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Fla: 'MP é presentão aos clubes', diz 1º cartola a cobrar por direito de TV

Márcio Braga (esq.) apoiou eleição de Rodolfo Landim no Flamengo - Divulgação/Flamengo
Márcio Braga (esq.) apoiou eleição de Rodolfo Landim no Flamengo Imagem: Divulgação/Flamengo

Eduardo Ohata

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/06/2020 04h00

Márcio Braga, 84, ex-presidente do Flamengo e primeiro cartola a cobrar os direitos de TV de jogos de futebol no país, festejou a Medida Provisória 984/2020, que dá aos clubes mandantes o direito de negociar os direitos de transmissão das suas partidas.

Segundo dita a Lei Pelé, em vigor hoje, os dois clubes que disputam um jogo, e não apenas o mandante, têm que estar sob contrato com a mesma emissora para que possa ser televisionado.

"É um presentão que o [presidente Jair] Bolsonaro deu aos clubes, agora [os dirigentes] precisam se mobilizar para a medida provisória passar no Congresso", aconselha Braga. "Não dá para os clubes deixarem passar essa oportunidade."

Na visão do ex-cartola rubro-negro, cujo grupo político apoiou na campanha à presidência o atual mandatário do Flamengo, Rodolfo Landim, quem ganha com essa mudança são os clubes, até mesmo os pequenos.

"É mentira de quem está com medo de perder dinheiro e poder que os pequenos serão prejudicados", argumenta Braga. "Quando, digamos, o Bangu receber o Flamengo e tiver o mando de campo, o dinheiro da TV irá para o Bangu; o Flamengo não poderá 'piar', vai ficar apenas com a sua parte da bilheteria." "Quem perde com a MP são as federações, que inclusive já ficam com parte da renda das partidas, a CBF, e a TV que hoje tiram vantagem da estrutura verticalizada do nosso futebol."

Paralelo com 1977

Braga enxerga um paralelo com o movimento de 1977, quando, em uma atitude pioneira, cobrou pela transmissão de uma partida de futebol do Flamengo pela TV.

Apesar de ter assegurado em lei esse direito, nenhum clube havia dado esse passo, temerosos em desafiar o poder. A TV Educativa ia às partidas para fazer o repasse aos canais comerciais.

O Flamengo deu o primeiro passo nessa direção, cobrar por seus direitos de TV, no Fla-Flu, disputado no aniversário do clube, em 15 de novembro de 77, foi criticado por outros clubes, irritou e tomou uma "dura" da cúpula da Globo e o caso chegou até ao gabinete de Geisel, o então presidente da república.

"Aquela foi nossa [dos clubes] carta de alforria, e veja quanta renda foi gerada aos clubes, agora podemos dar nosso grito de independência e, de novo, mudar radicalmente o sistema", compara Braga. "Como em 1977, novamente há clubes chiando contra a atitude do Flamengo, quando o que importa é a união."

A reportagem apurou que, após a assinatura da MP, Landim entrou em contato com Braga para lembrar da semelhança com o movimento disruptivo de 1977.

Cofundador do Clube dos 13, Braga agora define a MP como "um verdadeiro rastilho de pólvora" que tem o potencial para mudar radicalmente a estrutura do futebol nacional e permitir que os clubes deem o seu grito de independência. "Se aprovada no Congresso, a MP pode mudar tudo, vai ser um 'barata-voa', acabará com esse monopólio."

"É uma vergonha ver tanta corrupção, que até o FBI investiga nosso futebol, a solução é uma liga, que fez o que o futebol na Inglaterra, na Espanha, serem o que são hoje", explica Braga, longevo defensor do estabelecimento de uma liga.