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Rodrigo Mattos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Liga só discute dinheiro e não fala sobre como desenvolver Brasileiro

Taça usada no Brasileirão 2022 - Divulgação
Taça usada no Brasileirão 2022 Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

29/05/2023 04h00

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Durante a semana, a Libra conversa sobre mais uma mudança na fórmula de divisão de dinheiro do Brasileiro. Desta vez, pretende estender garantias para outros clubes além de Flamengo e Corinthians para atrair a Liga Forte Futebol. O debate que se arrasta há mais de dois anos só trata de dinheiro e não de como melhorar o Brasileiro.

Em junho de 2021, os clubes da Série A anunciaram a intenção de fazer a Liga para controlar o Brasileiro. Foram à CBF para comunicar essa ideia. A ideia era já ter parte na organização do Nacional em 2022.

A partir daí, houve brigas entre dirigentes e negociações com um fundo para investir na Liga, que fracassou. Evita-se de início falar de divisão de dinheiro.

No meio do ano seguinte, uma parte dos clubes fundou a Libra. Uma outra parte dos times sentiu-se desprestigiada e fundou a Liga Forte Futebol. Iniciou-se um debate feroz por divisão de receitas, com duas posições antagônicas. E também foram entabuladas negociações com investidores (Mubadala e Serengetti) para compra de parte da Liga.

Em maio de 2023, o acordo entre os clubes por uma divisão de receitas parece bem mais perto do que antes, e há dirigentes otimistas. Na sexta-feira, aprovou-se nova fórmula. É possível que os grupos se unam para formar de fato uma Liga.

Aí fica a pergunta: que liga é essa? Em dois anos, os clubes debateram quase nada sobre qual campeonato querem: qual será sua duração em meses? Como se encaixa no calendário? Quem controla a arbitragem e a parte disciplinar? A regra de Fair Play (que está em elaboração) será válida a partir do dia 1º? Quais serão as regras para gramados e estádios?

O dinheiro, óbvio, é importante. Mas só haverá mais receita para justificar a criação de uma Liga se houver um produto melhor para ser vendido. O Brasileiro não está atrasado só na parte comercial, ele está atrasado no desenvolvimento como objeto a ser vendido.

Há várias projeções de qual será a receita da Liga — R$ 4 bilhões por ano é a estimativa mais usada na Libra. Mas como essas análises podem chegar perto de um valor real se não se sabe qual o produto? Se o Brasileiro tiver 7 ou 10 meses, a depender do calendário, seu valor muda. Se tiver clubes saudáveis financeiramente por Fair Play, capazes de investimento, estará valorizado. Se houver gramados e torcida melhor tratados, os jogos serão mais atrativos.

Parece que essas questões são menores perto da divisão de dinheiro, mas não são. Não é fácil desenvolver uma Liga até o alto nível, demora anos, é preciso expertise, trabalho duro. Pouquíssimo foi feito até agora e falta um ano e meio para o suposto ano zero da Liga, em 2025.

Esse desenvolvimento do produto, aliás, deveria ser feito antes de uma venda para um investidor. Porque o campeonato já montado valeria mais. Ok, isso não vai acontecer, os contratos já estão avançados para fechar. Mas quando os clubes vão de fato trabalhar para criar o "novo Brasileiro"?

Por que só haverá mais dinheiro de fato para os clubes, com venda turbinada de direitos de TV e comerciais, se houver um produto de alto nível. Por que a Globo pagaria muito mais por um campeonato igual ao atual? Por que outras TVs investiriam bilhões em algo que não se sabe como funcionará? Um ano e meio para vender direitos é pouco tempo. Até agora os clubes estão negociando e vendendo nuvens.