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OPINIÃO

Em dezembro de 1981... Galvão fazia primeira grande transmissão na Globo

Galvão Bueno - Divulgação/TV Globo
Galvão Bueno Imagem: Divulgação/TV Globo

Chico Silva

Colaboração especial para o UOL, em São Paulo

20/12/2019 04h00

"Alô Brasil. Alô amigos da Rede Globo". Assim, em dezembro de 1981, um jovem Galvão Bueno começava a marcar seu nome na história. Aos 31 anos, o mais famoso locutor da TV brasileira foi escolhido por Ciro José, na época diretor de esportes, e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, o todo poderoso vice-presidente de operações, para narrar o mais importante jogo da história do Flamengo até aquele momento: a final da Copa Intercontinental de Clubes contra os ingleses do Liverpool, campeão europeu daquela temporada.

Imagem aérea panorâmica da TV na final de 81 - Reprodução transmissão - Reprodução transmissão
Imagem aérea panorâmica da TV na final de 81
Imagem: Reprodução transmissão

Um feito e tanto para Galvão, então um funcionário com apenas três meses de crachá. E ainda maior quando se tinha na casa um nome do tamanho de Luciano do Valle. Amanhã, 38 anos depois, o narrador volta à cabine de transmissão para se encontrar com os mesmos protagonistas daquela tarde de dezembro no Japão e madrugada no Brasil. O UOL Esporte Vê TV entrou no túnel do tempo (do YouTube) para reviver a partida de 1981 na Globo e mostrar semelhanças e diferenças de uma transmissão do início da década de 1980 com a que você verá no próximo sábado.

A TV dos anos 80

Assistir a um jogo de 1981 é uma viagem aos primórdios da moderna transmissão esportiva eletrônica. Esqueça aquela profusão de câmeras que não deixam escapar uma gota de suor sequer de um jogador no gramado. Aquela final entre Liverpool e Flamengo teve apenas cinco. Uma central, uma em cada área, outra no banco de reservas e uma panorâmica aérea -- a grande novidade do canal japonês NTV Sports, responsável pela geração das imagens da final.

Relógio da TV na final de 1981 - Reprodução transmissão - Reprodução transmissão
Relógio da TV na final de 1981
Imagem: Reprodução transmissão

Os replays eram escassos. Foram exibidos apenas nos três gols do Flamengo. Não havia placar na tela como vemos hoje e só era possível saber o resultado quando os gols saíam. O tempo de jogo era informado a cada cinco minutos num relógio gráfico que marcava o avanço progressivo dos ponteiros. Escalação com nome na tela e fotinho dos jogadores? Nada disso. Galvão usou o gogó para dizer quem seriam os onze titulares de cada equipe.

Narrador sem comentarista ou repórter

Um daqueles jogadores, o ex-lateral flamenguista Júnior, esteve em campo naquele dia e estará amanhã na cabine do Estádio Khalifa International, em Doha, no Qatar, ao lado Galvão e Roger Flores. Esse é outro detalhe vale menção. Se hoje o time global é formado por no mínimo cinco profissionais — narrador, dois comentaristas, analista de arbitragem e dois repórteres de campo —, Galvão segurou os 90 minutos da final de 1981 praticamente sozinho.

Só tinha um comentarista, Gerson, ex-meia da Seleção de 1970, mas ele estava no Brasil, enquanto o locutor estava do outro lado do mundo. Por conta das dificuldades técnicas, o Canhotinha de Ouro só conseguiu entrar duas vezes no ar nas quatro em que foi acionado durante o confronto.

Placar TV final de 81 - Reprodução transmissão - Reprodução transmissão
Placar TV final de 81
Imagem: Reprodução transmissão

Também não havia repórter de campo como conhecemos hoje. Se amanhã Galvão terá o apoio dos repórteres de campo Eric Faria e Marcelo Courrege, há 38 anos teve que se virar para informar aos telespectadores o que acontecia no Estádio Nacional de Tóquio. A Globo até tinha um profissional no gramado, mas Ricardo Pereira, hoje diretor do grupo em Portugal, não participou da transmissão e apenas gravou material para exibição nos telejornais da casa.

Também é legal notar que, na época, o famoso slogan "Futebol na Globo, aqui é emoção" era variável. As palavras ação, vida, disciplina e lazer se alternavam. E por falar em bordão, o Galvão do começo dos anos 1980 ainda não tinha inventado as frases que consagrou, como "Sai que é sua Taffarel", "olha o que ele fez", "Haja coração" e o seu tradicional grito de "olha o gol, olha o gol, olha o gol". Mas o inconfundível "Bem amigos da Rede Globo" foi ouvido no início do segundo tempo.

Flamengo foi e será o "Brasil" no Mundial

O que não mudou mesmo foi o ufanismo dispensado ao clube carioca. Qualquer semelhança com as recentes transmissões da Libertadores, e do jogo contra o Al Hilal da última terça-feira, não é mera coincidência. Logo na abertura da jornada, Galvão já dava o tom da transmissão. "Chegou o grande dia. O Flamengo da torcida, povo, da paixão, pode conquistar hoje o maior título da sua história".

A euforia do narrador com o rubro-negro aumentava na medida em que os gols iam saindo. E foram três. Todos marcados no primeiro tempo. "É com imensa alegria que todo o Brasil vai acompanhando a Globo" e "Mais do que nunca, o Flamengo é Brasil". No final da partida, o locutor disse as palavras que todo rubro-negro sonha ouvir no próximo sábado.

Galvão  - Reprodução transmissão - Reprodução transmissão
Galvão, Júnior e Roger Flores em Doha
Imagem: Reprodução transmissão

Não pode haver desculpa. Liverpool chegou um dia antes, fez um treino a mais nesse estádio, está mais acostumado com o frio e, ao contrário do Flamengo, está no meio da temporada. O Brasil inteiro pode festejar. Pode explodir no grito de campeão".

Como se percebe, há 38 anos o Flamengo é o Brasil para Globo. Alguém duvida que será de novo?