Topo

Olheiro do Football Manager no Brasil já teve ajuda de 'alvos' e dá dicas

Sports Interactive / Reprodução
Imagem: Sports Interactive / Reprodução

Jeremias Wernek

Do UOL, em Porto Alegre

09/04/2020 04h00

Personagens brasileiros procuraram a equipe do Football Manager para atualizar o perfil em edições do jogo. Essa é uma das revelações do olheiro chefe do game no Brasil, Paulo Freitas, em entrevista ao UOL Esporte. O colaborador da produtora do simulador de futebol ainda conta como são definidos os atributos de cada jogador e dá dicas para usuários.

O Football Manager é uma derivação do Championship Manager, primeiro grande jogo de simulação de futebol. Nele, o usuário pode ser dirigente e treinador de qualquer clube do mundo. No Brasil, o FM não é vendido desde 2016 e ainda assim arrasta multidão de fãs.

"É extremamente inconveniente [não ter o jogo comercializado no Brasil]", admite Freitas. "O jogo tem quebrado recordes de usuários ao mesmo tempo desde que a pandemia [do novo coronavírus] começou", acrescentou.

O game arrebata usuários pela complexidade em sistema de treinos, detalhes em negociação e enorme banco de dados — com informações detalhadas de treinadores, auxiliares técnicos, funcionários de clubes grandes, médios e pequenos. E claro, perfil robusto de atletas.

"Já aconteceu algumas vezes [de personagens do game falarem com a equipe de olheiros do Football Manager]. Nem tanto para reclamar de algum atributo, mas, principalmente, para passar informações que estavam faltando", disse Freitas.

Advogado de formação, o olheiro chefe do FM no Brasil herdou o cargo do antigo coordenador do grupo de trabalho. Freitas conheceu os simuladores de futebol com a edição Championship Manager 97/98, mas se viciou mesmo com a versão CM 3.

Confira entrevista completa:

UOL Esporte: Como você se tornou chefe de análise do Football Manager no Brasil?

Paulo Freitas: Eu era assistente do pesquisador chefe anterior, quando ele saiu, eu fui promovido para o lugar dele.

UOL Esporte: Qual sua função na prática?

Paulo Freitas: A minha função é coordenar a pesquisa brasileira (que consiste também de vários outros pesquisadores), e também lidar com os pesquisadores dos outros países e com a companhia que produz o jogo (Sports Interactive).

UOL Esporte: Como funciona a apuração de dados sobre jogadores, clubes e comissão técnica?

Paulo Freitas: Não posso descrever o sistema exato, mas os dados são coletados de partidas, sites oficiais, registro de jogadores na CBF, etc. Depois convertidos para a database do jogo. As características dos jogadores, por exemplo, são convertidas em notas para os atributos.

UOL Esporte: Algum membro do jogo (jogador, treinador, preparador físico) já falou com você? Eles reclamaram de algum atributo deles no jogo?

Paulo Freitas: Sim, já aconteceu algumas vezes, não tanto para reclamar de algum atributo, mas principalmente para passar informações que estavam faltando.

UOL Esporte: A comunidade de fãs do FM é forte, mas durante a pandemia parece ter aumentado. A empresa também percebeu algo assim?

Paulo Freitas: Sim, já perceberam e estão promovendo ainda mais o jogo nas redes sociais. O jogo tem quebrado recordes de usuários ao mesmo tempo desde que a pandemia começou.

UOL Esporte: Como você lida com o fato de o jogo não ser vendido oficialmente no Brasil, pelas licenças?

Paulo Freitas: É extremamente inconveniente, mas um problema adicional é que agora está muito mais difícil recrutar gente nova para a pesquisa, já que menos brasileiros estão jogando o jogo.

UOL Esporte: Nesta quarentena, você está jogando mais Football Manager?

Paulo Freitas: Estou jogando bem mais do que antes, já que é uma boa forma de passar o tempo e de relaxar.

UOL Esporte: Qual seu save favorito?

Paulo Freitas: O meu save favorito é um que eu treinei vários times brasileiros, antes de me tornar técnico da seleção brasileira. Fiquei 12 anos como técnico da seleção e venci duas Copas do Mundo, além da Copa América e da Copa das Confederações. O mais interessante foi fazer experimentos, como jogar amistosos só com jogadores que jogam no Brasil.

UOL Esporte: O que dá mais trabalho na pesquisa para atualizar o banco de dados do jogo? Um clube pequeno ou os atributos de algum jogador de clube grande?

Paulo Freitas: Atributos de jogadores de clubes grandes são bem mais trabalhosos, mesmo que é mais fácil conseguir informações sobre eles, mas o nível de detalhe tem que ser maior. Mas, em geral, a parte mais complicada de atualizar é a comissão técnica dos clubes, já que não existe BID da CBF para eles, e em muitos casos é difícil julgar os atributos deles.

UOL Esporte: Como é formada a parte psicológica do jogador, onde indica se ele é líder ou tem dificuldade em lidar com pressão e crítica?

Paulo Freitas: Temos vários atributos referentes ao comportamento e a mentalidade do jogador, como o profissionalismo, ambição, lealdade, controvérsia, liderança e outros.

UOL Esporte: Quantas horas seguidas você já passou jogando FM?

Paulo Freitas: O máximo foi seis horas. Mas, normalmente, jogo umas duas ou três horas seguidas.

UOL Esporte: Qual foi a sua primeira experiência com o jogo?

Paulo Freitas: O meu primeiro jogo foi o Championship Manager 97/98, mas só comecei a jogar mais o jogo quando comprei o Championship Manager 3.

UOL Esporte: Tem alguma dica para os leitores que nunca jogaram? E para os fãs, algum truque secreto?

Paulo Freitas: Para quem nunca jogou o jogo, o ideal é começar primeiro com um clube mais forte, como o Liverpool ou o Barcelona, por exemplo, estes times já estão com elencos fortes, então, é mais fácil aprender o funcionamento básico do jogo sem ter tanta pressão. Para quem é mais experiente no jogo, é importante planejar o futuro do clube com antecedência, ainda mais no FM 2020 em que a diretoria do clube traça um plano de metas para os anos seguintes.