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Campello contrapõe anos de Vasco à desconfiança da torcida após eleição

Alexandre Campello com faixas de diversos títulos que conquistou pelo Vasco - Divulgação
Alexandre Campello com faixas de diversos títulos que conquistou pelo Vasco Imagem: Divulgação

Bruno Braz

Do UOL, no Rio de Janeiro

24/01/2018 04h00

“Quero apenas que as pessoas se deem ao direito de conhecer o Campello como homem e profissional”. A frase é de Fred Lopes, novo vice-presidente de futebol do Vasco e fiel aliado de Alexandre Campello, vencedor da controversa eleição cruzmaltina e detentor de um currículo de mais de três décadas de serviços prestados ao clube na função de médico, situação que o fez ostentar uma penca de títulos, entre eles o da Libertadores de 1998.

O bem-sucedido ortopedista, dono de duas clínicas no Rio de Janeiro, é tido pelos amigos e companheiros políticos como uma pessoa serena e apegada à família. Seus correligionários apostam que essas características podem acalmar os ânimos de boa parte da torcida, que ainda não engoliu a forma como o pleito se sucedeu, com Campello rompendo a aliança com Julio Brant e se juntando aos apoiadores de Eurico Miranda um dia antes da votação no Conselho Deliberativo.

Natural de Nilópolis (RJ) e criado na Ilha do Governador (RJ), onde morou desde os 15 anos, ele viu sua privacidade se tornar um verdadeiro inferno tão logo surgiu a notícia da mudança de rumo na eleição. Ataques, principalmente virtuais, não pouparam nem mesmo seus familiares, algo que o fez lembrar e se emocionar no discurso de posse.

Para Fred Lopes, o público em geral tem feito uma leitura errada do novo presidente vascaíno e pode se surpreender caso deem um voto de confiança:

“E um excelente pai, um ótimo marido. O cara apanhou muito. E é duro quando você está certo na história aparecer como vilão. A Libertadores vem aí. Precisamos do estádio cheio, do apoio do torcedor e que eles fiquem do nosso lado”.

A estratégia de Campello e seu grupo nestes primeiros dias é tentar se desvincular da imagem de Eurico Miranda. Para Fred Lopes, sua experiência em vestiário também poderá ser muito útil no dia a dia com o departamento de futebol.

“O Campello conhece vestiário como poucos presidentes do Vasco conheceram. Foram mais de 30 anos dedicados ao Vasco. Uma ligação direta com o futebol. Ele conhece muito. Está me ajudando muito. Se eu aceitei ir para o futebol, é porque tenho uma pessoa como o Campello do meu lado. Tenho certeza de que ele vai me ajudar muito mais do que vou ajudar ele”, disse Lopes.

Chegou ao Vasco como estagiário

Muito antes de sonhar ser presidente, Campello iniciou sua carreira médica justamente no Vasco, em 1984, aos 24 anos, ainda como estagiário. A experiência ao lado de craques como Romário e Mazinho o fez seguir o caminho da ortopedia. Dois anos depois, já era contratado para a equipe profissional e teria vida longa, ficando até 2004, quando teve um desentendimento com Eurico Miranda e deixou o clube. Na época, o ex-presidente deu pitacos e se envolveu no tratamento de Marcelinho Carioca, algo que revoltou o médico.

Campello (destacado) em seu início de carreira no Vasco com Romário e cia. - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Campello (destacado) em seu início de carreira no Vasco com Romário e cia.
Imagem: Arquivo pessoal

Campello voltou em 2008, a convite de Roberto Dinamite. Nesta nova etapa, esteve na conquista da Copa do Brasil de 2011. No ano seguinte, deixou São Januário e passou a se interessar pela política vascaína.

Convidado por Fred Lopes, passou a participar das reuniões do grupo “Identidade Vasco” e apoiou a candidatura do líder Roberto Monteiro na eleição do fim de 2014. Com a vitória de Eurico no pleito, a chapa viu com bons olhos o perfil de Alexandre e o projetou como candidato para o pleito de três anos depois.

Seu aliado político, Edmilson Valentim, com uma trajetória política extensa como deputado federal e estadual (PC do B-RJ) e que foi nomeado presidente do Conselho Fiscal cruzmaltino, acredita que o novo presidente conseguirá mediar os conflitos entre os grupos políticos do Vasco.

“Tenho 54 anos e vivi muitas batalhas políticas pesadas. Os grupos do Vasco, às vezes, são muito estridentes. Mas já estou acostumado tanto no Congresso Nacional quanto na Assembleia Legislativa. E dessa estridência toda há sempre os ponderados, como o Campello. E é com ele que temos que fazer o Vasco crescer e avançar. O Campelo conversa com todo mundo, com esses grupos, por se tratar de uma pessoa serena. E acho que essa que tem que ser nossa linha: unir o Vasco”, avaliou.

Ex-companheiro faz críticas; Campello reage

Nos últimos dias, a vida de Alexandre Campello não tem sido só de elogios. Seu ex-companheiro de departamento médico do Vasco, Clóvis Munhoz, que teve um desentendimento no passado com o atual presidente e preferiu apoiar Julio Brant, fez duras críticas no dia da votação do Conselho Deliberativo, quando já estava ciente do rompimento da aliança.

Alexandre Campello toma posse como novo presidente do Vasco - Paulo Fernandes / Flickr do Vasco - Paulo Fernandes / Flickr do Vasco
Alexandre Campello toma posse como novo presidente do Vasco
Imagem: Paulo Fernandes / Flickr do Vasco

“Para mim não surpreende (o racha), haja visto que ele já teve atitudes anteriores que não são recomendadas a um cidadão. Quando houve a junção das duas chapas, eu coloquei as diferenças pessoais de lado em prol da mudança que todo vascaíno espera na administração do Vasco, mas lamentavelmente não adiantou nada. Só tenho a lamentar. Foi uma atitude baixa, torpe e frouxa. Ele não honrou o diploma de médico tão competente que ele é”, disparou Munhoz, que ainda alegou que seu ex-companheiro teria revelado a ele que era torcedor do Flamengo até os 23 anos, algo rebatido pelos aliados do novo presidente:

“Campello é um grande vascaíno. O conheço desde pequeno. É uma maldade o que estão fazendo. Eu ia no consultório dele e era dez minutos ele cuidando de mim e o resto todo era falando de Vasco”, disse Fred Lopes.

Verdade ou não, Campello não gostou nem um pouco das palavras de Clóvis Munhoz e ameaçou ir até a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) prestar queixa. No entanto, por conta da agenda bastante atribuída em seus primeiros dias no clube, ainda não a fez.

Primeiras medidas são democráticas e emergenciais

As primeiras medidas de Alexandre Campello como presidente do Vasco tiveram um apelo democrático e emergencial. O clube iniciou o desbloqueio de torcedores que haviam sido impedidos de interagir com as redes sociais oficiais e abriu o treinamento desta terça-feira (23) para a imprensa, algo que não acontecia há quatro meses. Não bastasse isso, ainda autorizou os jornalistas a se acomodarem no setor social, o que não ocorria desde 2014.

Campello conversa com técnico Zé Ricardo à beira de campo  - Bruno Braz / UOL Esporte - Bruno Braz / UOL Esporte
Campello conversa com técnico Zé Ricardo à beira de campo
Imagem: Bruno Braz / UOL Esporte

Além disso, anunciou que irá buscar uma reforma no Estatuto para permitir uma eleição direta, promoveu o retorno da parceria com o time de futebol americano Patriotas – que havia sido rompida por Eurico – e resolveu o impasse com o jogador de basquete norte-americano David Jackson, pagando parte dos atrasados do ala e fazendo com que ele fosse reintegrado ao elenco que disputa o NBB.

A medida mais importante, que é quitar todos os atrasados do clube, também veio em forma de promessa. Segundo o dirigente, que tratou de conversar com elenco e comissão técnica para passar tranquilidade, a primeira folha será paga nesta sexta-feira. O restante virá até o dia 5 de fevereiro. O Vasco deve novembro, dezembro, 13º e férias.