Topo

Mercadão, malandragem e deboche: volta do Flamengo agita a capital do samba

Leo Burlá

Do UOL, no Rio de Janeiro

17/02/2022 04h00

Capital carioca do samba e templo do "Baile Charme", Madureira voltou a ser a terra do futebol por uma tarde. Após nove anos, o estádio Aniceto Moscoso recebeu novamente o Flamengo em suas dependências, e a passagem rubro-negra foi suficiente para sacudir um pouco mais a rotina de um dos mais agitados bairros do subúrbio do Rio de Janeiro.

É bem verdade que o preço dos ingressos (R$ 120) afugentou os rubro-negros, que compareceram em baixo número —foram apenas 1.009 pagantes. Mas a presença de craques como Gabigol e companhia fez que o vermelho se espalhasse pelas ruas daquele pedaço do Rio, se juntando ao azul e branco da Portela e ao verde e branco do Império Serrano.

Horas antes de a bola rolar, o movimento de rubro-negros era nítido no Mercadão de Madureira, um dos polos de comércio popular mais famosos da Cidade Maravilhosa. Em meio a centenas de lojas de artigos para festa, brinquedos, acessórios e fantasias de Carnaval, torcedores rubro-negros se misturaram ao vaivém de consumidores e aproveitaram para espiar os preços.

Ainda que o mercado estivesse longe de seus dias cheios, o jogo foi bom para alguns comerciantes. Trajada com uma camisa com o nome de Diego às costas, uma vendedora de uma loja de brinquedos disse que as vendas seguiam fracas. Para Júlio, recepcionista e atendente de um restaurante por quilo, no entanto, o Fla ajudou a engordar o cofre.

"Se fosse sempre assim, melhorava bem. Tem que ser sempre no meio da semana esses jogos contra os grandes, o Vasco veio aqui no domingo. Mas aí não adianta, a gente fecha esse dia", disse ele. O pontapé inicial foi às 15h30, e o Flamengo venceu por 2 a 1.

Apesar da intensa fiscalização na Rua Conselheiro Galvão, o comércio popular também faturou mais um pouquinho. Mais longe dos fiscais da Prefeitura do Rio e da Guarda Municipal, ambulantes que trabalhavam na Avenida Ministro Edgard Romero, a principal de Madureira, vendiam de comida a acessórios para casa e também pegaram uma carona na popularidade do Fla.

"Espuminha do Mengão é R$ 5", gritava um vendedor que vendia um tubo com espuma que é popular no Carnaval.

Churrasquinho na laje
Flamengo1 - Leo Burlá/UOL - Leo Burlá/UOL
Torcedores confraternizam na laje durante Madureira x Flamengo
Imagem: Leo Burlá/UOL

Do lado de dentro da sede social, o clima foi de calmaria, mas a tranquilidade foi interrompida com a chegada do Flamengo a Conselheiro Galvão. O elenco entrou e foi recepcionado por dezenas de torcedores que gritavam por um aceno. Do alto, torcedores de rubro-negros em uma laje curtiam um churrasco e a visão privilegiada que tinham para o campo.

Mascote da malandragem
Seu Madura, mascote do Madureira - Leo Burlá/UOL - Leo Burlá/UOL
Seu Madura, mascote do Madureira, durante jogo contra o Flamengo
Imagem: Leo Burlá/UOL

Na porta do Aniceto Moscoso, o "Seu Madura", mascote que representa a malandragem do bairro, animava a galera na chegada. Em pleno verão carioca, o personagem sofreu um pouquinho com o calor, mas escapou para dentro da sede para tirar a "cabeça" e se refrescar um pouco. Na hora do jogo, nada de sombra e água fresca. Com um pandeiro na mão, Madura agitou o pessoal que estava nas cadeiras sociais e posou para fotos.

"Aqui só se torce para o Madureira?"
Inscrição na entrada da social do Madureira - Leo Burlá/UOL - Leo Burlá/UOL
Inscrição na entrada da social do Madureira
Imagem: Leo Burlá/UOL

Na entrada do setor destinado aos torcedores da casa, uma frase pintada na parede chama a atenção: "Aqui só se torce para o Madureira". Uma torcedora mais desavisada quase que fez o lema ir para o brejo, mas foi impedida por um policial que que avisou que ela estava no setor errado:

Aí já é bagunça demais também. Precisava vir de camisa do Flamengo?"

Lojinha e papagaio
Papagaio na sede social do Madureira - Leo Burlá/UOL - Leo Burlá/UOL
Papagaio na sede social do Madureira
Imagem: Leo Burlá/UOL

Em dia de Flamengo, a lojinha com produtos do Madureira recebeu mais visitantes, mas as vendas não foram lá essas coisas. O item que mais fez sucesso foi a camisa com alusão à Império Serrano. Também não podemos deixar de notar que, em frente ao auditório do clube, uma gaiola com um papagaio intrigou algumas pessoas.

Paçoca, jacaré e Mister

Em início de trabalho no Flamengo, Paulo Sousa ainda não tinha conhecido nenhum dos alçapões do futebol carioca. Em sua primeira experiência, sofreu com a proximidade do torcedor e teve de lidar com provocações.

"Tá mal, Paulo", debochou um deles.

Mas Diego Alves e Andreas foram os alvos escolhidos pela torcida local. Após o gol tricolor, um torcedor não se conteve e passou boa parte da partida provocando o camisa 1, que fez sua estreia na temporada.

"Sai daí, braço de jacaré. Sou muito mais o Hugo".

Andreas, que fez partida ruim, foi brindado com gritos irônicos de "valeu, Paçoca" e "entregador de paçoca", em referência ao lance na decisão da Libertadores que resultou no gol do título palmeirense.

Era o máximo de mau-humor ou insatisfação que cabia para aquela tarde em Madureira. Após o apito final, alegria em Conselheiro Galvão. Em um lugar que tanto sabe festejar, a vitória do Flamengo deu um pouco mais graça para uma tarde com ares de um Carnaval fora de época.

  • Veja as principais notícias no UOL News Esporte: