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Quem é Bergantin, o técnico há mais tempo comandando o mesmo time no Brasil

Vinícius Bergantin assumiu o comando do Ituano em junho de 2017 e não saiu mais - Miguel Schincario/Ituano FC
Vinícius Bergantin assumiu o comando do Ituano em junho de 2017 e não saiu mais Imagem: Miguel Schincario/Ituano FC

Marcello De Vico

Do UOL, em Santos (SP)

17/04/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Vinícius Bergantin agora é o técnico mais longevo do Brasil entre Séries A, B, C e D
  • Treinador está no comando do Ituano desde junho de 2017, portanto há quase 4 anos
  • Como jogador, Bergantin defendeu o Hannover, da Alemanha, por oito temporadas
  • Revelado pelo Ituano, ex-zagueiro era o capitão do time no título paulista de 2002

A saída de Renato Gaúcho após quase cinco anos de Grêmio transformou Vinícius Bergantin, do Ituano, no técnico mais longevo do país entre todas as quatro divisões do Campeonato Brasileiro — o clube disputa a Série C. O treinador, que já havia feito história em Itu como jogador, com o título paulista de 2002, agora deixa sua a marca no comando da equipe: já são quase quatro anos no cargo.

"É um privilégio nos tempos de hoje. Como é que eu ia imaginar, em 2017, que em 2021 ainda estaria firme?", brinca Vinícius Bergantin em entrevista por telefone ao UOL Esporte.

Jogador do Ituano dos 13 aos 22 anos, o agora técnico retornou ao clube em 2012, substituindo Doriva como comandante do time sub-17. Foi oficializado como auxiliar-técnico em 2016 e, em junho de 2017, assumiu a vaga deixada pelo demitido Roque Júnior. E não saiu mais.

Vinícius Bergantin, técnico do Ituano, e Vanderlei Luxemburgo, técnico do Palmeiras - Divulgação/Ituano - Divulgação/Ituano
Vinícius Bergantin e Vanderlei Luxemburgo, então técnico do Palmeiras, em jogo de 2020
Imagem: Divulgação/Ituano

"É o que eu desejo para muitos amigos e companheiros da profissão, porque falta muita convicção de quem planeja o futebol, para você contratar ou formar esse treinador de acordo com as ideias do clube, e você entender que é um processo", acrescenta Bergantin, que tenta explicar a longa permanência cada vez mais rara no Brasil.

"É um conjunto de coisas. A abertura de porta que o Ituano me deu desde 2012, inclusive por eu ter começado no clube como atleta e ter essa identificação; o casamento de ideias, o planejamento de carreira que tiveram comigo... E também fui me especializando e moldando cada vez mais a ideia do clube, da maneira de jogar, de usar bastante os garotos da base, e isso tudo implantado desde a época em que o Juninho [Paulista] era o gestor até hoje, com o Paulo [Silvestri, atual gestor]", diz.

"Essa identificação deixa todo o processo mais forte. É bom para mim, para o clube, e tendo o trabalho sério dos dois lados, acaba resultando nessa longevidade", analisa.

De acordo com Bergantin, as decisões no Ituano sempre são tomadas pesando os dois lados: do clube e do treinador.

"A gente sempre troca informações. Com o próprio Juninho, que estava até 2019, sempre ajustávamos as ideias, os planejamentos, tinha a sensibilidade para trabalhar e colocar os garotos no momento certo, e nunca como uma intervenção. É uma troca que sempre foi dividida entre as partes. Não tem um só ingrediente, são várias coisas para que essa longevidade aconteça no futebol nacional", acrescenta.

Brasileiros eram malvistos na Alemanha

Grafite, do Wolfsburg, e Vinícius Bergantin, do Hannover 96, disputam a bola em jogo da Bundesliga de 2009 - Martin Rose/Bongarts/Getty Images - Martin Rose/Bongarts/Getty Images
Imagem: Martin Rose/Bongarts/Getty Images

Ainda como jogador, depois de passar por Ituano, São Caetano e Gama, Vinícius Bergantin resolveu se aventurar no futebol europeu. E pensa que essa atual longevidade dele é só como treinador? Nada disso. Foram oito temporadas consecutivas atuando pelo Hannover 96 antes de voltar ao Brasil para se aposentar pelo Guaratinguetá, em 2011.

"E olha que o Hannover teve uns quatro treinadores em oito anos, e já é um número grande. Para cá é maravilhoso. Mas vivi isso não só com treinadores, mas também com jogadores. Tive quatro ou cinco companheiros que também ficaram os oito anos", recorda.

E a passagem pela Alemanha rendeu boas histórias, como o dia em que o próprio técnico do Hannover na época — Ralf Rangnick, hoje chefe de Desenvolvimento e Esportes da Red Bull — ajoelhou-se diante do então zagueiro sem acreditar que um brasileiro havia retornado de férias no dia combinado.

"Eu gosto muito desse longo prazo, primeiro pela seriedade. Lembro que a primeira vez que cheguei de volta das férias do Brasil, me apresentei no dia e horário marcados, normal, e o treinador se ajoelhou, fez aquela reverência e falou: 'Poxa, é o primeiro brasileiro que eu pego e chega no horário [risos]'. Isso me chamou a atenção. Brasileiro não pode ter isso, pega mal", opina.

"E casou muito a mentalidade alemã com meu jeito de encarar a profissão. Acho que esses princípios vêm de família: 'trabalho é trabalho sério'. Eu cresci demais como pessoa e profissional lá. Se não tivesse machucado, poderia ficar lá por mais três ou quatro anos", conta Bergantin, que, apesar da divertida história, hoje vê os brasileiros com uma imagem muito superior à de quando atuava na Alemanha.

"Hoje melhorou muito, o brasileiro é muito bem-visto lá. Entendeu que não podia dar essa brecha, podia fechar a porta para outros companheiros que podiam fazer carreira num mercado tão legal que é a Bundesliga", completa.

Na Série A, Lisca assume posto

Já na Série A, quem tomou o posto de Renato Gaúcho como técnico mais longevo foi Lisca. Ele chegou ao América-MG em 30 de janeiro de 2020 e, portanto, está há um ano e três meses no cargo.

VEJA OUTROS TRECHOS DA ENTREVISTA

Saudade do futebol da base

É óbvio que jogar numa Allianz Arena cheia, no campo do Dortmund lotado, num Morumbi, Maracanã, é demais, mas eu tenho muita saudade do futebol da época de base, que pra mim era o futebol mais puro. Era mais leve. A gente só queria saber de jogar, se ajudar e crescer da melhor maneira.

Campanha do Ituano no Paulistão

É uma boa campanha [duas vitórias e um empate em cinco jogos]. O único jogo que fugiu da expectativa foi o último [derrota para o Botafogo-SP por 2 a 1 no Novelli Jr.], por ter sido em casa. Mas o início foi muito bom. Tudo dentro do normal.