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Árbitro agredido pede banimento de atleta: "Que nunca mais jogue futebol"

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

06/10/2021 15h04

Rodrigo Crivellaro ainda está em recuperação. Após deixar o hospital e ficar em observação, o árbitro de 29 anos, agredido pelo jogador Willian Ribeiro em jogo da Série A2 do Gauchão, na segunda-feira (4), já se encontra em casa e passa por exames de rotina. Em entrevista ao UOL Esporte, ele disse que não se recorda do momento da agressão, que não guarda rancor ou sente raiva, mas pede banimento do atleta e prisão.

"Eu só lembro que estava no jogo, fui dar um cartão amarelo para este jogador por reclamação. E já não me lembro da aplicação do cartão, nem da agressão. Só me lembro de acordar no hospital", contou, por telefone, direto de Santa Maria, cidade onde mora no interior gaúcho.

"Estava um jogo pegado, era importante para os dois times, um jogo de classificação. Mas nada fora do normal. Eu não tinha chamado a atenção deste jogador em nenhum momento, foi um lance sem explicação. Tinha até outros jogadores gritando mais do que ele", contou.

Crivellaro já tem experiência na arbitragem. Defende o escudo da Federação Gaúcha de Futebol há seis anos e até já tinha sido quarto árbitro em jogo com participação de Willian.

"Ele não fez nada demais quando fui quarto árbitro em jogo dele. Nem cartão tomou", revelou.

Willian tem histórico violento e vários clubes na carreira. Com 30 anos, já se envolveu em briga com árbitro, já agrediu o pai de um adversário em jogo de categorias de base e recentemente acertou um soco em um torcedor do São Paulo de Rio Grande, clube que defendia até ter vínculo rescindido pela atitude contra o árbitro.

"Eu fiquei sabendo depois do jogo desse histórico dele. Com certeza ele fez o que fez porque já tinha feito outras vezes", opinou.

Willian Ribeiro foi solto na noite de ontem e responderá por tentativa de homicídio. O inquérito tem prazo de 10 dias para ser concluído. O São Paulo de Rio Grande, ainda na noite de segunda-feira, rescindiu o contrato com o jogador. O TJD-RS irá julgar o caso e a pena pode afastar o atleta de atividade por 180 dias.

O jogador constituiu defesa nas últimas horas. O UOL Esporte entrou em contato com o advogado de Willian e irá atualizar a matéria assim que tiver um posicionamento.

Desejo de justiça

As imagens fortes não trazem qualquer sentimento a Rodrigo. Ao ver o vídeo em que o atleta aparece o chutando no chão, ele se diz tranquilo.

"Confesso que não fico com raiva, nada assim... Não fico apavorado também. Talvez por ter acontecido comigo, não sinto nada disso. Aconteceu, passou, vida que segue", contou.

Mas o árbitro quer que o agressor responda por seus atos. Crivellaro diz não ter raiva, mas espera que ele não retome a rotina esportiva.

"Não fico com raiva, tenho certeza que a vida dele será muito pior do que a minha, a minha só tende a melhorar. Mas espero que ele nunca mais jogue futebol e fique preso por um bom tempo", explicou.

Volta ao apito e carinho da família

O desejo é voltar a apitar jogos assim que a liberação médica ocorrer. Rodrigo ainda precisará de algumas semanas com colete cervical e não deve mais comandar partidas neste ano pela proximidade do fim da temporada, mas já pensa no regresso. Ainda com algumas dores, ele já imagina como será a retomada.

"Vou voltar a apitar, com certeza, o mais rápido possível. Não sei se vou pensar no lance, talvez virá na cabeça, talvez eu tenha mais cuidado com certos jogadores, porque a gente fica sabendo quem são os mais esquentadinhos. Talvez ter um cuidado redobrado. Mas é difícil de acontecer isso, tanto que é a primeira vez que ocorreu e tomara que não ocorra nunca mais", contou.

Para recuperação, o carinho da esposa, Maiara, e do filho, Alexandre, de 1 ano e dois meses, está sendo muito importante.

"Minha esposa foi a Venâncio Aires para me ver, ficar comigo no hotel, descansar. Foi bom ter ela do meu lado. Ontem mesmo voltei para Santa Maria, vi minha mãe, minha sogra, meu filho, foi bom rever todo mundo, e agora é descansar e melhorar a cada dia", finalizou.