Rafael Reis

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Falência de empresa mostra fim de projeto milionário do futebol na China

Nos tempos em que a China ocupava o papel hoje desempenhado pela Arábia Saudita e tinha o campeonato nacional suficientemente rico para atrair jogadores consagrados da Europa, nenhum nome impunha mais respeito que o do Guangzhou Evergrande.

O clube, propriedade da Evergrande, uma gigante do setor imobiliário que teve ontem a falência decretada pela Justiça depois de acumular mais de US$ 300 bilhões (R$ 1,6 trilhão) em dívidas, chegou a vencer sete edições consecutivas do Campeonato Chinês e duas Liga dos Campeões da Ásia na década passada.

Mais que isso: atraiu nomes como os brasileiros Paulinho, Robinho, Ricardo Goulart, o argentino Darío Conca e o italiano Alberto Gilardino, além de dois técnicos vencedores de Copa do Mundo: Luiz Felipe Scolari (Brasil, 2002) e Marcello Lippi (Itália, 2006).

Auge

Fundado na década de 50 e comprado em 2010 pela Evergrande, o Guangzhou já era o time mais forte da China quando o governo resolveu transformar o desenvolvimento do futebol local em uma das suas prioridades e abriu as portas para a chegada dos astros internacionais.

Entre 2015 e 2018, recorte que representa o auge do investimento chinês na modalidade, o clube torrou nada menos que 234,6 milhões de euros (R$ 1,3 bilhão) só com a compra de direitos econômicos de jogadores.

O valor supera a quantidade de dinheiro gasta com reforços no mesmo período de várias forças intermediárias da Europa, como Porto, Benfica, Ajax, Aston Villa, Olympique de Marselha, Lyon e Zenit São Petersburgo.

Declínio

Na virada de 2019 para 2020, decepcionado com a grande quantidade de falência dos clubes e com a falta de evolução da seleção, o governo abortou o projeto de transformar a China em uma potência futebolística e criou uma política de teto salarial para atletas estrangeiros. Na prática, essa mudança de legislação "excluiu" o país do Mercado da Bola de elite.

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No ano seguinte, empresas perderam o direito de emprestar seu nome aos clubes dos quais eram donos. Com isso, o Guangzhou Evergrande virou simplesmente Guangzhou FC.

Simultaneamente, a Evergrande passou a sentir os efeitos da desaceleração da economia chinesa e de uma crise habitacional de proporções históricas, endividou-se e entrou em parafuso.

O Guangzhou, evidentemente, caiu junto com seu proprietário. Com cada vez menos dinheiro para investir foi vice-lanterna da Superliga em 2022 e acabou rebaixado para a segunda divisão. Na temporada passada, ainda mais pobre, não passou nem perto do acesso (ficou na 12ª posição entre 16 participantes).

Apesar do processo de falência da incorporadora, o clube ainda tem a Evergrande como acionista majoritária (56,71%) e controladora do seu projeto. O Grupo Alibaba detém 37,8% das ações, e o restante está espalhado entre vários proprietários menores.

Que fim levou o futebol chinês?

Depois dos anos de bonança financiados pela Evergrande e por outras grandes empresas locais, a China praticamente não conta mais com jogadores de renome internacional nos elencos dos seus clubes.

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A exceção é Oscar. O meia brasileiro, que brilhou no Chelsea e disputou a Copa do Mundo-2014, vai para sua oitava (e provavelmente última) temporada pelo Shanghai Port. O contrato do camisa 8, que vence em novembro, foi assinado antes das restrições salariais impostas pelo governo chinês e, portanto, está completamente fora da atual realidade financeira do país.

Coincidência ou não, o Port é o atual campeão da liga chinesa. E, mesmo sendo a força número um do futebol da segunda nação mais populosa do planeta, não conseguiu sequer passar das etapas preliminares da Champions asiática nesta temporada.

Aliás, a China só emplacou um time (Shandong Taishan) nas oitavas de final do torneio. Os outros representantes do país (Wuhan Three Towns e Zheijang) pararam na fase de grupos.

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • A contrário do publicado, a China é o segundo, e não o primeiro, país mais populoso do mundo. A informação foi corrigida.

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