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Inter volta à final da Copinha após 22 anos e perder excelência na base

Time gaúcho volta a ganhar destaque na base após perda de espaço nos últimos anos - MARCO GALVãO/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
Time gaúcho volta a ganhar destaque na base após perda de espaço nos últimos anos Imagem: MARCO GALVãO/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Jeremias Wernek

Do UOL, em Porto Alegre

22/01/2020 04h00

O Internacional está de volta à final da Copa São Paulo de Futebol após 22 anos, depois de vencer o Corinthians por 3 a 1. Enquanto aguarda um possível Gre-Nal numa decisão que pode ser histórica, o clube já celebra uma campanha vitoriosa e, ao mesmo tempo, de recomeço. A vaga na decisão chegou mesmo após a chamada era dourada da base no Beira-Rio ter ficado para trás. De 2015 a 2018, o clube gaúcho sofreu com perda de poder de captação e também deixou de revelar talentos como fez no início dos anos 2000.

A última final de Copinha do Inter havia sido em 1998, quando o título foi conquistado diante da Ponte Preta, nos pênaltis, com o zagueiro Lúcio brilhando em campo. Agora, a decisão será contra Oeste ou Grêmio, que jogam hoje (22).

A presença na final da Copa São Paulo de 2020 é festejada duplamente. Pela jornada do time, que cresceu ao longo do torneio e venceu o Corinthians de forma incontestável, mas também por ser surpreendente —até certo ponto. A surpresa faz parte do contexto.

Durante anos, o Inter foi sinônimo de excelência na base. Além do trabalho de formação em si, o clube quebrou paradigmas na captação de talentos e ganhou valor agregado no mercado ao lançá-los e firmá-los no time principal. Não foram poucos, então, os casos de jogadores que elegeram Porto Alegre como destino de olho em um lugar no grupo principal. De 2015 para cá, o quadro mudou.

O rebaixamento, o encurtamento de seu orçamento e o crescimento de outros projetos de categoria de base no país (como o do Grêmio, por exemplo), fizeram a base vermelha andar várias casas para trás. A reforma se tornou urgente. Em 2018, a diretoria buscou análise de empresa belga sobre os processos da base e renovou contrato com a consultoria para aprimorar o dia a dia.

A eliminação para o Guarani na terceira fase da Copinha do ano passado, por um sonoro 5 a 0, foi a gota d'água, e a mudança foi adiante. Com troca de nomes e busca de novos profissionais no mercado.

Mesmo com os dois títulos consecutivos do Campeonato Brasileiro de Aspirantes, o terceiro veio no ano passado em cima do Grêmio, o Inter entendeu que a base tinha que ser repensada. Especialmente no que diz respeito aos times mais jovens, como o elenco que foi enviado a São Paulo agora (por estratégia, os jogadores estão abaixo da faixa etária do torneio).

Erasmo Damiani, ex-seleção brasileira, assumiu como coordenador da base do Inter, e o clube passou a lapidar o grupo que está em São Paulo agora. Em 2019, os jovens da categoria disputaram o Campeonato Brasileiro e a Copa RS sub-20 sem êxito.

Sob o comando de Fabio Matias, o Inter da Copinha agrega o talento de Praxedes e Cesinha ao empenho de nomes como Matheus Monteiro, Guilherme Pato e Lucas Mazetti.

De agressivo a criativo

A fase vencedora do Inter no profissional se misturou com a era dourada da base. Por anos a fio, o Beira-Rio via surgir e ser negociado um novo talento do 'Celeiro de Ases'. De Daniel Carvalho a Alisson, a fila rendeu milhões e ajudou a catapultar o clube para outro nível.

No ápice da era dourada, o Inter tinha postura agressiva no mercado da base. Tão incisivo a ponto de buscar Fred, atualmente no Manchester United, em operação até hoje criticada pelo Atlético-MG. O orçamento para a base foi turbinado ao longo dos anos e gerou ciclo vitorioso, mas a roda travou quando o time principal parou de dar espaço aos garotos.

Para voltar a garimpar talentos, o Inter se desdobrou com criatividade. Foi retomada a captação, com trabalho de campo com observação jogo a jogo. A agressividade, até com dinheiro para seduzir talentos, ficou de lado.

Praxedes, com passagem pela seleção brasileira de base, chegou em acordo com o Fluminense depois de polêmica envolvendo o Flamengo nas redes sociais. O Flu mantém percentual do volante. Cesinha foi buscado no Três Passos-RS após torneios estaduais.

E o elenco principal, sob comando de Eduardo Coudet, recebeu João Peglow como principal promessa da base. O meia, campeão mundial com a seleção brasileira sub-17, se junta a Bruno Fuchs, Heitor e Rodrigo Dourado no grupo.

A final da Copa São Paulo acontece no sábado, no Pacaembu. O Inter está lá, de olho em uma nova era dourada para a base.