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Na trilha de Ederson e J. César: Portugal é paraíso de goleiros brasileiros

Muriel é o goleiro do Belenenses; ele é um dos oito brasileiros titulares da camisa 1 na elite portuguesa - reprodução/Instagram
Muriel é o goleiro do Belenenses; ele é um dos oito brasileiros titulares da camisa 1 na elite portuguesa Imagem: reprodução/Instagram

Marcus Alves

Colaboração para o UOL, em Lisboa (Portugal)

26/08/2018 04h00

Ederson, Júlio César e Helton abriram o caminho. Agora, o futebol português se encontra dominado por goleiros brasileiros. Somente na rodada de abertura da primeira divisão, praticamente metade das equipes teve um camisa 1 verde e amarelo em sua meta: ao todo, foram oito nos 18 clubes participantes. É o produto nacional que atualmente mais brilha entre os atuais campeões europeus.

O sucesso é tamanho que existem casos em que não apenas o titular é brasileiro, mas também o seu reserva. Essa é a situação do Boavista, por exemplo, com Helton Leite, ex-Botafogo, e Bruno Brígido, ex-Criciúma.

Os perfis são os mais variados: incluem o irmão de Alisson, Muriel Becker, do Belenenses, a revelação Léo Jardim, emprestado pelo Grêmio ao Rio Ave, e o ainda desconhecido Caio Secco, ex-Coritiba, que faz do modesto Feirense um dos destaques nesse início de temporada.

Na seleção portuguesa que foi à última Copa, o titular Rui Patrício tinha 30 anos, enquanto os reservas Anthony Lopes e Beto possuíam 27 e 36, respectivamente. Talvez por esse motivo, discutiu-se ao longo dos últimos meses o nome de Matheus Magalhães, do Braga, como alternativa para o futuro.

Desde 2014 atuando no país, o irmão do meia Moisés, do Palmeiras, se destaca no campeonato e é um dos responsáveis por fazer o Braga brigar com cada vez mais força para romper o domínio de Benfica, Porto e Sporting.

"É uma experiência nova. Todo jogador quer estar numa grande liga, os melhores estão na Europa, então o Braga abriu as portas para mim e oferece tudo que preciso, parte alimentar, o que mais você puder imaginar. Esse apoio contribui bastante”, afirmou o goleiro ao UOL Esporte.

"É um futebol muito diferente do Brasil, mais dinâmico e com o goleiro sendo mais exigido. Não só para sair jogando com os pés, mas como um líbero, mesmo, a linha aqui é mais alta, então, tem que ficar atento para eventuais bolas nas costas da defesa”, completou.

Nas duas primeiras rodadas da liga portuguesa, o site Goal Point, especializado em estatísticas do futebol local, escolheu nomes brasileiros em suas seleções: Douglas, do Vitória de Guimarães, na primeira, e Daniel Guimarães, do Nacional da Madeira, na segunda.

Ex-goleiro com passagem pelo Cova da Piedade e outros clubes, Gonçalo Xavier está hoje à frente do site e podcast Última Barreira, que virou referência em Portugal na abordagem dos ‘guarda-redes’. A que se deve, então, o número elevado de goleiros brasileiros no país?

“Por Portugal ser um mercado atraente para o atleta brasileiro, pela projeção europeia que tem, pela relativa competitividade da liga e onde sentem que podem ser valorizados e também, claro, pela proximidade linguística. Acrescentando a isso, os empresários com contatos rapidamente colocam um goleiro das Séries A e B do Brasil com relativa qualidade num clube de média-baixa gama em Portugal e estes têm rendimento”, explicou Xavier.

“Existem os casos recentes de Helton Leite, atualmente no Boavista. Ou Vaná, que brilhou no Feirense e é agora campeão pelo Porto. Pelo histórico de sucesso, é apenas um efeito bola de neve, pois sucesso puxa sucesso”, concluiu.

Em Portugal, os estrangeiros são mais valorizados

Enquanto Alisson esteve com a seleção no último Mundial e fechou com o Liverpool como o goleiro mais caro da história, o seu irmão mais velho Muriel não fica para trás nos Belenenses. Em sua primeira experiência europeia, ele começou muito bem e se destacou, especialmente nos clássicos, mas sofreu na segunda parte da temporada com as lesões.

Agora de volta, ele é um dos pilares do time que disputa espaço em Lisboa com Benfica e Sporting.

“Estou com as expectativas em alta nesta nova temporada depois de ter estado algum tempo lesionado”, disse Muriel. “Sou muito competitivo e autocrítico. Sei que o goleiro tão depressa é o melhor como o pior da equipe. Tive um treinador que me dizia: o lance mais importante é sempre o próximo. Temos de saber digerir todos os momentos. Sei que temos valor para estar entre os primeiros classificados”, completou.

No cenário local, a avaliação é de que, na maioria das vezes, valoriza-se mais nomes estrangeiros do que portugueses. Nenhum dos três grandes tem hoje um goleiro local em sua meta – o posto pertence ao espanhol Casillas no Porto, ao alemão Vlachodimos no Benfica e ao italiano Viviano no Sporting.

“Nenhum tem qualquer titular português no gol, mas, apesar disso, na temporada passada chegaram a ter nos três clubes (José Sá no Porto, Bruno Varela no Benfica e Rui Patrício no Sporting) ao mesmo tempo. É uma questão muito complexa que precisa ser interpretada tendo em conta os devidos contextos - o da aposta efetiva ou a aposta de recurso”, ponderou Gonçalo Xavier.

“As apostas só surgem em caso esporádicos e de recurso. E essa é uma mentalidade que devia terminar, pois o goleiro português tem valor, em rendimento e no mercado, para figurar nos principais clubes”, prosseguiu.

“Convém salientar que, na temporada passada, dois dos três melhores goleiros da liga foram portugueses, Rui Patrício e Claúdio Ramos, do Tondela. O outro foi Casillas. Não é preciso dizer mais que o problema é falta de aposta e não de goleiros de qualidade, pois quase a totalidade dos clubes possui portugueses no banco. Eles simplesmente não entram em campo”, completa.

O próximo sucesso brasileiro? Helton Leite, ex-Botafogo

“Confiamos, sinceramente, que tem um perfil de goleiro para maiores palcos e que é diferente no perfil psicológico do habitual goleiro brasileiro. É mais frio, sereno, calculista na tomada de decisão, muito calmo e de posicionamentos ponderados nas situações a enfrentar. Nestas componentes mentais, tem um perfil idêntico, ao nível psicológico, a Ederson, do Manchester City, apesar de ser tecnicamente, fisicamente e taticamente muito distinto do seu conterrâneo. Mas é um goleiro interessante e que pode ser facilmente um destaque em Portugal, até porque a sua equipe, o Boavista, é defensivamente sólida, principalmente no seu campo, onde o goleiro se destaca facilmente se tiver qualidade”, analisou Xavier.

Os oito goleiros brasileiros titulares em Portugal

  • Matheus Magalhães (Braga), 26 anos, ex-América-MG
  • Helton Leite (Boavista), 27 anos, ex-Botafogo
  • Muriel Becker (Belenenses), 31 anos, ex-Inter e Bahia
  • Léo Jardim (Rio Ave), 23 anos, ex-Grêmio
  • Caio Secco (Feirense), 27 anos, ex-Coritiba e Vitória
  • Douglas (Vitória de Guimarães), 35 anos, ex-Santos e Botafogo-SP
  • Daniel Guimarães (Nacional da Madeira), 31 anos, ex-Ponte Preta e América-MG
  • Jhonatan Luiz (Moreirense), 27 anos, ex-Joinville