Exclusivo: Leco prevê embate com Abilio e diz que Bauza deve ter 3 reforços
Guilherme Palenzuela
Do UOL, em São Paulo
28/04/2016 11h18
Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, resolveu se posicionar de forma contundente sobre a decisão da comissão de ética do São Paulo na última segunda-feira, que atribuiu as mesmas punições ao ex-presidente Carlos Miguel Aidar e ao ex-vice de futebol Ataíde Gil Guerreiro, e os expulsou do clube.
No mesmo dia em que reconduziu Gil Guerreiro à diretoria depois do pedido de demissão, Leco recebeu o UOL Esporte no Morumbi para uma entrevista exclusiva e falou predominantemente sobre política. Mas disse do que vem gostando do elenco e que deve trazer três reforços para o técnico Edgardo Bauza para o restante da temporada.
Leco chama a decisão do presidente da comissão de ética José Roberto Ópice Blum de "tendenciosa e desastrosa" e diz que o conselheiro agiu influenciado por interesses políticos. Detalha as denúncias de corrupção contra a gestão Aidar, que antes eram tratadas com discrição, fala que poderá haver nova investigação interna do ex-presidente além do processo que corre no Ministério Público de São Paulo e diz que vê o empresário Abilio Diniz, com quem está rompido, atuando nas próximas eleições, em 2017.
Talvez (o Abilio) esteja numa posição de muito poderoso economicamente, financeiramente, acha que pode ajudar a organizada do time que ele ama para efeito de carnaval"
UOL Esporte: Ataíde foi expulso depois de se defender com certa agressividade em seu discurso na reunião do conselho. Não teria sido melhor um discurso para tentar sensibilizar o conselho?
Leco: Pode ter sido um fator que acresceu e acabou de certa forma liberando as pessoas. Ele poderia ter agido de forma mais política, emocional... Emocional foi, mas acredito que a forma intempestiva, a forma quase infantil com que ele nessa hora se expôs fez com que ele naturalmente dessa razão a algumas pessoas. Mas acho que o contexto todo se criou de forma a levar as pessoas a uma reação punitiva. Reação punitiva que talvez não fosse a que mais desejassem em relação a ele se tivessem a alternativa de puni-lo de forma diferente.
Ataíde diz que não vai recorrer da decisão no Judiciário. Acha que ele teria chance?
Acho difícil. Ele pode, mas é uma questão para aprofundar melhor. Recorrendo no judiciário, sob minha ótica, estaria mais enfocado no imenso equivoco que foi atribuir a ele uma atitude criminosa, coisa que não aconteceu.
Um pouco de exagero (sobre quatro ou cinco reforços). Se a gente conseguir três, está bom."
A comissão de ética falou em tentativa de homicídio...
Tentativa de homicídio. Isso é um disparate. É um desacerto e um equívoco absoluto. Absoluto. A tentativa de homicídio não houve em nenhum momento. Eu até lembro que num primeiro momento o presidente [Aidar], que foi alvo da iniciativa dele e tal, declarou que não tinha havido nada, mas o órgão não relatou isso. Tentativa de homicídio é um negócio assombroso e aí está aquilo que considero tendencioso e equivocado no relatório.
Conselheiros de diferentes grupos falaram que a comissão de ética agiu em interesses pessoais e políticos. Qual sua avaliação?
Não tenho nenhuma dúvida. Só que não vejo como essa forma de tentar se promover prospere, porque ela é tão visivelmente equivocada, tão confusa, que não foge da observação criteriosa das pessoas. E te digo que mesmo aqueles que deliberadamente optaram por incriminar o Ataíde sabem da imensa diferença entre uma coisa e outra. Sabem que a pena pra ele foi excessiva, injusta e calcada num relatório que partiu de um pressuposto totalmente errado.
Parecer sobre Aidar não chega a conclusões sobre as denúncias de corrupção na gestão. O relatório da comissão de ética não proporciona um recurso no Judiciário mais fácil para Aidar do que para Ataíde?
A comissão de ética elencou só dois fatos dele, e sobre eles desenvolveu. A história da Far East Global e do José Roberto Cortez, advogado. Mas tem muitas outras coisas. Há no campo ético, dentro do São Paulo, ocorrências na sua gestão que levam certamente ao desagrado e ao inconformismo. Por exemplo, o fato de ele fazer um contrato de comissionamento de 20% para todo e qualquer negócio que sua namorada [Cinira Maturana] fizesse. Aí o Blum alegou que não houve nenhum, portanto não houve prejuízo. Só que não precisa haver. Basta ver em si o fato para mostrar o quanto o São Paulo esteve ameaçado. Se eu não tivesse tirado o contrato da Far East de pauta, isso teria gerado um prejuízo de no mínimo R$ 25 milhões para o São Paulo. Houve a iminência. Houve o fato que da intervenção dela na questão do Rodrigo Caio. Tudo isso é mais do que suficiente. Então acho que dificilmente conseguirá justificar que, por exemplo, um assunto que estava sendo cuidado pelo doutor Ives Gandra Martins gratuitamente há anos e ele contratou um advogado por R$ 7,4 milhões, e fez adiantamentos da ordem de mais de R$ 4 milhões. Existem incorreções e irregularidades imensas e inúmeras que por si só justificam a conclusão a que se chegou o conselho.
Eu gosto do Bauza, acho que o Bauza tem, do Telê, a seriedade e a proposta de intensidade."
Haverá prosseguimento da apuração da gestão Aidar dentro do São Paulo? Ou ficará só no Ministério Público?
Existe já no Ministério Público de São Paulo um encaminhamento, um processamento dos fatos que por si só podem resolver. Dentro do São Paulo existe uma tendência de algumas pessoas para que o São Paulo tome agora iniciativas a esse respeito, sobre o que eu ainda não decidi.
Quais iniciativas seriam?
Enfim, ir atrás de prejuízos que tenham ocorrido por causa dele e responsabilizá-lo por isso. Mas isso é uma coisa que não está decidida.
Depois de seis meses como presidente consegue dizer se houve lesão ao cofre na gestão Aidar?
Certamente que sim. Pelo menos no caso do Cortez [advogado, contratado por R$ 7,4 milhões], com certeza. E outras coisas, assim, que, enfim, você pode discutir, como conduta, lisura de gestão. Mas eu estou mais preocupado com o São Paulo para frente, desde meu primeiro momento para a frente.
Ainda sobre a última gestão, o ex-vice de marketing Douglas Schwartzmann é citado pelo próprio Aidar na gravação por supostamente "pedir comissão em tudo" e ser o intermediário da Under Armour no caso Jack. Há investigação interna sobre ele? O que pode acontecer?
É uma situação diferente em relação ao Carlos Miguel, que era a figura central e que respondia por tudo. Douglas teria participado, eu não tenho efetivamente para dizer que o fez. Teria participado paralelamente, contribuído, mas nada está definido. Os que assinaram os contratos não são necessariamente as pessoas que estavam mal intencionadas e comprometidas. Podem ter feito por simples adesão, confiança, por confiar na figura do presidente. Não quero atribuir a ninguém e nem sequer ao Douglas, que seria ele o vínculo, o canal do tal do Jack. Isso ainda depende de apuração, de um processamento. Os assuntos são de tal forma graves que precisam ser enfrentados a cada momento.
Se a comissão de ética tomou, para boa parte dos conselheiros, decisão influenciada por interesses políticos, não é hora de se começar a pensar e falar em uma reforma de estatuto e em mudanças na maneira como se faz política no São Paulo?
É tudo que eu quero fazer. Tenho muito claro que é imperiosa a figura da reforma estatutária. Nós precisamos repensar o São Paulo no seu diploma legal, na forma mais ampla, e de uma maneira muito abrangente. Tem muita coisa a ser analisada, revista e melhorada. Eu tanto sou sincero quando te afirmo que sou a primeira pessoa a querer isso que quando presidente do conselho deliberativo [abril de 2014 a outubro de 2015] eu iniciei um processo de reforma estatutária. Eu iniciei tanto que solicitei aos conselheiros que apresentassem sugestões e propostas. Temos um material imenso guardado a esse respeito. Tem que ser aproveitado por um grupo, que seria o comitê de estudo da reforma estatutária, para preparar um projeto, submeter ao conselho e depois levá-lo a assembleia. Isso é imperioso e nós vamos fazer.
O que eu tenho que saber é gerir bem o São Paulo para não dar motivos concretos, e ter a sorte de ir bem no futebol."
Porque tratam-se de situações diferentes. O cenário é completamente outro. Ali houve um induzimento a erro dos conselheiros para que se punisse. Ouso imaginar que se fossem em momentos diferentes a analise do Aidar e a análise do Ataíde o desfecho não seria igual. Naquele momento criou-se uma situação emocional toda propícia para a punição. O Ataíde não ajudou, porque tem uma espontaneidade, uma sinceridade, que acaba sendo prejudicial a ele. Sem dúvida nenhuma uma punição ele deveria ter. O que ele fez não foi correto, não foi aquilo que um vice-presidente do São Paulo deve fazer. Mas acontece que esse código de ética prevê só três punições e fica na mão de uma comissão que chega a uma conclusão muitas vezes imposta pelo seu relator. São situações tão flagrantemente diversas que não caberia dar ao Ataíde a punição da exclusão. Restou às pessoas votar "sim" ou "não". Só se aprimora um julgamento se você abrir às pessoas a possibilidade de colocarem seus pontos de vista. Essa reforma estatutária tem que rever isso, não se pode punir uma pessoa assim. Sempre teremos o problema dos interesses políticos, mas nítido também são o equivoco, o erro, a injustiça cometida com o Ataíde, e isso não passa em branco. Daí eu te dizer que não se mistura situações do que vai ser a política daqui a um ano. Eu realmente encaro de uma forma reduzida. A perda foi do Ataíde, fundamentalmente, não da situação.
O senhor falou com o Ópice Blum após a decisão?
Falei.
E quais foram as palavras?
Ele me perguntou se eu tinha gostado e se eu ia cumprimentá-lo. Falei: "Eu não posso te cumprimentar porque foi tendencioso e desastroso o seu relatório. Você está brincando, imputar tentativa de homicídio". Ele falou: "Ah, mas não sou eu, são os autores". É brincadeira, né? Os autores escrevem sobre temas, ele assumiu aquele tema e foi buscar apoio nos autores. Tenho muito respeito pelo conselho porque lá tem muita gente boa. Num momento específico foi conduzido um processo que não reflete o sentimento de todos.
Não sei que intenção ele tem a esse respeito. Não sei explicar exatamente isso. Talvez esteja numa posição de muito poderoso economicamente, financeiramente, acha que pode ajudar a organizada do time que ele ama para efeito de carnaval. Sobre o tipo de uso, eu não quero enveredar por esse caminho.
Abilio fazia críticas a Ataíde Gil Guerreiro enquanto diretor de futebol e faz críticas a Gustavo Vieira de Oliveira, diretor. A Independente há alguns meses adotou discurso semelhante. Você acha que houve influência?
Não sei. Pode não ser coincidência. Pode ser aderindo compensando a ajuda, qualquer coisa desse tipo.
Qual a relação do senhor com Abilio Diniz atualmente?
Nenhuma.
Não se falam?
Não. Não é que eu me proponha a não falar. É que não há mais oportunidade. Antes ele falava comigo, a partir de determinado momento não quis falar mais. Houve uma situação política aqui dentro, numa reunião com a PwC [auditoria contratada pelo empresário para o clube], e aí não nos falamos mais.
Qual foi a situação?
Na verdade ele divergiu de mim frontalmente em relação ao futebol. Divergiu porque mantive Gustavo e Ataíde, e mantenho, embora agora o Ataíde em situação completamente diferente. Divergiu de mim porque ele tem uma visão do futebol que não bate exatamente com a minha, e eu preciso que o São Paulo tenha na minha pessoa uma perspectiva de comando.
Abilio Diniz esteve ao lado do senhor e teve um papel importante no processo de renúncia do Aidar...
Sim, ele foi um dos críticos. Não só foi crítico severo do Aidar como enfatizou a mim a conveniência de que eu fosse o presidente.
Acha que o Abilio irá atuar no campo político nas próximas eleições?
Não sei dizer, mas os boatos afirmam nesse sentido.
É uma ameaça à sua reeleição?
Não. Não acho que seja perigoso, porque ele pode como qualquer outra pessoa buscar influenciar no processo eleitoral. Ele terá a força econômica e tal, mas igual a qualquer outra pessoa, a qualquer outro conselheiro. Existe no contexto pessoas com interesses contrariados, muita inveja, muito ciúmes, pessoas que entendem que deveriam participar e não participam, e isso vai criando um núcleo de oposição. O que eu tenho que saber é gerir bem o São Paulo para não dar motivos concretos, e ter a sorte de ir bem no futebol.
O Wesley que jogou na Bolívia não é o Wesley do Palmeiras. É o Wesley do Santos."
Como sempre, não tenho nenhuma hostilidade e nenhuma proximidade.
Mas ainda dá o auxílio de ingressos que julga necessário?
Muito menos. Muito menos.
Na primeira entrevista como presidente, quando o técnico era o Doriva, o senhor disse que o estilo que queria para o futebol do São Paulo era o "estilo Telê Santana". Hoje o São Paulo joga bastante diferente desse estilo...
Mas o que é o estilo Telê Santana? Tem alguém com esse estilo? Não tem.
Mas o senhor gosta do estilo de jogo do São Paulo hoje?
Eu gosto do Bauza, acho que o Bauza tem, do Telê, a seriedade e a proposta de intensidade. E o São Paulo tem mostrado isso em alguns momentos. São Paulo não mostrou em alguns insucessos, em algumas aparições vergonhosas no Campeonato Paulista, mas mostrou por exemplo na Libertadores. Mostrou.
Em determinado momento do ano o São Paulo chegou a ter os piores inícios da história tanto no Paulistão como na Libertadores. Chegou a pensar em mudanças e que algo muito ruim poderia acontecer?
Não. Juro que não. Talvez seja um pouco por ser idealizador, por ser otimista.
O senhor criticou postura do elenco depois do 6 a 1 e, mais recente, depois da derrota por 3 a 1 para o São Bernardo. Consegue enxergar mudança de comportamento hoje ou vê o elenco na mesma situação?
Consigo. Estou percebendo. Houve uma soma de fatores que criou uma instabilidade que parece que está superada. Existia lá um sentimento que um grupo de jogadores estaria agindo contra o São Paulo, e parece que estamos superando. São coisas que atribuíram ao São Paulo. Agora, também precisamos melhorar um pouco a equipe, contratar gente, e estamos indo atrás.
Bauza pede quatro ou cinco reforços...
Um pouco de exagero. Se a gente conseguir três, está bom.
Três com o Maicon, que está emprestado até junho? Ou três fora o Maicon?
Pode ser três sem o Maicon. Nós contratamos Maicon, Mena, Calleri, Kelvin... Estávamos no jogo contra o Palmeiras no Pacaembu, um torcedor gritou lá: "Contrata essa merda desse quarto reserva do Palmeiras...". Agora ele é titular do São Paulo, interessado, dedicado. O Wesley que jogou na Bolívia não é o Wesley do Palmeiras. É o Wesley do Santos. Entendeu? Acho que estamos conseguindo levantar esse pessoal. Lucas Fernandes, Banguelê, Luiz Araújo e Lucas Kal estão treinando conosco. O Lyanco, num momento de crescimento, despertando interesse de fora.
Qual é a viabilidade de contratar o Maicon?
Estamos colocando toda nossa inteligência e nosso esforço nisso, contando com o interesse deles em jogadores nossos. Eles agora perceberam um pouco isso, o Maicon está em evidência e o mundo vê tudo na mesma hora, então já estão dificultando um pouco nossa vida. O Porto quer o Inácio, e a gente quer que o Porto queira o Inácio e o Lucão. E agora eles querem o Lyanco, que não queremos dar. É uma trama complicada, delicada, você corre o risco de colocar tudo a perder em uma palavra mal colocada. Mas, fundamentalmente, o Maicon quer ficar.
O senhor falava há seis meses dos valores humanos que o Lugano poderia agregar ao time. Quanto que o Maicon representa desses mesmos valores para o time?
Muito. Muito. Ele tem força interior. Uma força interior em que ele vai para o gol e vai buscar duas bolas lá em cima. Ele tem vontade, coragem, é destemido. Tem mais dessas virtudes do que qualidade técnica, que ele também tem.
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