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Só Pelé supera Zagallo na história da Seleção Brasileira

A morte de Zagallo encerra uma das mais gloriosas páginas do futebol mundial. Um dos três únicos futebolistas do planeta campeões do mundo como jogador e técnico - os outros são o alemão Franz Beckenbauer e o francês Didier Deschamps - o Velho Lobo é também o maior ganhador de Copas com a "amarelinha" (58 e 62, como jogador, 70, como treinador, e 94, como coordenador). Um feito extraordinário, sem precedentes.

Em termos de seleção brasileira, somente Pelé, único tricampeão mundial como jogador, pode ser considerado acima de Zagallo, que disputou sete Copas do Mundo, deixando de ficar entre os quatro primeiros apenas na última, em 2006, quando era coordenador de Parreira (com quem conquistara o título em 94). Além disso ganhou as três taças, duas jogando, uma treinando, foi quarto, como técnico, em 74, e vice, em 98, também no comando da equipe.

Apesar de seu gigantesco e indiscutível sucesso, ele morre ainda contestado por muita gente que, incapaz de ver o óbvio, se escora em mentiras históricas como a que diz que foi João Saldanha quem armou o time do tri, Nada mais mentiroso. Além de uma mudança tática radical, saiu do 4-2-4 rígido para um 4-3-3 altamente rotativo, as simples escalações escancaram tal potoca.

Eis o time que Saldanha mandou a campo em seu último jogo oficial, contra o Paraguai, pelas eliminatórias, no Maracanã: Félix, Carlos Alberto, Djalma Dias, Joel Camargo e Rildo; Piazza e Gérson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Edu.

Comparem com a equipe de Zagallo, que goleou a Itália, na final do México, em 70: Felix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo: Clodoaldo, Gerson e Pelé; Jairzinho, Tostão e Rivelino.

São, ao todo, quatro jogadores diferentes e um em outra posição (Piazza). Além de uma disposição tática completamente distinta. Há que ser muito teimoso e fã de João Saldanha (e olha que sou) para não reconhecer os méritos de um e de outro.

O que o João sem medo fez, e teve grande importância, foi recuperar a autoestima da seleção após a humilhação na Copa da Inglaterra, em 1966. As "feras" do Saldanha serviram pra isso. Mas quem armou o time do tri foi mesmo Zagallo.

Conservador nos costumes e na politica, em seus bons tempos, Zagallo foi um revolucionário no futebol, Como jogador, mesmo não sendo um craque (mas, não se iludam, tinha qualidades, sim), passou a cumprir uma função de terceiro homem de meio-campo que somente ele e Telê faziam, por iniciativa própria - ele pela esquerda, Telê pela direita. Eram pontas, mas recuavam para auxiliar o meio-campo na armação e no combate.

Nos anos 50, já eram formiguinhas que permitiam que os gênios da bola, como Garrincha, Didi, Pelé e outros tantos, tivessem mais liberdade para criar as jogadas que levavam seus times e seleções às vitórias,

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Como se não bastasse, Zagallo fez parte das duas melhores seleções brasileiras de todos os tempos: a de 1958, como jogador, e a de 1970, como treinador. Em suma, foi um gigante do futebol mundial. Descansa em paz, Velho Lobo. A amarelinha lhe será eternamente grata.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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