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OPINIÃO

Mattos: Copa América pode se voltar contra o governo e a CBF, é arriscado

Do UOL, em São Paulo

01/06/2021 11h01

A Conmebol anunciou ontem o Brasil como sede da Copa América após a desistências da Colômbia, devido a um momento de protestos políticos, e Argentina, pelo agravamento da pandemia no país, mas a articulação da CBF junto ao governo federal para a realização da competição em solo brasileiro ocorreu justamente em um momento no qual o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi alvo de protestos nas ruas no último sábado (29), com a pandemia levando a mais de 1.800 mortes por dia em média.

No UOL News Esporte, com Domitila Becker, Rodrigo Mattos afirma que a CBF e o governo brasileiro fazem uma aposta arriscada com a realização da Copa América no país, lembrando que o evento pode se voltar contra eles, como ocorreu com a Copa das Confederações no Brasil em 2013, iniciando os protestos contra a então presidente Dilma Rousseff (PT).

"É uma aposta arriscada do governo e da CBF que foi feita. Digamos que dê tudo certo no sentido de que eles consigam organizar essa Copa América, é bom lembrar que em 2013 teve uma competição no meio de um país agitado, que foi a Copa das Confederações e ela se tornou o catalisador de todos os protestos, foi bem decisivo para o desgaste do governo Dilma, na época", diz Mattos.

"Agora você já tem um início de protestos contra o governo federal e você de repente está criando hora e dia marcado para protesto, então, o governo está apostando nessa simbologia de que o futebol, vamos abrir tudo, o que futebol traz essa simbologia, se está tendo futebol, está tudo normal, todo mundo na rua, mas pode se voltar contra ele e contra a CBF também, é uma aposta bem arriscada", completa.

O jornalista vê a organização de forma atrapalhada, sem considerar que não basta a realização dos jogos sem público, já que as aglomerações podem ocorrer no entorno dos estádios e aponta que desta vez há a pandemia como agravante além dos protestos contra o governo, com uma média alta de mortes diárias no Brasil.

"É óbvio que é até meio redundante a gente ficar dizendo que é um absurdo estar sendo organizada aqui, parece uma coisa óbvia que a gente está dando explicação para uma criança, que o único lugar que está tendo 2 mil mortes vá improvisar uma competição internacional, é o absurdo dos absurdos, agora, diante desse cenário, o que eles vão fazer é ainda pior do que vai causar de desgaste dentro do país, porque você imagina se isso começa a causar um monte de aglomerações, não só de protestos, mas de torcida do lado de fora", diz Mattos.

"Não é só futebol sem público e aí tem lá, eles falaram, delegações de 65 pessoas de cada país e está resolvido, vamos fazer um protocolo, que nem existe, um protocolo sanitário que nem existe, e está tudo resolvido. Não é o caso, vai causar uma balbúrdia no país, não sei se esse era o objetivo do governo, mas vai causar uma balbúrdia no país em um momento em que nós não podemos nos dar a esse luxo, pelo menos em 2013 não vinham morrendo 2 mil pessoas por dia", conclui.