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Por que Abramovich abre mão de R$ 10 bilhões na venda do Chelsea
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Em comunicado, no site do Chelsea, o dono e russo Roman Abramovich confirmou sua intenção de vender o clube. A atitude tem relação com a pressão de políticos ingleses para congelar os bens de bilionários ligados ao governo da Rússia em meio à guerra com a Ucrânia. Ao anunciar a venda, Abramovich disse que não cobrará o pagamento dos empréstimos pessoais feitos ao Chelsea e cederá o dinheiro da negociação para um fundo para vítimas da guerra.
"A venda do clube não será rápida, mas seguirá o processo normal. Eu não vou requisitar que nenhum empréstimo seja pago. Isso nunca foi sobre negócio ou dinheiro para mim, mas sobre a pura paixão pelo jogo e pelo clube", afirmou o comunicado de Abramovic. E acrescenta que cederá o dinheiro para uma fundação para as vítimas da guerra da Ucrânia, sem mencionar quais, nem condenar a invasão.
E de quanto o oligarca russo abrirá mão com essa operação? Por que ele tomou essa atitude? Tentemos responder as perguntas com números, cientes de que a estratégia de Abramovich ainda não está clara.
O balanço do Chelsea aponta para um clube com gastos acima de suas receitas, mas, teoricamente, equilibrado em relação a dívidas. Seu último ano - encerrado no meio de 2021 - registrou um déficit de 153 milhões de libras esterlinas (R$ 1 bilhão), mesmo com o título da Champions League. O clube teve receita de 434 milhões de libras (R$ 3 bilhões) e seu patrimônio é positivo.
É uma falsa impressão de que trata-se de um clube com a dívida reduzida. Todas as empresas do clube são controladas pela Holding Fordstam Limited, de propriedade de Abramovich. E essa companhia tem uma dívida de 1,5 bilhão de libras (R$ 10,3 bilhões) com o seu dono russo. Isso porque o clube sempre operou com injeções de dinheiro dele. Portanto, a Fordstam, cujo nome já foi Chelsea, tem um patrimônio líquido negativo quase igual ao valor do débito com o dono, segundo registros de empresas no Reino Unido.
Os empréstimos feitos podem ser cobrados por Abramovich para pagamento do clube em até 18 meses, o que ele já disse que não fará. Na prática, o Chelsea não tem como pagar se ele fizer essa cobrança.
Pois bem, reportagem do New York Times aponta que o russo começou a negociar o Chelsea pedindo valor em torno de US$ 2,5 bilhões (R$ 12,8 bilhões). Outra matéria da BBC fala em valor maior, 3,5 bilhões de libras. Suas conversas foram com o bilionário suíço Hansjorg Wyss e o norte-americano Todd Boehly. O suíço afirmou que Abramovich "está atualmente pedindo muito". Em seguida, lembrou o valor da dívida do clube com seu dono como um impeditivo.
O economista César Grafietti, especialista em banking e investimentos no futebol, diz que um clube costuma valer 3,5 vezes a sua receita, menos a dívida. No caso do Chelsea, esse valor multiplicado seria exatamente o valor do débito com Abramovich: 1,5 bilhão de libras. No entendimento de Grafietti, seria uma troca do clube por assumir a dívida. Assim, se ele cobrasse o débito, o Chelsea não valeria quase nada como injeção de capital.
Com a pressão de políticos ingleses para congelar seus bens, havia possibilidade de sanções ao próprio Chelsea ou ao dinheiro de Abramovich que gera injeções no clube, o que era o temor do russo. A venda salvaguarda o time. Além disso, é bem possível que os recursos recebidos pelo pagamento dos empréstimos fossem congelados como parte das medidas restritivas a oligarcas russos ligados ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, por conta da guerra da Ucrânia.
Em vez disso, Abramovich não receberá de volta seu dinheiro e promete dar o montante do lucro da venda para uma fundação. Não é explicado no comunicado do Chelsea quem vai controlar a fundação, nem qual será o critério para aplicação dos recursos. Mas, como Abramovich não será o dono e o dinheiro será para beneficiar vítimas da guerra, é bem improvável que o governo inglês congele o dinheiro. Destaque-se que o dinheiro destinado ao fundo será após custos.
Lembremos, em 2003, Abramovich comprou o Chelsea por 140 milhões de libras (R$ 960 milhões). O valor agora pedido para a venda do clube é no mínimo 13 vezes maior. E é suficiente para cobrir seus empréstimos.
Grafietti ainda ressalta que, no cenário atual, é difícil um novo dono valorizar mais o Chelsea para realizar uma segunda venda com lucro no futuro.
"Aquela velha história do valuation [avaliação do clube]. Qualquer avaliação indica que o clube vale no máximo a dívida com o controlador. Outra coisa: se alguém compra o Chelsea, qual o upside? Quanto mais você consegue fazer o clube crescer, considerando o ambiente competitivo e maior controle na gestão? Por isso o valuation é limitado, pois o retorno é também limitado", explicou o economista.
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