Processado por Janja, conselheiro do Corinthians cita remédio e fake news
Após mais de um ano da determinação de sua citação pela Justiça de São Paulo, Manoel Ramos Evangelista, o Mané da Carne, conselheiro vitalício do Corinthians processado sob a acusação de ofender a primeira-dama do Brasil, Rosângela da Silva, a Janja, foi citado no final de janeiro.
Na última sexta (23), os advogados dele apresentaram a contestação no processo.
Janja cobra indenização de R$ 50 mil por danos morais, além de pedir uma retratação pública. Em rede social, ela foi chamada de "putana" pelo conselheiro corintiano. O episódio aconteceu em dezembro de 2022, antes de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomar posse como presidente.
Na contestação, a defesa de Mané alega que, por orientação médica, ele toma dois antidepressivos.
"Um deles, a Vortioxetina (nome fantasia Brintellix), tem importantes efeitos colaterais, podendo causar alteração do estado mental do paciente, conforme expõe a bula do antidepressivo. Assim, por vezes, ao utilizar o medicamento, o Requerido acaba por fugir do seu estado normal mental", diz trecho da argumentação apresentada pela defesa de Mané.
A tese dos advogados é de que, nessas condições de saúde, o conselheiro foi levado a erro em relação à primeira-dama ao receber conteúdo com fake news em seu WhatsApp.
"Com isso, o Requerido, um senhor de idade avançada, recebeu via WhatsApp uma imagem de uma montagem de uma mulher de lingerie vermelha com um cartaz na mão, com os seguintes dizeres: 'Puta também é gente, Aprosmig presente, Lula Presidente'. A montagem utiliza essa mulher e ao lado a foto da Requerente, dizendo: 'Janja antes, Janja depois", escreveram os advogados de Mané na contestação.
A conclusão da defesa é a seguinte: "Assim, resta claro que o Requerido, um idoso doente de 78 anos, em tratamento médico psiquiátrico, consumindo diariamente forte medicação antidepressiva, medicação essa que prejudica as suas faculdades mentais, infelizmente foi induzido ao erro com a montagem supracitada em tela".
Os advogados do conselheiro entendem que seu cliente não praticou ato ilícito e que não há dano a ser reparado.
Um dos pedidos da defesa é para que seja declarada a incompetência da Justiça de São Paulo para tratar do caso, com o encaminhamento do processo para Brasília, onde mora a primeira-dama.
Ao mesmo tempo, os advogados de Mané pedem que a demanda de Janja seja considerada improcedente.
Advogado
Segundo Diogo do Carmo Borges, do escritório de advocacia que defende Mané, o Borges e Zuliani Advogados, o conselheiro reconhece algumas das afirmações feitas em rede social apontadas no processo.
À coluna, ele afirmou que seu cliente estava sob o efeito de medicamento que ele precisa tomar e o deixa alterado.
"Isso não significa que o senhor Manoel não quer se retratar publicamente. Ele reconhece que se excedeu em algumas mensagens. Mas existem outras no processo que ele não reconhece [como sendo dele]", declarou Borges.
Newsletter
OLHAR APURADO
Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receberUma das mensagens anexadas na ação diz: "Vamos aguardar esses anos com o sapo barbudo e a putana da Janja e os quarenta ladrões juntos".
De acordo com o advogado de Mané, ele se encontrava hospitalizado na noite da última segunda (26).
Borges também afirmou que, no ano passado, intermediou a pedido de seu cliente um acordo com o escritório que representa a primeira-dama.
Ele diz que Mané se dispôs a fazer uma retratação e apresentou uma contraproposta para diminuir o valor da indenização. O advogado afirma que os representantes da primeira-dama não deram sequência às tratativas.
Com a apresentação da contestação, a Justiça vai abrir prazo para Janja se manifestar sobre as alegações de Mané.
Indagado por qual motivo a citação de seu cliente demorou tanto, Borges respondeu: "porque só agora a notificação foi enviada para a casa dele. Ele nunca se escondeu".
Advogada de Janja
Desde a semana passada, a coluna tenta contato com Valeska Teixeira Zanin Martins, advogada de Janja.
A primeira tentativa foi por telefone, no escritório dela. A funcionária que atendeu ao telefonema afirmou que a advogada não estava, mas encaminharia o recado para ela.
Sem resposta, este colunista enviou e-mail para Valeska no último dia 22, porém, não obteve resposta.
Nova tentativa foi feita na última segunda, pelo telefone do escritório. A mesma funcionária afirmou que a advogada estava em reunião e lembrou que o recado anterior havia sido entregue.
Política
Mané da Carne faz parte do grupo Renovação e Transparência, liderado por Andrés Sanchez e que está na oposição no Corinthians após a vitória de Augusto Melo na eleição de novembro do ano passado.
O conselheiro trabalhou com Andrés em seu gabinete nos tempos de deputado federal.
No Corinthians, ele coleciona acusações sem ter sido punido. Em 2021, Mané foi acusado de ataque machista contra a conselheira Analu Tomé.
No ano passado, o conselheiro Luiz Ricardo Alves disse ter sido vítima de fala racista de Mané durante reunião do Conselho Deliberativo. O caso não foi analisado até o final da gestão da Comissão de Ética e Disciplina do órgão que se encerrou com a troca na presidência do clube. Mané nega ter feito a ofensa racista.
Deixe seu comentário