. O volante Leandro Paredes também é seu vizinho.

'Mini Argentina' e um vestiário fragmentado

Com os dois, Messi conseguiu levar a Paris um pedaço da "mini Argentina" que construiu nos tempos de Barcelona e que, na Catalunha, incluía os irmãos, colegas argentinos que viviam em Castelldefels e, eventualmente, algum "intruso" uruguaio — durante seis anos, Luis Suárez foi o melhor e mais presente amigo.

Messi, Paredes e Di María formam um dos grupinhos do fragmentado vestiário do PSG. A divisão fica clara pela percepção dos próprios companheiros. Com os brasileiros e os jogadores que falam espanhol, a relação é boa; quem já conhecia Messi diz que ele está "mais solto, mais falante".

Mas com os jogadores mais jovens e os franceses, não há diálogo. "Ele nunca fala nada, é muito tímido", afirma um integrante do segundo grupo. Mbappé, que aprendeu espanhol recentemente, faz parte da trupe dos sul-americanos.

Aprender o idioma poderia ajudar a quebrar o gelo, mas Messi ainda não mostrou interesse no assunto; Antonella, por sua vez, já começou as aulas particulares para se adaptar à nova cidade. Nesse ponto, nenhuma novidade: em mais duas décadas de Barcelona, ele jamais se esforçou para falar catalão, embora chame os filhos de "catalano-argentinos".

Entre os companheiros, o diagnóstico é que a estrela argentina tem pecado por uma espécie de "excesso de humildade". Na tentativa de não querer chegar como um rei, ele adotou um perfil baixo demais. Uma atitude em campo ilustrou essa tendência: no duelo contra o Manchester City, pela Champions League, em setembro, Messi deitou atrás da barreira antes de uma falta. Uma atitude no mínimo incomum para um dos maiores jogadores da história.

Lances como aquele fomentam entre dirigentes, companheiros e imprensa a teoria de que o craque ainda não encontrou o seu lugar no clube. Quando Neymar chegou ao Barcelona, em 2013, Johan Cruyff afirmou que "um galinheiro não poderia ter dois galos". A previsão do holandês caiu por terra com as conquistas da dupla no clube catalão. O cenário no PSG atual é ainda mais complexo. Com pelo menos três "galos", trata-se de um vestiário "com muitas sensibilidades diferentes", na definição que circula no entorno do clube.

A gestão de tantas "sensibilidades" fica a cargo de Mauricio Pochettino. Quando o PSG anunciou a contratação, o treinador argentino apressou-se em ligar para um amigo em Barcelona. Do outro lado da linha, a mensagem não foi de empolgação, mas de advertência: "Leo precisa mudar a forma de jogar". Pochettino, na percepção do clube, ainda não achou esse novo papel para sua estrela.

Por enquanto, Messi tem jogado de forma parecida aos últimos anos, mas os números são muito diferentes. Líder de assistências da Ligue 1, com 10 (ao lado de Mbappé), ele marcou apenas 7 gols em meia temporada (2 no Francês e 5 na Champions); na fase final no Barcelona, foram 31 na temporada 2019-20 e 38 na 2020-21.

Enquanto o PSG espera a metamorfose de Messi em campo, o jogador mais premiado deste século ainda se adapta a mudanças menores, mas não menos decisivas. Quem conhece o craque assegura que, para ele, manter pequenas rotinas é tão importante quanto uma final de campeonato.