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Rodrigo Mattos

REPORTAGEM

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Diretor da Globo sobre volta da Liberta: 'Turbulências levam a novos rumos'

Head de Direitos do Esporte do Grupo Globo, Fernando Manuel, em evento na CBF - CBF
Head de Direitos do Esporte do Grupo Globo, Fernando Manuel, em evento na CBF Imagem: CBF

31/05/2022 04h00

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Depois de dois anos sem a Libertadores, por romper o contrato anterior, a Globo retomou os direitos de transmissão da maior competição continental para o próximo ciclo, de 2023 a 2026. Essa volta ocorre em novo modelo, com exposição de patrocinadores da Conmebol e maior variedade de times na TV Aberta.

Em entrevista ao blog, o chefe de direitos esportivos da Globo, Fernando Manuel, explicou que o período de "turbulências" levou a emissora a "novos rumos" na exploração da competição. Explicou que a mudança foi possível porque foi criada uma outra forma de exploração comercial individualizada da competição, em vez de dentro de um pacote com patrocinadores para o ano inteiro.

O executivo analisa que a decisão de romper o contrato da Libertadores se deu em meio ao contexto nada corriqueiro da pandemia com a paralisação de campeonatos de futebol. Evita falar em erro ao ressaltar que a medida só pode ser entendida em um cenário específico de crise.

O valor estratégico da Libertadores da Globo reflete um cenário de escolhas de menos competições com jogos prioritários e mais atrativos. Neste quadro, encaixam-se campeonatos nacionais e internacionais, como Brasileiro, Libertadores e Copa do Brasil, cujo contrato acaba em 2022. E deixam em segundo plano os Estaduais. Não dá para buscar tudo, diz Fernando Manuel.

Veja abaixo a entrevista em duas partes com o executivo da Globo. A segunda será publicada amanhã (1°):

Blog: Qual a importância da recuperação da Libertadores na estratégia da Globo para transmissões de esporte? Com a volta da Libertadores, a Globo pretende refazer seu pacote futebol do ano, aumentando o número de jogos anual?

Fernando Manuel Pinto - Voltar a transmitir a Libertadores é fantástico, claro. A Globo já exibiu jogos históricos desse e de outros eventos e vem mais por aí. As áreas que lidam com programação e comercialização na Globo saberão levar da melhor forma a Libertadores ao público e aos parceiros comerciais. Pelo cenário que se estabeleceu com a Conmebol, haverá um formato de entrega diferenciado para a Libertadores.

Blog: Para recuperar os direitos, a Globo precisou fazer um acordo com a Conmebol pela rescisão do acordo anterior. Com esse desenrolar de fatos, como a Globo avalia retroativamente a decisão de rescindir o compromisso anterior durante sua execução por conta da pandemia? Foi um erro?

Fernando Manuel - De maneira geral, acordos são feitos considerando o que está na mesa, e não exatamente o que ainda está por vir, nem refletem o objetivo de apenas um dos lados. Poderia ter acerto sobre o passado e não ter entendimento sobre este próximo ciclo, 2023-26, por serem processos separados, certo?

Fato é que a relação com a Conmebol e com demais stakeholders do futebol é importante para a Globo, institucionalmente falando. Da mesma forma, Globo é importante no ecossistema também.

Para não te deixar sem resposta sobre o passado: usando aqui o exemplo da condução de um veículo, é difícil julgar algo que só quem tem as mãos no volante ou no guidão pode decidir. O ângulo de quem está fora do veículo ou mesmo a bordo nunca é igual e nem enxerga exatamente o que quem está dirigindo vê e tem que decidir a partir daí. Enfim, decisões consideram o contexto nas quais são tomadas e devemos reconhecer que aquele não era corriqueiro, com toda a crise e paralisações da pandemia, né?

Blog: Pelos novos contratos da Libertadores, a Globo se adaptou a novas condições como expor patrocinadores da Libertadores durante os jogos. Por que a Globo decidiu mudar sua postura em relação a essa política? Como lidar com possíveis conflitos entre patrocinadores da emissora e da Libertadores no mesmo setor?

Fernando Manuel - Então, turbulências, às vezes, levam a novos rumos... A dificuldade para abraçar o formato da Libertadores em ciclos passados, da mesma forma que Globo faz, por exemplo na Copa do Mundo, era o fato do produto estar no pacote geral do futebol. Ocorre que sem Libertadores mas com grande competência, a Globo reorganizou a oferta do futebol nos últimos anos. A volta da Libertadores representa um produto novo e específico, sujeito a condições inerentes ao novo modelo de parceria com o promotor.

Blog: Outra novidade no contrato da Libertadores é a questão da rotação de jogos de times na fase de grupos, não pode haver repetição de times. É possível que a Globo use times de fora do eixo do Rio-SP nas transmissões em TV aberta? Há perda de valor por não se poder escolher qualquer time livremente?

Fernando Manuel - Comparando com o passado, tem um pouco de 'seis e meia dúzia' nisso aí. Como ocorreu antes, Globo transmitirá dois jogos por rodada na fase de grupos, o que representa que, sim, provavelmente teremos jogos de clubes fora do eixo Rio-SP, o que é excelente. A rotação de times a que você se refere também já existia na prática. Futebol brasileiro é forte, grandes clubes que historicamente se alternam em protagonismo, atendendo suas próprias torcidas e gerando interesse das rivais também. Estamos felizes com o modelo de escolha de jogos, trabalharemos com a Conmebol pelo objetivo comum de maximizar audiência e fortalecer ainda mais a Libertadores.

Blog: A Globo passa a ter o Brasileiro da Série A praticamente inteiro após comprar jogos que antes eram da Warner e a Libertadores em TV aberta para 2023. O contrato da Copa do Brasil acaba neste ano de 2022. Haverá interesse em manter a Copa do Brasil? A Globo já recebeu uma sinalização da CBF de como será a negociação?

Fernando Manuel - Pois é, demos importantes passos numa improvável consolidação dos direitos da Série A, dado o cenário posto em 2016. Havia uma fragmentação já estabelecida. Alguns clubes com direitos já contratados de forma bem diferente com a Turner e com a própria Globo. Aquele quadro poderia ter dividido de forma significativa os clubes conforme sua situação de direitos. Perigoso.

A consolidação foi possível graças a disciplina e fé da Globo na construção de um modelo coletivo de contratação junto aos clubes nesse ciclo 2019-24, ainda que tenha sido necessário fazer isso clube a clube e foram 41 acordos, espalhados no tempo e em contextos que variaram também. Mudou até a lei. Sobre a Copa do Brasil, logicamente interessa a Globo. É um grande produto. Vamos trabalhar, fazer o melhor possível para tentar a sequência da parceria com CBF, respeitando o processo de venda que se apresentar.

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