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"Não à Copa América" vira pauta de protestos sociais na Colômbia

Torcedores de diferentes times da Colômbia, como Atlético Nacional, América de Cali e Millonarios, encabeçam protesto - Reprodução/@parodeportivo
Torcedores de diferentes times da Colômbia, como Atlético Nacional, América de Cali e Millonarios, encabeçam protesto Imagem: Reprodução/@parodeportivo

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

19/05/2021 04h00

Grupos de torcedores colombianos têm feito manifestações contra a realização da Copa América no país. Ontem (18), com destaque para a "Disturbio Rojo", torcida organizada do América de Cali, alguns coletivos estenderam faixas e entoaram cantos na frente do prédio da Federação Colombiana de Futebol, ao norte da capital. Não houve registros de violência.

Está prevista para hoje (19) uma manifestação coletiva ainda maior das torcidas de vários clubes na frente do estádio El Campín. São esperadas milhares de pessoas.

A realização da Copa América não tem sido bem vista em meio aos protestos sociais que avançam no país. Como informou o colunista do UOL Esporte Marcel Rizzo, a Argentina se prepara para receber sozinha a competição de seleções que antes seria dividida com a Colômbia. Reuniões ocorrem na Conmebol com presidentes de federações, patrocinadores e detentores de direitos de transmissão para que uma decisão seja tomada logo.

O jornalista Roman Gómez acompanhou a manifestação de ontem pelo diário "Publimetro" e notou o espírito das ruas: "O país está numa revolução social e as pessoas não querem que o futebol seja usado como distração das coisas que estão acontecendo. Não querem que se jogue futebol enquanto acontece a greve nacional. Não é um ataque à Copa América em si, mas é uma demanda incluída nas manifestações contra o governo."

Torcedor - Reprodução/@parodeportivo - Reprodução/@parodeportivo
"Não queiram esconder os mortos com futebol"
Imagem: Reprodução/@parodeportivo

A onda de protestos do país começou por causa de um projeto de reforma tributária que estava em vias de ser votado pelo Congresso do país. Esse projeto tinha pontos polêmicos, que incluíam o aumento de impostos sobre produtos básicos e sobre a renda da classe média, que o Governo argumentava que garantiriam a continuidade dos programas sociais iniciados durante a pandemia. O projeto foi retirado da pauta após quatro dias de protestos populares, mas a população decidiu continuar nas ruas.

Críticos argumentam que os protestos perderam o foco após a retirada do projeto, mas a desigualdade social, a violência policial decorrente dos conflitos das primeiras manifestações, posições do Governo e a lentidão do plano de vacinação local contra covid-19 estão entre os argumentos de quem comanda a chamada "Greve Nacional". O país vacinou, com pelo menos uma dose, menos de 10% de sua população.

O futebol entra no pacote das manifestações inclusive por uma razão histórica, como explica Roman Gómez:

Em 1985, na época dos cartéis de Pablo Escobar e os demais e da guerrilha, foi tomado o palácio da Justiça e os militares rapidamente tentaram recuperar, então nesse confronto houve uma série de crimes e assassinatos. Neste momento, o Ministério das Comunicações decidiu que se exibiria na TV um jogo de futebol entre Millonarios e Unión Magdalena para todo o país e as imagens da invasão não foram exibidas. Desde então isso não se perdoa na Colômbia, é cultural. As pessoas não querem futebol diante de protestos tão graves."

Torcedores simpatizantes dos protestos sociais não queriam que os clubes do país envolvidos na Libertadores e na Sul-Americana realizassem jogos por lá durante a greve. A solicitação foi descumprida, o que culminou no clima de guerra visto semana passada em diversos jogos, inclusive de times brasileiros. Por isso, houve adiamentos, remarcações e mudanças de sede para outros países.

Inclusive, há grandes chances de Colômbia x Argentina, em 8 de junho, pela oitava rodada das Eliminatórias para a Copa do Mundo do Qatar, ser transferido para Miami, nos Estados Unidos.

Faixa - Reprodução/@ContraPoder6 - Reprodução/@ContraPoder6
Faixa "Não à Copa América" em frente à Federação de Futebol da Colômbia, ontem (18)
Imagem: Reprodução/@ContraPoder6

De acordo com dados oficiais, já são ao menos 42 mortos e 1500 feridos desde 28 de abril, mas grupos locais argumentam que os números são ainda maiores e há muitos desaparecidos. A ONU manifestou atenção sobre o uso excessivo da força por parte dos departamentos de segurança do país.

Enquanto isso, a Copa América segue no calendário. A seleção brasileira estreia dia 14, uma segunda-feira, contra a Venezuela, em Medellín. Depois joga dia 18 frente o Peru, em Cali, dia 24 diante da Colômbia, em Barranquilla, e no dia 28 encara o Equador, em Bogotá. Se ficar nas duas primeiras colocações, joga as quartas de final na Colômbia, mas se terminar em terceiro ou quarto viaja à Argentina. A final está marcada para 10 de julho, um sábado, em Barranquilla.

A tag "NoALaCopaAmericaEnColombia" é uma das mais populares nas redes sociais do país.