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Em Buenos Aires, argentinos se entristecem: "Só esticamos a agonia"

Cenário da Plaza San Martín, em Buenos Aires, após a eliminação da Argentina - Luciana Rosa/UOL
Cenário da Plaza San Martín, em Buenos Aires, após a eliminação da Argentina Imagem: Luciana Rosa/UOL

Luciana Rosa

Colaboração para o UOL, em Buenos Aires (Argentina)

30/06/2018 20h10

Uma névoa cobria Buenos Aires nesta tarde de sábado e coloria seu horizonte de cinza, compondo um cenário perfeito para o clima de melancolia que tomou conta dos lares argentinos logo após a derrota sofrida por 4 a 3 diante da seleção francesa, pelas oitavas de final da Copa do Mundo.

Assista aos gols de França 4 x 3 Argentina

Logo após superar seu pior pesadelo, que seria ficar de fora já durante a primeira fase, na vitória conquistada com suor sobre a equipe da Nigéria na última terça-feira, a torcida alviceleste viveu hoje o seu último suspiro dentro da competição. Fato que, para muitos, já era algo mais do que esperado.

"Chegar às oitavas foi esticar a agonia", diz desacreditado o estudante de Zarate na província de Buenos Aires, Gonzalo Sujatt. "É uma mistura de tristeza com a certeza de que poderíamos ter ficado de fora antes, porque vínhamos mal desde as eliminatórias.

Névoa cobre Buenos Aires - Luciana Rosa/UOL - Luciana Rosa/UOL
Névoa cobre Buenos Aires
Imagem: Luciana Rosa/UOL

Os problemas da AFA são um reflexo de como está o país", opina Beto Kölln professor em Quilmes sobre o que sentiu diante da eliminação. Quem também acredita que a desclassificação foi o amadurecimento de algo que não tinha futuro, em função da "desorganização e falta de projeto coletivo", é Vasco Otegui, de Balcarce.

Mas, para a maioria dos torcedores, como o administrador Emanuel Marmol, que vive em de Mar del Plata, o mais triste é despedir a Javier Mascherano e talvez Lionel Messi, sem que eles tenham conhecido a alegria de ganhar uma Copa. "Eu sinto muita pena, mais que nada por aqueles por quem tenho uma grande admiração, Messi e Mascherano, que anunciou que se retirará", lamenta o torcedor.

"Acredito que todos queríamos ver o Messi levantando essa Copa", concorda Fabián Varela, que é coordenador de uma ONG em Buenos Aires, que, ironicamente, leva o nome de Fábrica de Sonhos. "É o fim de uma etapa para um grupo, tomara que seja um fim de um sonho ruim e a oportunidade de recomeçar", deseja Fábian.

Entretanto, para além dos desejos de que o camisa dez pudesse ter a tão sonhada Copa em suas mãos, estão aqueles que lamentam a falta de um projeto coletivo. Torcedores que como Victor Heredia, de Buenos Aires, fanático seguidor do River Plate, atribuem a diferença de desempenho dos clubes argentinos em relação a sua seleção ao "trabalho que realiza o treinador com seus jogadores".

messi - C. Cox/Getty Images - C. Cox/Getty Images
Imagem: C. Cox/Getty Images

Para este admirador do técnico de Marcelo Gallardo, "a seleção argentina, durante muitos anos, foi carente disso, de um treinador que desse uma identidade à equipe e que isso se reflita em campo", analisa.

Existem também aqueles torcedores do contra, que ficaram felizes com a derrota da Argentina. Gabriel Mensegues, de Rosário, jogou na equipe de base do Newell's Old Boys dos 6 aos 14 anos e atribui a sua falta de paixão pela alviceleste à descrença na cultura futebolística.

Quem também estava bastante feliz com derrota da equipe de Messi, era o francês David Quéré, arquiteto de 31 anos que há dois mora na Argentina. "Agora eu quero voltar para ver uma partida da França porque não é a mesma coisa. Você pode estar com amigos aqui, mas sempre é melhor quando você está com os companheiros de sempre", confessa.

Tendo sido casado com uma argentina durante 4 anos, David aprendeu a gostar da seleção do país, torcendo por ela em várias ocasiões, com exceção de quando o duelo é com a França. "Nesse caso não dá!", pontua. "De qualquer forma, eu estou triste pela Argentina. A França mereceu mais ganhar esse jogo, mas depois não acho que eles estejam bem o suficiente para ganhar a Copa", conclui.

E se para uma casal franco-argentino é difícil, imagine para um composto para um argentino-brasileiro? Esse é o caso da jornalista Aline Boueri que vive no país há quase 10 anos. Casada com um argentino e com uma filha de apenas 4 anos nascida no país, ela conta que viveu a derrota da Argentina com tristeza, mas com certo alívio.

"Nossa, é a minha terceira Copa aqui e, cada vez que começa o Mundial, eu só penso em como seria difícil ver o Brasil jogar contra a Argentina. Meu marido e eu sempre fazemos as contas para avaliar as possibilidades das seleções se encontrarem", explica. "É o meu pior pesadelo futebolístico", desabafa. Pesadelo esse que, por enquanto, ficou só para 2022.

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