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Rodrigo Mattos

América-MG negocia com investidores clube-empresa para ser time de Série A

Lance do confronto entre América-MG e Cruzeiro, pela Série B, no Independência - Fernando Moreno/AGIF
Lance do confronto entre América-MG e Cruzeiro, pela Série B, no Independência Imagem: Fernando Moreno/AGIF

12/12/2020 04h00

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Na segunda posição na Série B, próximo da volta à elite, o América-MG desenvolve em paralelo seu projeto de clube-empresa cujo objetivo é se tornar um time estável na primeira divisão do Brasileiro. Já há negociação com investidores e um modelo de gestão. A ideia é usar os recursos para turbinar o CT do clube, formação de atletas e o investimento em elenco.

Terceiro em torcida em Minas Gerais, o América-MG tem uma receita que varia entre R$ 30 milhões a R$ 60 milhões dependendo de estar na elite do futebol brasileiro. O orçamento é modesto para se manter na Série A. Mas o clube tem um CT, um estádio, uma propriedade comercial e expertise em formação de atletas.

Em relação às dívidas, os números do balanço mostram R$ 80 milhões de débito líquido. Só que, deste total, a diretoria ressalta que de fato pesam sobre o clube R$ 70 milhões, sendo que R$ 60 milhões são débitos com o governo que já estão parcelados ou em negociação. Ou seja, resta um passivo menor de R$ 10 milhões de fato a ser quitado.

Neste cenário, a diretoria do clube vê como um cenário ideal para o clube passar a gestão para a empresa e aproveitar um cenário em transformação do futebol brasileiro.

"Fui presidente a primeira em 1996 até 2000. Neste intervalo, fui procurado por pessoas para transformar o clube em empresa. Não consegui na década de 90 porque a cultura era muito arraigada de que iríamos vender o clube. Lá atrás, era um clube enxuto, sem dívida e próximo de Atlético-MG e Cruzeiro. Para ser competitivo, tem que ter um orçamento de padrão de Série A. Não consigo ter, teria que ter receita muito superiores as que tenho. Não tenho poder no ppv, não tenho material esportivo", explicou o presidente do Conselho de Administração do América-MG, Marcus Salum.

"Fico naquele esquema de visitante da Série A. Com muita competência, bato orçamento de R$ 80 milhões ou R$ 90 milhões e não é suficiente para a Série A. Precisa de R$ 150 milhões."

Salum reconhece que o projeto de clube-empresa, em si, não é bom ou ruim, depende como é gerido e quem está atuando. Por isso, o América-MG contratou a consultoria EY e uma firma de advogados para traçar o seu projeto. A partir daí, foram procurados investidores. Já foram assinados documentos de confidencialidade com alguns grupos interessados em que as conversas avançar em direção ao projeto.

"(Vai estar incluído) Direito de uso de tudo do meu CT, do estádio. A nova empresa vai levar todos os direitos de jogadores, de disputar o campeonato, a parte associativa vai manter um percentual. Ainda não tenho os percentuais, pode ser 60% a 40, ou se vai ser meio a meio. Apresentamos aos investidores com todas as informações", disse Salum.

"Nossa preferência é por pessoas envolvidas no esporte que possam agregar alguma coisa, que já investem, que já tem expertise no futebol. Segunda hipótese são fundos de investimento. Em princípio, não gostaríamos. Alguns nos procuraram. Por que todos vêm com investidor de fundo que não sabemos quais. Por isso, damos preferência para gestores de clubes de fora", completou. Embora não exista um veto, não é considerado ideal que seja feita parceria com empresários de jogadores.

Para ser confirmada, qualquer transformação em clube-empresa implicará em aprovação pela assembléia geral e pelo Conselho Deliberativo do América-MG. Serão esses órgãos que terão de dar o aval para o projeto.

E como funcionará a gestão do clube-empresa se tudo der certo? A empresa terá um Conselho de Administração com três pessoas, uma representante dos investidores, uma do clube-associação e outra contratação. Abaixo deles, um CEO que de fato administrará o clube.

Ou seja, na pergunta básica: quem define o técnico do time ou se interessa executar determinada contratação de jogador no América-MG empresa? Será o CEO. Depois, responderá por sua gestão ao Conselho que poderá demiti-lo em caso de insatisfação. O administrador só não poderá exceder determinados parâmetros como estourar orçamento em mais de 20%.

Há outras cláusulas para proteger o América-MG em caso de má gestão ou de a parceria não funcionar como o esperado. "Estamos bolando umas cláusulas de saída. Meu medo é incompetência, desonestidade do investidor. Só vou saber depois que me associar. E vou criar Golden share, não pode mudar nome, camisa. Tem que ser o América que é respeitado", disse Salum.

A ideia do dirigente é que o projeto esteja encaminhado no final de fevereiro quando acaba sua gestão. Assim, a empresa poderia passar a funcionar de fato no segundo semestre de 2021. Na CBF, é possível que a vaga nas competições só possa ser transferida no final do ano no recesso da temporada. E, com o projeto em curso, onde o dinheiro será investido?

"Tenho que acabar o meu CT que vai faltar uns R$ 20 milhões para acabar. O investidor que bancaria. Não vou falar o valor que queremos de investimento, embora tenha esse número. Só vou falar na mesa de negociação. Tenho números e parâmetros. Respondi várias perguntas dos investidores, tickets médios, despesas", contou Salum.

O valor do investimento depende de quem será o grupo com quem o América vai fechar. Além do CT, o dinheiro seria basicamente para zerar a dívida privada e o restante para investimento no futebol. O foco do clube é acentuar sua característica de formador e revelador de atletas como Richarlison.

"'Richarlison vendeu por R$ 10 milhões. Se fizer mais dois ou três Richarlison? Tenho jogador na base do Flamengo, na do Athletico-PR. Tem que fazer parceria. Isso tudo é lucro para o investimento", contou Salum. "Vai tentar se transformar em um clube competitivo na Série A. Sonho é estar entre os clubes da Série A sem passar sufoco e sem ficar subindo e descendo. Para isso, tenho que ter mais investimento. Não é ser competitivo na Série A, de disputar título. Ser um time intermediário da Série A. Disputa ali no meio para passar o mínimo de dificuldade possível".

O presidente do Conselho do América se disse surpreendido positivamente pelo interesse dos investidores no projeto. Reclama que o processo no Brasil é lento até pela falta de legislação da transformação de clube-empresa. E ressalta que o projeto vai à frente mesmo que não seja aprovada uma nova lei.

Sua ideia é uma parceria que dure pelo menos dez anos, pode ser com um contrato desta duração ou com um acordo de cinco anos renovável. A provável promoção à Série A, claro, é um ativo que tornará o América-MG bem mais atrativo aos investidores. Se o time chegar a uma eventual final da Copa do Brasil, vaga que disputará com o Palmeiras, aí o quadro se torna obviamente mais positivo. Certo é que há um plano no time mineiro para tentar passar no funil que se desenha no futebol brasileiro em que marcas estão crescendo e outras, morrendo.