Argentina esquece planejamento e abraça a anarquia para seguir viva na Copa
Troque tática por coração, organização por raça e esquema tático ideal por jogue a bola no camisa 10 que ele resolve. A Argentina talvez nunca tenha sido tão Argentina em uma Copa do Mundo como na Rússia em 2018. Um país que vive o futebol à beira da loucura, e que decidiu brigar pelo título mundial, contra qualquer lógica, com uma desorganização fora e dentro do campo e apoiada na paixão.
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"O que senti como técnico da Argentina foi que os jogadores amam muito essa camisa, e que farão de tudo para vencer", disse o técnico Jorge Sampaoli na véspera da decisiva partida deste sábado contra a França, pelas oitavas de final do Mundial.
O problema, para ele, é que esse amor todos de seus atletas se transformou em rebeldia. Ninguém fala com todas as letras, Mascherano foi o que chegou mais perto ao admitir que dá suas opiniões, somente opiniões, ao treinador, mas os jogadores decidiram que era hora deles mesmos definirem o esquema tático da equipe.
Chega do 3-4-3, ou 4-2-3-1, que Sampaoli tentou implementar nas primeiras rodadas. Para enfrentar a Nigéria no decisivo jogo final da fase de grupos, e que deve se repetir contra os franceses, a tática é o tradicional 4-4-2, com um detalhe importantíssimo: a prioridade é dar a bola para Messi. Jogue no 10 que ele resolve.
E não só com a bola nos pés, como imagem flagrou contra os nigerianos. Sampaoli, em certo momento do segundo tempo com o jogo 1 a 1, e a Argentina naquele momento voltando para Buenos Aires, pergunta a seu capitão se deveria colocar Aguero. A resposta foi positiva, e Kun entrou. "Não vi a imagem, e não lembro desse exato momento. Mas o que converso com meus jogadores é muito pessoal", desconversou Sampaoli.
O que podemos chamar de anarquia argentina, porém, não se resume a decisões extracampo. Dentro das quatro linhas, quando a situação parecia irreversível, o time apelou para a tática "todos ao ataque". O gol salvador que classificou o time para a semifinal foi feito com um cruzamento de um lateral que já atuava como zagueiro, Mercado, mas que avançou até a linha de fundo. Ele encontrou a finalização, de primeira, de um zagueiro, Rojo, que deveria estar na lateral-esquerda, menos onde estava naquele momento.
"Quero um time com vontade, com coração", pediu Sampaoli antes de encarar os franceses. Não há dúvida que, esse time, ele terá.
Opostos
Se houvesse uma definição precisa para definir o confronto entre França e Argentina poderia ser ago como "Messi contra a rapa". Se a Argentina joga quase sem tática, no bumba meu boi, e apostando todas as fichas na genialidade de seu camisa 10, os franceses têm, digamos, um time de futebol. E bom.
Não há um cracaço como Messi, ou nem perto dele, na França. Tem muitos bons jogadores, como Griezmann. Mbappé, Dembelé, Pogba, que forma um time coeso, tático e técnico. Verdade que não brilhou até agora no Mundial, com vitórias protocolais contra Austrália e Peru, e um empate sem graça contra a Dinamarca. Mas os franceses têm algo que os argentinos não têm: organização.
"Temos que ficar com a bola nos pés o máximo que pudermos, para não dar chance de a França contra atacar. Eles têm, do meio para frente, atletas que podem definir rapidamente.Não se pode comparar os trabalhos porque [Deschamps] está no comando há seis anos", disse Sampaoli, talvez traduzindo opinião que seus parte do elenco, seus novos auxiliares, também tenha.
Resta saber até que ponto o caos argentino pode prevalecer sobre a aplicação francesa. Difícil prever, mas já tem argentino comparando a campanha de 2018 com a de 1990, quando o time capengou na fase de grupos, e depois foi batendo favoritos (Brasil, Iugoslávia e Itália), até perder a final para a Alemanha.
Há coincidências: o time dependia de um camisa 10, Maradona, e jogava na loucura, muito mais com o coração do que a razão. A cara do futebol argentino.
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