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Rodrigo Mattos

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Inter perdeu na bola do Flamengo enquanto se concentrava em culpar o VAR

Rodinei após ser expulso contra o Flamengo - Thiago Ribeiro/AGIF
Rodinei após ser expulso contra o Flamengo Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

22/02/2021 04h00

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Primeiro lance de ataque do Internacional: Yuri Alberto tenta um chute e é travado. A delegação colorada, composta por cerca de 50 pessoas, começa a dar gritos histéricos do camarote do Maracanã tentando pressionar a arbitragem por uma falta. Foi uma tônica do jogo, respondida com quase a mesma exaltação por cartolas rubro-negros, um deles quase quebrou um vidro do estádio.

A diferença é que o Inter concentrou-se em reclamar de cada lance, de cada VAR, e foi aos poucos esquecendo de jogar bola. Sim, talvez tenha faltado alguém avisar: o futebol ainda se ganha jogando.

E faltou bola ao Internacional para bater o Flamengo. Não, não foi a expulsão do Rodinei (discutível), ou uma eventual falta de cartão amarelo para jogador rubro-negro, ou um pênalti ignorado na rodada XYZ. O time colorado jogou menos do que a equipe rubro-negra e, vejam só, por isso perdeu.

O início de jogo até foi melhor do Inter. Pressionou o Flamengo com uma marcação a partir do meio-campo, impôs um jogo físico eficiente e saiu em velocidade. Ameaçou mais e chegou a um gol em um pênalti claro cometido por Gustavo Henrique em puxão sobre Yuri Alberto.

O Flamengo não se achava no jogo, não criava e perdia a competição no meio. Mas tem jogadores brilhantes. Quanto o Inter sairia de um ataque, Filipe Luís retomou a bola, Bruno Henrique passeou sobre Rodinei e Arrascaeta encostou para o gol como quem traça uma linha com esquadro na área até o canto da meta.

O jogo se equilibrou, o Inter seguia marcando forte e saindo em velocidade, o Flamengo achava espaços entre as linhas coloradas. Tudo empatado em um primeiro tempo, sem ser brilhante, competitivo.

Até que Rodinei, que quase metera um gol, deu um pisão no tornozelo de Filipe Luís. Raphael Claus foi ao VAR e lá o lance sempre se acentua em intensidade. Era uma jogada que fica na zona cinzenta, a pisada é feia, mas não é intencional. Poderia dar amarelo ou vermelho. No VAR, Claus expulsou e disse, na súmula, que ele pôs a integridade física do lateral em risco.

É um lance marcado tipicamente pelo VAR pelo detalhe. Como também é um lance de VAR o empurrão de Pedro no zagueiro colorado que anula seu gol no final do jogo (entendi como correta a anulação). Outros lances só marcados com VAR são os pênaltis marcados para o Internacional contra Grêmio e Red Bull em rodadas recentes. Assim como seria lance de VAR o impedimento (ou não) de Dourado no gol feito diante do Vasco - ali não havia VAR por descalibragem.

Certo é que o escândalo protagonizado pelo Inter ao final do jogo - seu vice falando em jogo "surrupiado" - é de quem quer ver um VAR que ligue e desligue conforme sua conveniência. "Agora é para mim, liga. Agora, não, desliga" Não é uma exclusividade do Internacional. Todos os clubes brasileiros têm agido assim: só querem as mudanças das marcações proporcionadas pelo VAR quando são a seu favor, e não contra. Óbvio que há problemas no sistema - já foi dito aqui -, mas os clubes só focam em casos pontuais e não na falha geral.

Feito esse aposto, ainda havia quase um segundo tempo inteiro. Em qualquer lugar do mundo, é difícil, porém possível jogar com um a menos e atacar. O Inter recuou e tomou um gol em mais uma jogada de talento individual rubro-negro. Arrascaeta enfiou para Gabigol que tocou na saída de Lomba. Deve ter sido o VAR que passou a bola.

Os dois técnicos, Rogério Ceni e Abel Braga, erraram nas suas mudanças. Ceni desarrumou o time quando tirou Isla por Pedro, a ousadia era boa, a forma equivocada. O time só se achou quando ele recolocou um lateral em João Lucas após saída de Gabigol.

Já Abel, em desvantagem, passou a empilhar jogadores em sua linha de frente. Eram quatro na frente que ficavam recebendo esticões aleatórios lá de trás, típico do estilo de Abel que adora esse jogo direto. Edenílson tentava construir um jogo de meio-campo sozinho depois da saída de Patrick. Essa falta de repertório fica esquecida após a expulsão. Mas foi o que proporcionou conforto ao Flamengo no final do jogo com Gustavo Henrique se redimindo do pênalti inicial com 815 rebatidas de cabeça por minuto.

Tanto que foi o time rubro-negro que teve as duas melhores chances com Bruno Henrique e Pedro, esta anulada. No final, ganhou o time que criou mais, que chutou mais, que mostrou mais talento, mais futebol. Por isso, chega em vantagem à rodada final do Brasileiro, embora isso esteja longe de ser garantia de título. Obviamente a gritaria da cartolagem não vai querer lembrar esta realidade.