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Mundial de Clubes - 2021

Meia do Al Ahly ganhou apelido por cuidar de galinhas e hoje rejeita Europa

Mohamed Magdy, conhecido com Afsha, defendendo o Al Ahly na disputa do 3º lugar no Mundial de Clubes da temporada passada - Anadolu Agency via Getty Images
Mohamed Magdy, conhecido com Afsha, defendendo o Al Ahly na disputa do 3º lugar no Mundial de Clubes da temporada passada Imagem: Anadolu Agency via Getty Images

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

07/02/2022 22h38

A cultura dos apelidos perdeu um pouco de força com o passar do tempo no futebol brasileiro. Se antes eram comuns alcunhas como Zico, Pelé, Tostão, Dadá, entre outras, hoje é cada vez mais raro um Dudu ou Gabigol. Mas não no Egito. Por lá, segue firme o costume de apelidar atletas, e um dos destaques do Al Ahly, rival do Palmeiras na semifinal do Mundial de Clubes, hoje (8), carrega uma história curiosa.

Afsha pode muito bem se confundir com um nome, mas não é. Quem atende pela palavra é Mohamed Magdy, meio-campista de 25 anos e um dos destaques da equipe que surpreendeu o Monterrey, do México, ao vencer por 1 a 0, no dia 5.

O apelido tem explicação na história de vida do jogador. Jornais locais contam que, quando criança em Gizé, uma das maiores cidades do Egito, Magdy ajudava a família na venda de galinhas em uma região rural. Afsha é uma gíria utilizada para o ato de apanhar os animais, no qual o armador sempre foi muito bom.

Quando começou a jogar futebol, com o passar do tempo, ele carregava a bola debaixo do braço para todo o lugar. Até mesmo para a cama, na hora de dormir, estava com ela. A mãe, então, que havia dado o apelido a ele em razão do comércio de aves, manteve a alcunha ao pequeno. Ao invés das aves, o que ele carregava para todo lado era a bola, que anos adiante lhe traria o sucesso.

O meio-campista começou sua carreira no ENPPI, clube dos trabalhadores da indústria de petróleo. Em seguida passou pelo Pyramids e defende o Al Ahly desde 2019.

A falta de experiência fora do Egito não se deve a desconfiança de suas habilidades, mas sim por opção. Afsha recebeu proposta de clubes europeus como Celtic, da Escócia, Galatasaray e Besiktas, da Turquia. A todos, apenas agradeceu.

"Por mim eu jogarei no Ah Ahly a minha vida inteira. Não tenho razão para sair", disse em entrevista à TV Al-Nahar. "Os troféus, a história e os fãs que te apoiam são mais importantes do que todo o dinheiro do mundo", completou.

Suposta treta com Mohamed Salah

Afsha não foi convocado para a Copa das Nações Africanas, da qual o Egito foi vice-campeão, perdendo a final para Senegal, domingo (6), nos pênaltis. A exclusão feita pelo técnico Calos Queiroz chamou atenção e gerou dúvidas.

A razão para preterir o atleta do Al Ahly não seria técnica, e sim uma rixa com Mohamed Salah, craque do Liverpool e principal nome do país no esporte. A suposta treta foi levantada pela mídia local e reforçada pelo ex-jogador Khaled Al-Ghandour, que atualmente é comentarista de TV.

Afsha, em entrevista à MBC do Egito, afirmou que Salah não é tão habilidoso quanto outros jogadores, como Messi. Disse que sua capacidade está na velocidade, mas que não é comparável ao argentino. A declaração foi interpretada como um desrespeito ao ídolo e teria pesado para sua saída da seleção.

"O Salah é o motivo da minha exclusão da seleção? É ele quem vai me excluir? Não acredito. Todos nós, jogadores, vemos o que sai nas redes sociais", reclamou em entrevista ao mesmo veículo. "Me excluir por que eu disse que ele não era talentoso? Acho que não. Jogamos duas vezes depois disso. Fiz um gol, dei uma assistência para ele", acrescentou.

"Não me arrependo da minha declaração, pois não falei nada de ruim. Ele é artilheiro da Premier League, conquistou muitos títulos. Ele é como um irmão para mim", acrescentou.

"Quando falei de Mohamed Salah, disse que o talento dele está na velocidade, ao contrário de Messi, que Deus colocou seu talento na habilidade com a bola, mas isso não significa que Salah seja ruim, pois ele é o melhor jogador do mundo atualmente, e é impossível para qualquer jogador egípcio alcançar o que alcançou", finalizou em declaração à TV Al-Nahar.

Comparado a Iniesta

Com cinco gols em 16 jogos pela seleção, o meio-campista arrancou elogios enquanto recebeu chances. O técnico Carlos Queiroz, inclusive, comparou suas habilidades às de Andrés Iniesta, antigo astro do Barcelona e da seleção da Espanha.

O motivo é o estilo de jogo. Afsha joga centralizado, distribuindo passes e encontrando companheiros em condições de marcar. Além de aparecer na zona de conclusão em momentos decisivos. Na atual temporada ele soma quatro gols e quatro assistências em 11 jogos. Na anterior foram 10 gols e 13 assistências em 52 partidas.