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Rodrigo Mattos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Flamengo esquece sua fartura e ganha à moda antiga como pobre sofredor

Gabigol e Gerson comemoram segundo gol do Flamengo diante do Inter - Thiago Ribeiro/AGIF
Gabigol e Gerson comemoram segundo gol do Flamengo diante do Inter Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

26/02/2021 01h45

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Não foi uma rodada final com vitória, foi com derrota. Não foi uma temporada que se possa emoldurar na parede, foi capenga, com troca de técnico, até ofendido por sua torcida. Não foi com folga, foi por um ponto, longe dos 90 pontos de recorde de 2019.

Foi o Flamengo de uns 10 anos atrás, não dominante, sofredor, que arranca no final do campeonato. Um Flamengo de briga, calcado nos seus talentos individuais. Um Flamengo que troca a roda do carro andando enquanto a torcida reclama que todos os parafusos estão no lugar errado. E não deixa de ter uma certa razão.

Quando entrou em campo para enfrentar o São Paulo, com sua tradicional camisa azul clarinho, Rogério Ceni parecia acreditar que bastaria repetir os planos executados desde que chegou ao Flamengo: "Vamos manter aí uns 70% de bola"… Sua crença é de que alguma forma o rio ia desembocar para o mar.

O que se viu foi um São Paulo diferente, defensivo, retrancado, com três zagueiros. Quase como se quisesse fazer uma declaração anti-Diniz. "Não estamos aqui para tocar a bola" De fato, impediu o Flamengo sem ideias de Ceni de jogar, Arrascaeta e Everton emparedados, Bruno Henrique travado, Gabigol inútil. O Flamengo era quase um Flamengo de Abel, do início de 2019, só bolas altas na área.

Mas o time que de fato era o de Abel, o Inter, também jogava assim. O Corinthians era eficiente, o Inter era inofensivo. O que se desenhava era um final de Brasileiro emocionante, tenso, "haja coração", e medíocre. E assim foi.

O São Paulo meteu seu gol com a batida de Luciano. O VAR era, mais uma vez, decisivo em Porto Alegre. Gols bem anulados por impedimento, e um pênalti discutível de mão de Ramiro com braço apoiado. Especialistas em arbitragem dizem que era penal, não li todos os compêndios de detalhes sobre a anatomia do movimento do braço em jogo de futebol para saber. Seu braço estava apoiado no chão,, o que tiraria o pênalti, mas há de se determinar com esquadro o ângulo do braço para ter certeza. Deixo com os especialistas.

Ceni seguia mal, sem mexer no Flamengo infértil como terra do Pantanal em era Bolsonaro. Abel jogava seu time com as armas que tinha, o futebol do Inter é ainda mais pobre do que o rubro-negro neste ano. Mas não se pode negar o ímpeto colorado, tentou de todas as formas com suas limitações, e meteu bola na trave, tentou pelo alto, chutou por cima. Pode-se dizer que só não meteu um gol por essas casualidades do futebol.

Enquanto isso, esquecido do seu futebol, o Flamengo torcia. A cena final é de seus jogadores, já derrotados em campo, assistindo aos lances do jogo do Inter no celular da repórter da Globo, Julia Guimarães.

Lembrou 2012 quando o time rubro-negro esperava no campo o resultado de outro jogo para saber se classificaria à segunda fase da Libertadores. Naquela ocasião, houve frustração, choro. Agora, só gritos, alívio e libertação. Um Flamengo à moda antiga levou o seu octampeonato e tornou-se o maior campeão do Brasil. Só faltou um sujeito jogar um urubu em campo da geral. A pandemia não permitiu.