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Corintiano, autor de gol que rebaixou Corinthians vai torcer para o Grêmio

Jeremias Wernek

Do UOL, em Porto Alegre

05/12/2021 04h00

Corinthians e Grêmio voltam a se enfrentar em um jogo que pode definir um rebaixamento para a série B. Uma ironia tão grande quanto a história do autor do gol que rebaixou o Timão em 2007. Jonas, responsável por abrir o placar naquele 02 de dezembro de 2007, é corintiano. O mesmo Jonas que, em 2021, não esconde o lado torcedor às vésperas do jogo da 37ª rodada do Brasileirão: "Vou torcer para o Grêmio", garante.

É confuso, mas é real. Jonas é natural do interior de São Paulo e, recentemente, revelou ser corintiano. Só que ele passou pelo Grêmio e prefere não ver outro clube que gosta indo para a Série B. O domingo (5) já começou para ele.

"O pessoal fala sempre comigo sobre esse jogo. Eu sou corintiano, mas eles brincam por eu ter feito o gol", conta Jonas ao UOL Esporte.

"Nos últimos dias, os corintianos nos grupos de WhatsApp estão me xingando já. Eles ficam falando a toda hora: 'bem feito por aquele 2007! O mundo dá voltas'. Eu sou corintiano e eles me zoam", acrescenta.

Grêmio e Corinthians empataram em 1 a 1 na última rodada do Brasileirão de 2007. Jonas abriu o placar nos primeiros minutos e assistiu ao time visitante empatar com Clodoaldo. A família do atacante gremista estava no estádio, mobilizada à espera de um milagre para livrar o alvinegro da Série B.

"Durante a semana foi tudo diferente, sabe? O Corinthians jogou com o Vasco em casa e o Corinthians perdeu. Aí eles foram para a última rodada precisando ganhar do Grêmio no estádio Olímpico. A gente brigava com chances remotas por uma vaga na Libertadores. Era quase impossível, vai? Mas a torcida do Grêmio se mobilizou bastante para o jogo. Particularmente, eu queria fazer um bom jogo. Eu estava pensando na próxima temporada. Cheguei em 2007, tive altos e baixos, e no penúltimo jogo eu joguei contra o América-RN lá em Natal e fui bem. Queria terminar o ano bem para estar no elenco de 2008. Pensei: 'pô, tenho que ir bem porque acabei de chegar'. Eu sabia da repercussão, Corinthians é Corinthians, cara. Eu lembro bem que meus irmãos, meus primos, foram ver o jogo. Pegaram avião, ficaram aqui em casa três dias antes. Todo mundo sabia que aquele jogo ia parar o domingo. Eu pensei muito na minha continuidade no Grêmio, eu tinha acabado de chegar", explica.

O clima em Porto Alegre era úmido. Quente. E de despedida: Mano Menezes já havia definido a saída do Grêmio e o destino, que só seria revelado depois, era justamente o Corinthians. Para Jonas, encarar o clube do coração foi novo teste de profissionalismo.

"Eu sou corintiano, cara. Até meus 18, 19 anos era fanático. Fanático mesmo. De ter bandeira, faixa da Gaviões, mas depois que a gente vira jogador de futebol, fica diferente. Não é que você para de torcer, mas muda. Eu comecei no Guarani, depois fui para o Santos. No Guarani, não joguei contra o Corinthians. Joguei contra quando estava no Santos. Mas assim, era minha profissão, eu saí de casa e deixei família por isso. Então, contra o Corinthians, era meu trabalho. Meu sustento, da minha família. Agora, quando o Corinthians jogava contra outros clubes [eu torcia]. Mas ainda assim não é igual. Agora, sou corintiano novamente, digamos assim. Agora, o pessoal brinca muito comigo. Manda mensagem no WhatsApp, eu tiro onda e eles tiram onda. Os vizinhos buzinam quando o Corinthians perde. Eu buzino quando o Corinthians ganha. Voltei a torcer (risos)", relata.

O problema é que no meio da "recaída" pelo Corinthians, tem o Grêmio. O time gaúcho soma 39 pontos e tem 93% de chance de ser rebaixado, segundo a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Uma derrota para o time de Sylvinho e Roger Guedes pode confirmar matematicamente a queda.

"A vida é louca, né? Agora inverteu!", brinca Jonas. "Mas o Corinthians já está na Libertadores, então vou torcer pelo Grêmio. Não quero que o Grêmio caia, viu? Isso está bem tranquilo aqui, tenho carinho e respeito enorme pelo clube. Todos os corintianos estão pensando diferente de mim, mas eu vivi os dois lados", justifica o ex-atacante.

Papo com Vampeta em campo

As lembranças daquele Grêmio e Corinthians são bem vivas na memória de Jonas. O contexto do jogo, detalhes da disputa com o Goiás para fugir do fim da tabela. E até de como foi a partida mesmo.

"O jogo em si foi tecnicamente difícil, não foi dos melhores. O Corinthians estava com toda aquela apreensão e tal. A gente com pouca coisa, quase sem objetivo. A gente tinha pouca ambição naquele jogo. Confesso que no início foi quente, mas depois foi muito tranquilo o jogo", comenta Jonas.

Com o relógio rodando, a apreensão corintiana foi aumentando em Porto Alegre. E lá pelas tantas, até mesmo em campo, o assunto veio à tona.

"Uma hora eu falei com o Vampeta no meio do jogo. Ele olhou e falou: 'não estou acreditando, cara'. Eu falei: 'nossa, que situação' e ele sem acreditar soltou: 'eu tô achando que não vai dar para nós'. Isso tudo numa daquelas horas em que o jogo para por alguma coisa, sabe? Ele até falou: 'vai devagar aí, vai', como é até comum no jogo, sabe? Mas foi rapidinho, papo curto, e a gente seguiu jogando normal", detalha.

Jonas planeja assistir ao jogo ao lado da família, que também tem o Corinthians como clube do coração. Mas ainda assim, arrisca até palpite.

"Vou falar que vai dar Grêmio, cara. Vai ser 2 a 1", arrisca. "Os caras vão me matar, mas não quero que o Grêmio caia. Tenho muita gratidão pelo Grêmio, sabe? Se fosse em outra situação, poderia falar 100% que ia torcer pelo Corinthians, mas o cenário hoje é esse. Vai dar Grêmio", finaliza.

Desde 2011, quando Jonas trocou Porto Alegre pela Espanha, a torcida do Grêmio não torce tanto para ele acertar.

FICHA TÉCNICA
CORINTHIANS X GRÊMIO

Data e hora: 05/12/2021 (domingo), às 16h (horário de Brasília)
Local: Neo Química Arena, em São Paulo (SP)
Transmissão na TV: SporTV e Premiere
Árbitro: Bruno Arleu de Araujo
Auxiliares: Rodrigo Figueiredo Henrique Correa e Daniel do Espirito Santo Parro
VAR: Rodrigo Nunes de Sá

CORINTHIANS: Cássio, Du Queiroz (João Pedro), Gil, João Victor e Fábio Santos; Xavier, Giuliano e Renato Augusto; Willian (Gabriel Pereira), Róger Guedes e Jô
Técnico: Sylvinho

GRÊMIO: Gabriel Grando; Rafinha (Vanderson), Geromel, Kannemann e Cortez (Diogo Barbosa); Thiago Santos, Lucas Silva, Campaz; Jhonata Robert, Ferreira e Diego Souza
Técnico: Vagner Mancini