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Marcos nega ser o maior do Palmeiras e lembra fala que quase parou carreira

Danilo Lavieri

Do UOL, em São Paulo

18/08/2014 12h00

Como já era de se imaginar, Marcos não consegue esquecer o Palmeiras. Mesmo aposentado desde o início de 2012, o goleiro afirma citar o nome da equipe em que se consagrou pelo menos cinco vezes por dia.

Em entrevista especial dada para falar sobre o  centenário alviverde, evitando comentar a situação atual da equipe, o eterno camisa 12 ainda falou sobre o motivo de ser apontado como o melhor goleiro da história alviverde, apesar de não concordar com o rótulo, e lembra que “ficou na boa e na ruim” para defender seu time de coração.

O jogador ainda brincou com a sua primeira declaração polêmica na carreira e admitiu que sente falta do ambiente do futebol.

Confira as principais respostas de Marcos no evento:

Qual foi a sua maior contribuição para o centenário do Palmeiras?
Marcos
: Da minha parte, a maior contribuição, com certeza foi a Libertadores. Na minha passagem, faltou muita coisa. Meu nome foi construído não na Academia 1, 2 ou na Parmalat, mas sim “no bom e barato”. O grande feito foi essa Libertadores, porque foi exclusivo e inédito, mas também lembro da Série B. Claro que para o torcedor não é grande título, mas, pela dificuldade de participar, eu guardo com carinho.

Você se considera o maior goleiro da história do Palmeiras?
Marcos:
Fico orgulhoso quando sou reconhecido. Mas sou de outra época, cobertura agora é mais ampla no futebol. Somos mais jovens. O Palmeiras teve o seu Valdir, Leão, Oberdan, nomes que poucos acompanharam. Fico orgulhoso, mas sei que a fase é diferente. Nesses 100 anos tem vários goleiros e muitos foram excluídos.

Mas por que você rejeita esse rótulo?
Marcos:
Não sou, de forma alguma, o melhor. Joguei em uma época mais mostrada na TV, no jornal e na internet. A visibilidade foi maior. O Velloso pegou uma parte também. Mas eu, em relação à mídia, peguei a parte melhor, por isso sou lembrado. Não faço questão de ser o maior.

Em quem você votaria como o melhor goleiro?
Marcos:
Por votação, votaria no Velloso, pelos títulos. O Leão eu peguei pouco a época, vi pouco e lembro vagamente dele no Palmeiras. No meu ídolo, votaria no Velloso.

Por que você acha que virou ídolo no Palmeiras?
Marcos
: Pela história que construí aqui, abri mão de muita coisa, então o torcedor tem esse carinho por ter me pegado nessa época. Tive chance de ir para o exterior e fiquei em horas difíceis no Palmeiras. A consideração talvez seja por isso. Fico feliz por ser lembrado pela carreira do time que gosta. E também sou muito lembrado pela falta de novos ídolos, eles sempre esperam. Quando jogador está virando ídolo, acaba indo pra outro lugar. Esperamos que nesse novo Palmeiras tenha alguém que possa virar ídolo.

Como é saber que terá um busto no novo estádio palmeirense?
Marcos:
Isso eu tenho orgulho. É pra eternidade. Mesmo quando morrer, as pessoas que forem no Allianz também vão ver a minha cara. Meus filhos, netos me verão sempre e isso será muito legal, é motivo de maior orgulho esse busto. Reconhecimento maravilhoso. Não fui o maior goleiro, mas fui o mais leal. Fiquei na boa e na ruim, muito mais na ruim. Poderia ter saído, buscado outro clube, conquistado mais títulos. E resolvi ficar e defendi o que achava ser certo. Esse reconhecimento é um dos maiores orgulhos e faz eu não me arrepender das minhas decisões.

Você sente saudades de dar entrevistas?
Marcos
: Ah, rendia, né? Cada entrevista eu tinha que ficar 15 dias explicando! (risos)

Mas você sente saudade do ambiente?
Marcos
: Claro. Não do ambiente pesado, nenhum jogador gosta quando está com problema, mas quando consegue balancear entrevista, quando temos vitória... E às vezes em crise é legal, mas tem certa época que era só crise. Carregava a carga emocional para casa até. Às vezes tenho vontade de falar algo, mas aí me seguro e corneto só entre amigos.

Você acha que o futebol sente falta de Marcos?
Marcos:
Acho que sente, longe de mim querer falar algo, mas acompanhamos as entrevistas pós-jogo, o juiz apita e tem sempre o mesmo discurso. Se perdeu diz que acontece, que é coisa do futebol e que vai trabalhar. Se ganhou, fala que é legal, que encaixou certinho. Ninguém dá opinião, ninguém puxa responsabilidade. E isso é em geral. A nova geração não é de chamar a responsabilidade.

Qual foi a sua primeira declaração polêmica que você lembra?
Marcos
: Teve um momento, acho que em 1999, o Palmeiras... Rapaz, eu esqueço muita data. Será que estou ficando com Alzheimer? Bom, acho que era 1998, 1999, não sei. Mas o time jogou com o reserva, tomamos uma sapatada e aí falaram o que eu tinha a dizer. E eu disse que queria jogar com o time de verdade do Palmeiras. Quase me lasquei! Os caras queriam me mandar para o inferno. Quase acabou minha carreira ali.

Você chegou a pensar em sair do Palmeiras?
Marcos:
Às vezes eu achava que estava cansado, que estava muito machucado, ficava sangue-suga do Palmeiras recebendo sem jogar. Mas aí eu voltava, os caras me colocavam para jogar... E aí eu ficava mesmo. Mas foi muito bom, porque eu consegui construir a história.

Qual momento como palmeirense, antes de se tornar jogador, que você mais lembra?
Marcos:
Meu pai me zoando quando perdeu da Inter de Limeira, meu pai me zoando e eu fui chorando no banheiro. Na final de 1978, minha mãe não ganhou na loteria esportiva por causa desse jogo, o Leão deu uma cotovelada... São as coisas que eu mais lembro. Em 1990, quando foi eliminado pelo Bragantino também, escutava muito pela rádio. O palmeirense tem esse dom de lembrar sempre de derrotas eternamente e esquecer das vitórias.

Qual melhor time que você já jogou?
Marcos:
Dos anos que eu joguei, não dá para tirar o time de 1993, 1996 e 1999. Mas também tem o time de 2009, que se a gente ganhasse o Brasileiro ia entrar para a história, porque aquele time era muito bom.

Hoje, qual a sua relação com o Palmeiras?
Marcos
: O Palmeiras é minha vida. Não tem um dia na minha vida que eu não falo a palavra Palmeiras pelo menos cinco vezes no dia. Eu ficava 30 dias na minha casa e ficava o resto do ano em casa. Eu fui ter o filho agora de eu poder ficar mais em casa. Faz parte da minha vida, não só por convivência. Eu me preocupava mais com isso do que com a saúde dos familiares. Eu sou muito grato por isso.

Qual sua maior decepção na carreira?
Marcos
: Minha maior tristeza é a falha no Mundial, porque não tive a chance de voltar lá para ganhar isso, só com a seleção.