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"Tá em crise? Chama o Chile": Brasil enfrenta freguês para esquecer o vice

Jogadores do Brasil comemoram gol marcado contra o Chile nas quartas de final da Copa América, em julho - Lucas Figueiredo/CBF
Jogadores do Brasil comemoram gol marcado contra o Chile nas quartas de final da Copa América, em julho Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

02/09/2021 04h00

Tem algumas coisas que Galvão Bueno sempre fala nas transmissões, que ficam guardadas. Pode ser algo bem específico, do tipo "ganhar é bom, mas ganhar da Argentina é muito melhor", ou algo mais genérico — "ele é perigoso", sobre a eventual ameaça da vez do outro lado. Uma destas frases tem relação com o adversário de hoje (2) da seleção brasileira, pela nona rodada das Eliminatórias da Copa do Mundo do Qatar. O time de Tite enfrenta o Chile às 22h (de Brasília), no Estádio Monumental de Santiago. E para Galvão é assim: "Tá em crise? Chama o Chile".

O bordão tem a ver com a freguesia histórica dos chilenos, que venceram só oito jogos em 73 disputados. O Brasil soma 51 resultados positivos, entre eles alguns representativos que ajudaram na superação de momentos de instabilidade até em Copa do Mundo. Menos de dois meses depois da derrota contra a Argentina que rendeu o vice da Copa América e dúvidas sobre o status da equipe, a busca é por redenção. Aí que entra a mística.

Galvão Bueno não se lembra ao certo o contexto da primeira vez em que disse a frase. Em 2014, durante participação no programa "Esporte Espetacular", especulou que pode ter sido na Copa do Mundo de 1998. O Brasil perdeu por 2 a 1 para a pouco tradicional Noruega no terceiro jogo da primeira fase, o que criou um clima de pessimismo no ar sobre a campanha e a real qualidade da equipe dirigida por Zagallo.

Nas oitavas de final toda essa suspeita foi dissipada com uma goleada por 4 a 1 sobre o Chile. Dois gols de Ronaldo e dois de César Sampaio — atualmente auxiliar de Tite na seleção brasileira. "Tá em crise? Chama o Chile".

César Sampaio - Clive Brunskill/Getty Images - Clive Brunskill/Getty Images
César Sampaio comemora um dos gols marcados pela seleção brasileira contra o Chile, em 1998
Imagem: Clive Brunskill/Getty Images

O resultado abriu caminho para o time chegar à final em que foi derrotado pela França. Existem outros dois casos marcantes que justificam o bordão durante a "Era Dunga".

Copa América 2007

O Brasil estreou mal no torneio disputado na Venezuela, com derrota por 2 a 0 para o México. O resultado aumentou a pressão que o time carregava desde a eliminação na Copa do Mundo da Alemanha no ano anterior e deixou o ambiente péssimo. O bom é que o adversário da segunda rodada era o Chile, e a seleção venceu por 3 a 0, com três gols do artilheiro Robinho, para respirar.

Robinho - Tony Marshall - EMPICS/PA Images via Getty Images - Tony Marshall - EMPICS/PA Images via Getty Images
Robinho encara a marcação de Fuentes num dos três duelos Brasil x Chile de 2007
Imagem: Tony Marshall - EMPICS/PA Images via Getty Images

O adversário se repetiu nas quartas de final e a vitória foi ainda melhor: 6 a 1, gols de Juan, Júlio Baptista, Josué, Vágner Love e dois de Robinho. A sequência da Copa América teve vitória sobre o Uruguai nos pênaltis e título conquistado com um 3 a 0 sobre a Argentina de Verón, Riquelme, Messi e Tevez.

Eliminatórias 2008

Apesar do título da Copa América, o trabalho de Dunga não inspirava confiança na primeira passagem. A seleção chegou a junho de 2008 com três jogos sem vencer —derrotas para Venezuela e Paraguai e empate com a Argentina. O treinador sofria pressão no cargo com o quarto lugar das Eliminatórias, ouvia o coro "Adeus, Dunga" nos jogos no Brasil e era constantemente vaiado na hora das substituições.

Mas tinha o Chile pelo caminho e uma nova vitória por 3 a 0 em Santiago, em setembro, acalmou o ambiente. Luis Fabiano, duas vezes, e Robinho marcaram os gols. Dunga respirou no cargo e conseguiu chegar até a Copa do Mundo da África do Sul.

Luis Fabiano - Michael Steele/Getty Images - Michael Steele/Getty Images
Brasil enfrentou o Chile nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2010, com Dunga, e venceu por 3 a 0
Imagem: Michael Steele/Getty Images

A última derrota

A última derrota do Brasil para este adversário foi na segunda passagem de Dunga, em 2015. A seleção ostentava a marca de 15 anos sem perder até os 2 a 0 sofridos para a equipe do técnico argentino Jorge Sampaoli, com gols de Vargas e Sánchez e "olé" nas arquibancadas.

Com Tite no comando, foram dois jogos diante do Chile e duas vitórias: 3 a 0 nas Eliminatórias da Copa da Rússia, em 2017, com gols de Gabriel Jesus, duas vezes, e Paulinho; e 1 a 0 agora em julho, pelas quartas de final da Copa América. O Brasil jogou 48 minutos com um jogador a menos, mas venceu com gol de Lucas Paquetá. O confronto de hoje (2) será o terceiro.

O retrospecto geral aponta o seguinte: 73 jogos desde 1916, com 51 vitórias do Brasil, 14 empates e oito vitórias chilenas. O aproveitamento brasileiro no confronto é de 76,2% dos pontos disputados, contra 17,3% da seleção do Chile. Além disso, são 165 gols marcados pelo Brasil (média de 2,2 por jogo), contra 61 dos adversários. "Tá em crise? Chama o Chile".

FICHA TÉCNICA
CHILE x BRASIL

Competição: Eliminatórias da Copa do Mundo, 9ª rodada
Local: Estádio Monumental David Arellano, em Santiago (Chile)
Data/hora: 2 de setembro de 2021 (quinta-feira), às 22h (de Brasília)
Árbitro: Diego Haro (Peru)
Assistentes: Jonny Bossio e Jesus Sanchez (ambos do Peru)
VAR: Victor H. Carrillo (Peru)

CHILE: Claudio Bravo; Paulo Díaz, Gary Medel e Maripán; Isla, Aranguiz, Erick Pulgar, Arturo Vidal e Mena; Eduardo Vargas e Iván Morales. Técnico: Martin Lasarte.

BRASIL: Weverton; Daniel Alves, Éder Militão, Marquinhos e Alex Sandro; Casemiro, Bruno Guimarães e Lucas Paquetá; Vini Jr (Matheus Cunha), Neymar e Gabigol. Técnico: Tite.