Leila avança na "fila" do Palmeiras e impõe derrota histórica a Mustafá
A aprovação da mudança estatutária que aumenta de dois para três anos o mandato presidencial do Palmeiras, com validade já para o pleito de novembro deste ano, pode ser encarada como a mais clara demonstração de como o eixo de poder na política interna do clube vem se alterando. A decisão da última segunda-feira foi uma vitória emblemática de Leila Pereira, dona da patrocinadora Crefisa e conselheira desde o ano passado, e uma das derrotas mais duras de Mustafá Contursi, ex-presidente e conselheiro vitalício.
Com a alteração - que ainda precisa ser validada por uma assembleia de sócios -, Leila pode se candidatar à presidência do Palmeiras, seu objetivo declarado, já em 2021, quando terá um mandato completo de conselheira. Na fórmula anterior, teria que esperar até 2022. Além disso, ela poderá disputar o cargo tendo na cadeira o aliado Maurício Galiotte, atual mandatário e que deve concorrer à reeleição em novembro.
Entre as vozes que defendiam a mudança no estatuto, Leila foi a mais ativa. Trabalhou forte para conseguir apoio de conselheiros, com mobilizações nada modestas, como caronas de jatinho para jogos fora de casa e eventos em locais luxuosos de São Paulo. O aumento de mandato, em discussão no clube desde a gestão Paulo Nobre, foi aprovado com 143 votos, dois a mais do que o mínimo de 141 necessário no conselho. Houve ainda 79 votos contrários e duas abstenções. A vitória teve peso importante também para Galiotte, que tem governado sem o apoio de Mustafá e batido de frente com algumas posições dele.
Do outro lado, Mustafá também se mexeu. O ex-presidente ligou para conselheiros e fez campanha contrária à mudança de dois para três anos, mas novamente perdeu uma disputa política no clube, como vem sendo recorrente na gestão Galiotte. Entre as pequenas derrotas, estão o fracasso em indicações de conselheiros vitalícios, como Marco Polo Del Nero Filho, e emendas rejeitadas em votações da reforma estatutária no ano passado, como a adoção de candidaturas individuais de presidente e vice, em vez de unificadas em uma só chapa.
O revés da última segunda-feira, porém, toma proporções maiores por se relacionar diretamente com o jogo eleitoral do Palmeiras. Com a eleição presidencial se aproximando, a votação do conselho foi vista internamente como uma "prévia" do que se pode esperar em novembro. O grupo derrotado era bastante heterogêneo e não tinha apenas conselheiros ligados a Mustafá, mas foi mais uma mostra de como o poder do ex-presidente não é mais o mesmo.
Hoje, o entendimento no clube é que Mustafá detém influência majoritária apenas no Conselho de Orientação e Fiscalização (COF). O homem cujo poder político foi importantíssimo para eleger quase todos os presidentes do Palmeiras nas últimas décadas, incluindo os recentes Nobre e Galiotte, sofreu uma dura derrota. Mesmo com conselheiros ligados a Nobre também contrários à mudança, venceu a proposta apoiada por Leila, Galiotte e nomes como o ex-presidente Luiz Gonzaga Belluzzo e o presidente do conselho Seraphim Del Grande.
A ascensão acelerada de Leila na política palmeirense, aliás, também contou com a bênção de Mustafá. Paulo Nobre tentou, no final de seu mandato, impugnar a candidatura da dona da Crefisa ao conselho deliberativo, alegando que ela seria sócia do clube somente desde 2015. Mas com apoio de Mustafá, ela conseguiu sustentar que era associada desde 1996 e virou conselheira. Os dois romperam no ano passado, após um escândalo de cambismo envolvendo ingressos doados por Leila ao ex-presidente.
A próxima prova pela qual o poder político consolidado por Leila nos últimos anos deve passar é a eleição de novembro de 2018. O cenário mais provável no momento é que ela apoie a reeleição de Maurício Galiotte contra um candidato ligado a Paulo Nobre, que também deve ter Mustafá do seu lado.
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