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Fluminense tenta renovar imagem e apagar fama de clube elitista

Além dos ingressos mais baratos da Série A, a torcida do Fluminense também pode votar para presidente - Fernando Cazaes/Photocamera
Além dos ingressos mais baratos da Série A, a torcida do Fluminense também pode votar para presidente Imagem: Fernando Cazaes/Photocamera

Rodrigo Paradella

Do UOL, no Rio de Janeiro

02/05/2014 06h02

Mesmo carregando a fama de ser um clube formado pelas elites do Rio de Janeiro, o Fluminense mirou seu foco nos últimos anos nos torcedores das camadas mais populares e vem tentando se reescrever a imagem que ganhou no passado.  Cada vez mais, o Tricolor opta por se abrir ao público, inclusive ao cobrar o ingresso mais barato da Série A do Campeonato Brasileiro em seus jogos no Maracanã, inclusive para a partida com o Vitória, marcada para as 21h deste sábado, que já tem mais de 18 mil bilhetes vendidos antecipadamente.

Os ingressos a R$ 10 (R$ 5 a meia) cobrados para a estreia contra o Figueirense e o duelo contra o Vitória, são apenas uma parte de uma estratégia do Tricolor de se aproximar cada vez mais dos torcedores, sem buscar apenas as camadas mais favorecidas financeiramente da população.  O clube também cobra apenas R$ 30 em seu plano de sócio-torcedor, que ainda dá direito a voto direto a presidente.

A estratégia busca, entre outras coisas, renovar a imagem do Fluminense como um clube aberto e democrático.  Do ponto de vista prático, o Tricolor abriu mão de receitas na bilheteria e do monopólio de seu antigo quadro social na tomada de decisões em relação ao futuro da instituição, já que os novos sócios poderão escolher o presidente em 2016.

“Provavelmente teremos uma arrecadação menor, mas agregamos muito valor à nossa marca com o estádio cheio. As pessoas preferem frequentar estádios cheios, os jogadores também, além de dar um aspecto de grandeza maior”, disse o gerente de arenas do Fluminense, Carlos Eduardo Moura, ao UOL Esporte.

O Fluminense vai na contramão do atual momento do futebol carioca, em que os ingressos e planos de sócio-torcedor são cada vez mais voltados para aqueles que podem pagar preços maiores. O Flamengo, por exemplo, cobrou R$ 50 pela meia-entrada mais barata de seu duelo com o Goiás no Mané Garrincha, em Brasília, na primeira rodada do Campeonato Brasileiro.

Curiosamente, os dois clubes carregam a imagem de ser opostos em relação às classes sociais de seus torcedores. Enquanto o Flamengo é visto como o mais popular, o Fluminense tem em sua história a marca de clube aristocrático, originado pelas elites cariocas.

“Aquele Fluminense em sua fundação [em 1902] pertencia à elite nova republicana que morava em Laranjeiras [bairro da zona sul do Rio onde fica localizada a sede do Fluminense]. O bairro das Laranjeiras é a primeira experiência de classe média do brasil. Tinha rico, empresário, industriários, tudo que girava em torno do governo federal também. O poder ficava ali, assim como a elite do Rio”, lembrou o integrante da Flu Memória, Heitor D'alincourt, que procurou minimizar a visão negativa muitas vezes dada à origem do clube.

“Não sei qual o preconceito que as pessoas tem com as elites. Hoje tem um montão de clube popular que faz propaganda estatais. Isso deveria ser questionado, pegar dinheiro público. Temos muito orgulho de ter um patrocínio privado, como a Unimed, ao contrário de clubes populares que precisam de alianças para divulgar suas marcas”, complementou, em clara referência ao rival Flamengo, patrocinado pela Caixa Econômica Federal.

O integrante do departamento responsável por manter viva a história do Fluminense procurou ressaltar também a nova fase do clube, de abertura. O discurso é o mesmo do presidente Peter Siemsen, que exalta a popularização do clube com a recente política.

“O Fluminense hoje é o clube mais democrático do Brasil. É o único clube do Rio que o sócio torcedor pode votar diretamente para presidente. Temos enorme chance de, em 2016, termos mais 30 mil votantes. Para vermos como as coisas mudam. Temos que rever esses estigmas que muitas vezes são feitos”, argumentou Heitor.

A mudança tem agradado aos jogadores do Fluminense, principalmente por causa da promessa de Maracanã cheio durante a campanha do Tricolor no Campeonato Brasileiro. Na vitória por 3 a 0 sobre o Figueirense foram pouco mais de 35 mil presentes, o maior público da primeira rodada da competição. Após a partida, até mesmo o técnico Cristóvão Borges pediu a manutenção dos valores, o que foi feito pela diretoria. E elogiado pelos atletas.

“Reencontramos o nosso futebol e a direção reencontrou a forma de trazer o torcedor para o estádio com esses preços. Estádio cheio não tem preço para nós jogadores. Essa receita é boa e tem de ser mantida. Isso é fundamental. Sabemos que o clube precisa de dinheiro, mas a força do torcedor faz a diferença”, ressaltou o meia Wagner, que encontrou coro na voz do vice presidente de futebol do Tricolor, Ricardo Tenório.

“O objetivo nosso é a fidelização da torcida. Achamos nesse momento importante estarem junto conosco. Entendemos que praticando um preço popular traremos o torcedor para nosso lado nesse momento importante da temporada”, encerrou o dirigente.