Santos e São Bento já fizeram grandes jogos nos tempos de Pelé e Paraná
O mesmo Santos e São Bento que pode definir quem vai cair para a segunda divisão neste domingo (9), já foi um grande jogo. De dois times de respeito no Campeonato Paulista.
O ano era 1963.
O Santos era um esquadrão que seria campeão do mundo. Primeiro ganhou a Taça Brasil, batendo o Botafogo de Mané Garrincha. Depois passou pelo Boca Juniors de Rattin e ergueu a Libertadores da América e, por fim, deixou para trás o Milan de Trapattoni, Mazzola, Rivera e Amarildo.
O São Bento tinha acabado de subir para a divisão especial do futebol paulista. O time tinha muito entrosamento, era dirigido por Wilson Francisco Alves e seus jogadores queriam mostrar seu valor.
"Não importava quem estava do outro lado do campo, a gente queria mostrar que poderia jogar em um time grande também", garante o ponta-esquerda Paraná, que integrava aquele time histórico do São Bento.
Aos 79 anos, Paraná continua morando em Sorocaba, mas não tem acompanhado a campanha do São Bento. Ficou sabendo que a equipe não tem andado muito bem, mas já teve informações de que o time nem de longe lembra aqueles tempos em que chegou a empolgar a cidade.
"Estou sabendo que o São Bento vai jogar com o Santos para ver quem cai, porque o meu irmão caçula me contou", desconversa Paraná. O irmão mais novo do ponta-esquerda da Copa do Mundo de 1966 é o ex-jogador Candinho. "Ele me disse que o time está muito ruim e que dá até vontade de voltar a jogar".
Nos tempos em que começou a despontar na carreira, Paraná ajudou o time a subir de divisão em 1962. Ele lembra que o estádio Humberto Realle tinha capacidade para apenas 3 mil pessoas e que o prêmio pela conquista da divisão de acesso foi muito pequeno.
"Nós ganhamos um título do clube de campo que o São Bento ainda ia construir. Prêmio eram os bichos por vitória, que também não eram assim tão grandes, e a gente usava para pagar as dívidas".
Por isso, naquele ano de 1963, Paraná e seus companheiros queriam mostrar que tinham condições de defender um time da capital. E aquele jogo do segundo turno, contra o grande Santos de Pelé era um bom momento para mostrar força e competência.
O São Bento lutava surpreendentemente pelas primeiras colocações. E em seu campo superlotado, o time beneditino deu um baile - como se dizia na época - na equipe do Rei Pelé.
"Eu lembro que nós ganhamos, mas não lembro quem fez os gols".
O ataque do São Bento tinha Afonsinho, que era de Sorocaba. Raymundinho, que tinha vindo emprestado do Santos. Picolé, que depois daquele ano foi para o Palmeiras. Bazzaninho, que tinha vindo emprestado pelo São Paulo. E Paraná, que depois foi para o clube do Morumbi, onde virou ídolo.
"Nosso time era muito entrosado e do time que subiu da segunda divisão, só o zagueiro Paulinho saiu e no seu lugar a diretoria contratou o Chicão."
Muito divertido com seu jeito de contar as coisas do futebol, Paraná detalha porque Paulinho foi embora. "Ele estava emprestado pelo Santos e jogava bem. Acontece que ele tinha uma namorada em Sorocaba e achou que ela estava fazendo macumba para que eles se casassem. Então, Paulinho pediu para sair e foi embora, voltou para Santos".
O jogo contra os santistas pelo segundo turno aconteceu no dia 30 de outubro de 1963. O Santos entrou em campo com Gilmar, Ismael, Mauro e Lima; Mengálvio e Calvet; Dorval, Rossi, Toninho, Pelé e Batista. O time do São bento jogou com Valter, Julião, Chicão e Salvador; Nestor e Odorico; Afonsinho, Raymundinho, Picolé, Bazzaninho e Paraná. O juiz foi Albino Zanferrari.
"Lembro que fizemos um gol logo no começo".
E Paraná estava certo. Foram dois gols de Bazzaninho: aos 4 e aos 21 minutos.
Pelé, que foi o artilheiro do torneio daquele ano com 22 gols, diminuiu aos 30 minutos, mas Picolé marcou 3 a 1 aos 44 minutos do primeiro tempo.
"Antigamente a gente jogava só com um volante, mas o Wilson Francisco Alves fechou o meio-campo com o Nestor e o Raymundinho. O nosso time não tinha, vamos dizer assim, um líder, mas o Odorico que tinha vindo da Portuguesa era o mais rodado, o mais experiente."
E no segundo tempo, o São Bento segurou a pressão santista, mesmo depois de Toninho Guerreiro ter diminuído a diferença aos 18 minutos. "Para ser sincero, a gente não se preocupava com o nome do time adversário, nem com Pelé, a gente queria entrar em campo e mostrar o nosso jogo, a gente queria aparecer. E foi o que fizemos".
Final de jogo 3 a 2.
Logo Paraná iria para o Morumbi defender o São Paulo.
O Santos acabou o campeonato em terceiro lugar. O São Bento logo atrás em quarto lugar.
Há 48 anos, aqueles times de Santos e São Bento passavam longe da segunda divisão.
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