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Da UTI à semifinal do Paulista em 300 dias: atacante vive sonho no Mirassol

Bruno Mota, atacante do Mirassol, ainda busca o primeiro gol no Campeonato Paulista 2020 - Fernando Roberto/Mirassol
Bruno Mota, atacante do Mirassol, ainda busca o primeiro gol no Campeonato Paulista 2020 Imagem: Fernando Roberto/Mirassol

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

01/08/2020 04h00

Mirassol e São Caetano empatavam em 0 a 0 pela Copa Paulista, em setembro do ano passado. Já estava quase nos acréscimos do primeiro tempo de um jogo morno, sem graça e zero decisivo. Até que o Mirassol teve uma falta pela esquerda do ataque, última chance de tentar um salseiro na área. Assim foi feito. A bola viajou a caminho do atacante Bruno Mota, mas o goleiro Tom saiu para evitar o perigo.

Teria sido mais um lance de um jogo morno e sem emoção se não tivesse deixado marcas no atacante vestido de amarelo.

"Eu estava muito feliz no Mirassol. Tinha acabado de chegar, já tinha feito gol outro dia, um momento bom. Aí, nesse jogo contra o São Caetano teve um lance que eu fui tentar cabecear, mas o goleiro saiu e acidentalmente acertou o joelho no meu rim. Eu senti uma dor muito forte depois da pancada, não conseguia respirar. Pensei que tivesse quebrado uma costela."

Bruno Mota até tentou voltar ao jogo com dores, mas não conseguiu. Terminou de ver o empate por 0 a 0 ainda no estádio e depois foi encaminhado a um hospital. Foi lá que o verdadeiro drama começou.

Bruno Mota - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
Imagem: Reprodução/TV Globo

"Fiz um raio-x. Enquanto esperava o resultado, fui ao banheiro porque estava apertado. E quando fui urinar, saiu preto. Não foi nem vermelho, foi preto mesmo. Ali eu fiquei desesperado. Ainda desmaiei duas vezes no hospital, com a pressão muito baixa. Viram que eu tinha uma mancha de sangramento e que meu rim estava dilacerado."

O jogador do Mirassol foi internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Base de São José do Rio Preto, interior de São Paulo.

Depois da tomografia foi preciso drenar o sangue e, então, saber o que poderia ser feito. Foram quatro dias na UTI até a junta médica abrir o jogo com Bruno Mota.

"Tinha duas opções: a primeira era operar e tirar meu rim. Eu poderia voltar a jogar em dois ou três meses, mas teria muita limitação no futuro na alimentação, por exemplo. A segunda opção era um tratamento conservador, mas aí eu levaria pelo menos seis meses para pensar em voltar a treinar. Fiquei muito dividido, foi quase uma sentença de que eu não faria mais o que eu amo", relembra o jogador de 24 anos.

Bruno Mota no hospital - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Atacante diz que temeu abandonar o futebol durante internação, em setembro e outubro de 2019
Imagem: Reprodução/Instagram

Bruno Mota optou pelo tratamento convencional, com medicação, observação e tempo. Uma longa espera. Nesse período, recebeu visitas diárias da esposa, Rozana, jogadores e profissionais do Mirassol, como o técnico Ricardo Catalá, do empresário Edivaldo Ferraz, amigos e familiares.

"Fui me recuperando. Fui pro quarto. Depois pra casa. Em dois meses, comecei a fazer academia de leve. Em três meses, comecei a fazer treinos físicos, fui melhorando, e, agora, estou aqui. Foi muito difícil ficar na UTI, me marcou, mas virou história para contar", relata.

O atacante que mal tinha conseguido entrar em campo em 2019 por causa de uma lesão grave num jogo morno, sem graça e zero decisivo e foi inscrito no Campeonato Paulista deste ano pelo Mirassol. Antes da parada motivada pela pandemia, somou pouco mais de 40 minutos em campo. Depois da pausa, foi titular nos três jogos que levaram o time do interior à semifinal — inclusive, na vitória sobre o São Paulo.

Bruno Mota - Fernando Roberto/Mirassol - Fernando Roberto/Mirassol
Bruno Mota jogou cinco vezes no Paulistão. Nota média no Sofascore é de 6,8
Imagem: Fernando Roberto/Mirassol

Entre a UTI e um estádio de Copa do Mundo para enfrentar o gigante Corinthians, 308 dias.

"Na minha cabeça parece que foi ontem. Eu até comentei com minha esposa: 'você tem noção que pouco tempo atrás eu estava em uma cama de hospital sem saber se eu ia continuar jogando futebol e agora vou estar na Arena Corinthians numa semifinal de Paulista?' Tem que glorificar o nome de Deus, é o sonho de todo atleta de time do interior."

Para Bruno Mota, este confronto entre Corinthians e Mirassol, amanhã (2), às 16h, vai passar longe de ser morno, sem graça e zero decisivo.

"Foi motivo de orgulho passar do São Paulo. Muitos falavam que seria fácil para eles, porque o Mirassol perdeu 18 atletas, oito titulares, e tal. Tudo bem, perdeu mesmo. Mas em campo são 11 contra 11. Nós sabíamos que não era impossível, o professor [Catalá] estudou bastante o São Paulo e cada um deu a mais para conseguirmos. Temos que sonhar e acreditar, vamos brigar para ser campeões. No futebol tudo pode acontecer e já estamos estudando o Corinthians para merecer."